Steven E. de Souza estava começando no ramo dos roteiros para cinema, e era visto como um prodígio, quando se viu obrigado a segurar um rabo de foguete: o produtor Joel Silver – tetralogia Máquina Mortífera, tetralogia Matrix – estava descontente com o roteiro de seu novo filme, 48 Horas. E contratou o jovem escriba para reescrevê-lo.
O problema: o diretor queria filmar o roteiro que o produtor detestava.
Enfim, Steven ia escrevendo e enviando as páginas através de um emissário – era inicio dos anos 1980, portanto ainda não havia emails.
Um tempo depois, Joel Silver o chamou em seu escritório, lhe deu algumas páginas para ler e perguntou: “Esse roteiro é seu?”
Ao que o jovem disse “não”, o produtor entendeu o que estava acontecendo. O roteiro do novato foi interceptado antes de chegar nas mãos do elenco. E isso era obra do diretor – ninguém menos que Walter Hill, dos filmaços Ruas de Fogo, O Limite da Traição e Alvo Duplo.
Steven passou a escrever no set, junto ao produtor, para irritação total do diretor.
Um dos ajustes que o jovem autor fez foi em relação ao protagonista: Nick Nolte estava fora de forma para um policial durão e com propensão à violência, mas o roteirista escrevia tendo em mente essa faceta do ator. Enquanto se pensava num policial alinhado às voltas com um ladrão pé-rapado, ele concebeu o contrário, com um policial com um carro caindo aos pedaços e roupas piores e um bandido alinhado, parecendo um cafetão na moda.
Havia ainda, claro, a discrepância cultural e racial, já que o bandido-parceiro do policial era um novato Eddie Murphy.
48 Horas chegou aos cinemas e criou o gênero policial, depois imortalizado em Máquina Mortífera: o da miscigenação racial.
Dez anos depois, Eddie Murphy era uma estrela. Já havia sido a maior em Hollywood e caído um pouquinho até aquele momento; depois, foi uma decadência interminável com algumas pausas.
E 48 Horas parte 2 mostrava exatamente essa inversão de posições, com Murphy sendo o grande nome por trás do filme.
E posso dizer sem pestanejar: embora Axel Foley seja o seu personagem mais conhecido, Reggie Hammond é o melhor personagem que Murphy encarnou.
Esqueça o príncipe Akeem, o Professor Aloprado e tantos outros. Murphy sempre soube interpretar malandros e transformá-los em pessoas divertidas, até de bem com a vida, mas também duronas.
E um terceiro 48 Horas se faz necessário.
Por quê? Porque é Reggie Hammond.
E porque ele estará com Jack Kates, personagem de Nick Nolte.
Foi Eddie Murphy quem telefonou para Walter Hill com a iniciativa de um segundo 48 Horas; o diretor tinha a impressão de que eles já haviam visitado aquele lugar e não teria necessidade para mais.
Mas, veio.
E nem tempo recorde. Em 3 de janeiro de 1990, começava a pré-produção e em 3 de junho, daquele mesmo ano, o filme chegava aos cinemas, na vaga de Dias de Trovão que havia se atrasado.
Agora, poderia ser Murphy novamente a tomar a atitude de uma reunião; ele está num momento de reconstrução e pode revisitar o seu Tira da Pesada a qualquer momento; então por que não um novo 48 Horas?
Nick Nolte disse uma vez que havia tido uma idéia para um terceiro, onde os papeis se invertem e a dupla está no terreno de Hammond. Mas isso nunca foi adiante.
Poderia ir agora.
Outro detalhe interessante é que, segundo a lenda, Murphy e Nolte improvisaram seus diálogos durante todas as filmagens de 48 Horas parte 2.
Quem sabe eles não o fazem novamente?
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