Todo mundo gosta de um pouco de competição. É saudável. É legal. E é divertido. Pelo menos quando a competição é amigável.
Me lembro de duas bem legais. Bom, UMA legal. A outra, nem tanto assim.
Em 2006, eu trabalhava num escritório às portas da falência. Era um escritório de fins comerciais e todos nós ganhavámos comissão.
No quadro de vendedores, teríamos que estar numa equipe de doze a quinze. Mas estávamos em dois. Um amigo que veio de São Paulo, e eu.
O dono do escritório, que aparecia esporadicamente por lá, chegou com a \”contratação do ano\”, cantando aos quatro-ventos, arrancando suspiros da secretária: ele havia conseguido o novo campeão de vendas da empresa. O nome do camarada era Arnaldo.
Arnaldo era um homem de meia-idade já, com um bigode estilo Tom Selleck [ou seja, bem anos 80] e no terceiro casamento. Sério! Taí uma coisa que vendedor faz bastante, além de vender:
casar.
É difícil encontrar um que ainda está no primeiro casamento.
Mas Arnaldo, embora fosse um grande ególatra, era um cara legal. Lógico que o apelidamos de Galvão. Porque Arnaldo [César Coelho] não combinava com ele; Galvão tinha mais a ver.
Então, Arnaldo chegou ao escritório, com a terceira mulher a tira-colo, sorrindo muito, já arrastando uma asa pra nossa secretária e ligando o alerta da esposa. O patrão o apresentou com pompa e circunstância e foi bem divertido porque enfim tínhamos uma festinha no escritório – outra dessa, só quando a secretária saiu, e eu acabei nem participando.
Já na festinha de apresentação, com Arnaldo ganhando ares de campeão, meu amigo o desafiou pra ver quem vendia mais.
Arnaldo gaguejou, titubeou, e fugiu do desafio.
Aquela foi a primeira e última vez que Arnaldo entrou no escritório. E meu amigo o venceu por W.O.
Tempos depois, fui trabalhar noutras empresas e, em todas elas, Arnaldo havia deixado sua marca. Não sei por onde ele anda atualmente, mas deve estar na ativa ainda. E na oitava ou nona mulher.
A segunda história:
Em 2009 fui trabalhar num desses escritórios comerciais – os mesmos de sempre, aos quais eu continuo a representar até hoje. Contrataram três vendedores. Uma mulher, um homem e eu.
O gerente não havia se convencido de que eu era capaz de realizar a função, mesmo tendo um histórico de vendas – faço isso desde 2005. E o outro homem, com a mesma idade que eu, também não havia feito nada que trouxesse paz ao nosso superior nessa hierarquia. Já a mulher, era uma aposta.
Mas apareceu um jovem rapaz, de terno e gravata, que dizia conhecer todos os empresários da região. E prometeu que venderia mais os produtos [naquele caso, tecnologia] do que pão quente de manhã. O gerente se apaixonou pelo menino. Profissionalmente falando, claro.
E estaria tudo certo, se não fossem por duas coisas:
1ª – o menino começou a se aproveitar da situação. 2ª – o gerente declarou seu entusiasmo por ele, desprezando a nós, outros três.
Aquilo causou mal-estar na equipe. Mas o pior nem foi isso.
O menino acabou por trabalhar vinte dias e por desrespeitar o próprio gerente, foi dispensando.
E depois? Como ficaria a relação do gerente com nós três?
Não ficou. O outro cara e eu pedimos demissão. A mulher, que era uma aposta, não vingou. E a equipe comercial se acabou em três meses.
Mas por que estou declarando tudo isso? Porque cada um é cada um. E muitas pessoas acham que, com um pouquinho de puxa-saquismo [ou entusiasmo exagerado perante o patrão] as portas se abrem mais facilmente. Até abrem, mas por um tempo apenas.
Na minha opinião, bajulação não leva a nada. Nem mesmo em nome de uma disputa.
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