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A BALADA DE TALULA E DEIVID

Foto do escritor: Vagner FranciscoVagner Francisco


Close num copo plástico de 500ml.


Oito pedras de gelo despencam até ao copo.


Uma garrafa de Jack Daniels se abre e dela desce o líquido.


Os olhos de Deivid se arregalam.


Uma dose tripla de uísque. Quase meio copo.


Rômulo, o bartender, estica o braço com o copo na mão e, com indefectível sorriso, o oferece:


 – Dose tripla de Jack, no capricho.


Deivid sorri.


Deivid pega seu uísque e sai do estabelecimento.


Seu carro, um Impala 1959 conversível, o aguarda na porta.


A toda velocidade, Deivid cruza a cidade, na noite quente e movimentada. Ele vira esquinas, ultrapassa carrões e carrinhos, dirige quase que em ritmo de rock and roll.


Sempre com a mão direita no volante, a esquerda pendurada para fora, e o copo de uísque posicionado entre suas pernas.


Deivid vira uma esquina e vê uma garota escultural parada num ponto de ônibus.


Talula é aquele tipo de garota “matadora”: 1,70m, loira, cabelos longos e cheirosos. Magra, com belas coxas à mostra graças a seu curtinho shortinho. Uma blusa que valoriza os seios, e um par de sapatos scarpin. Seus lábios não destoam do restante, com um batom bastante chamativo.


Os olhos se encontram.


Ela não esperava. A conexão visual é feita. Deivid perde os movimentos do corpo por alguns momentos. Ele então para o Impala.


Dá marcha a ré e volta até à garota:


 – Oi. – ele diz.

 – Oi. – ela diz.

 – Posso te levar..? – ele pergunta.

 – Pra onde? – ela pergunta, desconfiada.

 – Pra onde você quiser.

 – Por que não? – ela dá de ombros e se dirige ao carro.


Depois, os dois estão dentro do carro, cruzando as ruas. Talula leva o copo de uísque. Deivid não consegue segurar o sorriso de satisfação.


Eles vêem a boate rock and roll, chamada “Na Calada da Noite” e param.


Na entrada, uma recepcionista do outro lado do balcão pergunta às pessoas na fila:


 – Documento com foto, por favor?

 – Por que eles querem meus documentos? – pergunta Deivid, atrás de Talula, no final da fila.

 – Segurança. – responde ela, com um sorriso de superioridade – Se você quebrar alguma coisa ali, eles saberão pra onde mandar a conta.

 – Só com um RG eles conseguem isso?! –ele pergunta admirado.

 – Você ta brincando, né? – ela pergunta, irônica.

 – Digamos que sim. – ele responde com um sorriso falso.

 – Você nunca veio aqui? – ela pergunta, enquanto vão caminhando na fila.

 – Não é um dos lugares que eu costumo freqüentar.

 – E quais são?

 – Onde eu vou, sempre tem cerveja barata, lingüiça frita e cadeiras de plástico.

 – Jesus Cristo! – ela exclama com expressão de desgosto.

 – Ninguém paga para entrar. – ele conclui, com um sorriso de quem é inteligente.

 – Disso eu tenho certeza. – ela mantém a expressão de desgosto.

 – É um local um pouco desclassificado.

 – Nem precisava dizer.


Eles então adentram a boate. Meio perdido/alienado/deslumbrado, Deivid olha para todos os lados.


 – Então… – ela pergunta – …o que achou?

 – Impressionante. – ele diz, ao ver o grande palco montado no centro da boate, com uma área VIP acima, e ao lado. A vista para quem quer acompanhar os shows é fantástica.

Eles sobem as escadas e chegam à área VIP da boate, onde estão as mesas de sinuca.

 – Uaaalaaaaa… – dispara Deivid, quase com a língua de fora, num estilo desenho animado.

 – Já vou avisando… – diz Talula – …sou péssima nisso.


Deivid se aproxima da mesa, passa a mão no interior dela e pega um taco de sinuca. Então olha para Talula e diz: – Eu te ensino.


A casa começa a encher. Muitas pessoas chegam. Mulhees bonitas e sensuais, caras fortes e estilo gangsta. Muitos casais, turmas, gente do todo o tipo.


A banda começa a fazer barulho.


Quem está próximo ao palco, quem está na área VIP, quem está sozinho ou acompanhado, está curtindo. Dançando, se pegando, bebendo, conversando e rindo.


Enquanto isso, Deivid tenta ensinar Talula a jogar.


 – Põe sua mão sobre a minha. – diz ele, com a mão espalmada sobre a mesa de sinuca.


Talula o faz, e fica na frente dele.


 – Assim? – ela pergunta.

 – Isso.

 – E agora?


Deivid passa por trás de Talula e segura a base do taco. Assim, ambos dão as tacada. O bumbum dela encosta na virilha dele, há uma vibração sensual no ar.


– Agora… – ele continua – …a gente dá uma tacada.


E a bola cai na caçapa do canto.

 – Aeeee!!! – ele grita, os outros freqüentadores olham. Talula fica meio receosa, mas entra no clima.


Eles se abraçam, ela passa os braços pelos ombros dele, que passa suas mãos pela cintura dela.


As faces se aproximam.


E um beijo caliente nasce.


Ironicamente, o vocalista da banda, lá embaixo, diz:


 – Essa é para os apaixonados.


Ele começa a cantar, sua banda o acompanha. Os casais se abraçam, beijam e curtem. Deivid e Talula não se desgrudam.

De manhã, o Impala vai chegando até uma casa no meio do quarteirão.


 – É aqui. – diz ela.


Deivid mantém-se sério. Talula quebra o gelo.


 – Então… a gente se vê. – ela ri.


Ele não responde.


 – Seu uísque. – ela o passa para Deivid.


Talula abre a porta do carro. Deivid reage: – Posso te pedir uma coisa?


Ela sai do carro, dá a volta por trás dele e vai até a porta onde Deivid está. Com o traseiro todo empinado, ela se debruça na porta do carro.


 – Quer o número do meu telefone? – ela pergunta com um sorriso bobo no rosto.

 – Ahn… na verdade eu queria saber o seu nome. – ele ri.


Ela franze o cenho.


Ele continua: – Quero te add no Facebook, só pra te cutucar todos os dias.


Ele ri.


Ela cai na gargalhada.


Ela fica em pé novamente e diz: – Talula.


Ela volta, o beija e se afasta.


 – A você, Talula. – ele ergue o copo, em saudação. E o bebe.


Talula caminha até ao portão, com um evidente sorriso no rosto.


Deivid sai com seu carro. A mão esquerda no volante, a direita segurando o copo com a dose tripla de Jack Daniels.


Logo, ele se perde no tráfego.

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