Talvez você nem saiba, mas o cara que encarnou Jonathan Kent no último filme do Super – é, eu não o vi, por isso nem vou comentar – foi um dos astros que mais apitavam em Hollywood.
Claro, isso no final dos anos 80, até a metade dos 90.
Começo até tardio, já que ele estava na casa dos 30 quando atingiu o primeiro time, mas Kevin Costner já vinha com grandes produções e atuações, como os filmes de baseball – mas distintos em mote e gênero – Sorte no Amor e O Campo dos Sonhos; no thriller, Sem Saída e na superprodução, Os Intocáveis, na qual ele interpreta o próprio Elliot Ness – que ainda tinha Robert DeNiro [como Al Capone], Andy Garcia e Sean Connery, que levou o Oscar de melhor ator coadjuvante.
Antes disso, em 1985, Costner participou de Silverado, faroeste estrelado por Kevin Kline e Scott Glenn, contando ainda com Danny Glover. Costner faz o papel do irmão mais novo de Kline e, juntos, os quatro defendem justamente a cidade de Silverado, num filme que eu te incentivo a ver.
Mas o que uma participação em Silverado trouxe de bom a Kevin Costner? Simples: Silverado foi dirigido por Lawrence Kasdan – roteirista de O Império Contra-Ataca, por exemplo – e ele já tinha escrito o roteiro para um filme sobre um guarda-costas que protege uma cantora de um fã maluco. Na verdade, Kasdan pensava em Burt Reynolds para o papel, já que Steve McQueen – para quem o roteiro fora escrito – havia morrido. Num misto de arrogância e segurança, Costner pediu para Kasdan segurar o roteiro mais alguns anos para poder estrelá-lo.
Não se sabe se Kasdan segurou o roteiro ou não, mas Costner cumpriu com sua palavra – e ainda arrematou, cortando o cabelo no estilo de McQueen, homenageando-o.
Mas para isso, para chegar ao personagem Frank Farmer, o guarda-costas que protege a cantora-atriz, Rachel Marrow, Costner estreou na direção do épico de mais de três horas, Dança com Lobos, ganhou nove Oscars e estrelou Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões.
Além de estrelar O Guarda-Costas, Costner foi produtor, escolheu a então promissora cantora, Whitney Houston, e ainda sugeriu a música I Will Always Love You, como tema do filme.
O Guarda-Costas acabou sendo a maior bilheteria de 1992, e terminou de catapultar Costner ao status de astro.
Foi aí que a coisa começou a desandar.
Mesmo assim, uma parceria com Clint Eastwood, em Um Mundo Perfeito – um dos melhores filmes feitos pelo Eastwood, que até se relega a um coadjuvante, deixando Costner e um garoto de oito anos para brilharem juntos, numa história emocionante. Em termos de faturamento, Um Mundo Perfeito foi um fracasso.
Em 1994, Costner volta a trabalhar com Lawrence Kasdan, mas desta vez, estrelando uma superprodução, com muita gente boa e famosa – Gene Hackman, Isabella Rossellini, Dennis Quaid, Bill Pullman, Mark Harmon, Michael Madsen, Jim Caviezel, Téa Leoni— Wyatt Earp conta a história definitiva do xerife que, para uns foi o grande retrato do cowboy, enquanto para outros, um covarde, sanguinário, adúltero e político ao extremo. Porém, uma coisa é fato: Earp entrou em vários duelos, sem nunca levar um tiro sequer. Outra coisa curiosa foi a amizade entre ele e Doc Holliday, o gatilho mais rápido do oeste, ex-dentista, que sofria de tuberculose.
Eu sinceramente gostaria de ver um filme que juntasse as histórias de Wyatt Earp e Tombstone – A Justiça Está Chegando, outra biografia do xerife, estrelada por Kurt Russell. Eu gostei demais do Doc Holliday interpretado por Val Kilmer, em Tombstone. O duelo entre ele e Johnny Ringo é muito legal! Mas enfim—
Então, Waterworld aparece no horizonte—
1995. Eu trabalhava num escritório de cobrança. Todos os dias meu caminho antes de chegar ao trabalho era passar numa banca e ver as novidades. Lá estava a SET, cuja capa era estrelada pelo filme. Comprei. Li uma das maiores críticas a um filme já vistas. Tudo era ruim, havia uma briga entre o astro e o diretor – que, por sinal, eram amigos de longa data – o casamento do próprio astro foi pras cucuias, e orçamento se tornou histórico, já que foi o primeiro a bater a casa dos 200 milhões de dólares e tudo levava a um naufrágio tão certo quanto o do Titanic.
E foi.
Bom, eu estava lá quando o filme estreou no cinema da minha cidade. E curti demais o filme – e considero mesmo o meu filme preferido. A história é a seguinte: com o aquecimento global, as calotas polares derreteram e inundaram o planeta, deixando-nos a viver num mundo aquático. Então, surgiu uma lenda de um mapa que levaria à Terraseca, já que anatomicamente, fomos feitos para caminhar e não nadar.
Costner é mariner, um mutante que vive tanto n’agua quando em terra firme e não está nem aí para ninguém. Ele só se mete na enrascada porque visita um atol, o pessoal é meio preconceituoso – não gostam de mutantes – e o prendem. Lógico, ele acaba sendo solto por uma deliciosa Jeanne Tripplehorn, que cuida de uma menina que tem a tatuagem do tal mapa para a Terraseca. Isso faz com que uma gangue, liderada por Dennis Hopper queira pegar a menina de qualquer jeito.
Então, mariner, Helen [Tripplehorn] e a pequena Enola – papel de Tina Majorino, partem, primeiro, sem rumo, depois para enfrentar Hopper e sua gangue e, por fim, à Terraseca.
A história parece legal, o filme também, mas os bastidores mostram que tudo o que poderia se fazer de errado numa produção, foi feito. Costner, a princípio, bateu o pé e insistiu em Kevin Reynolds na direção, mesmo com o interesse de Robert Zemecks, por exemplo. Depois, graças a supostas diferenças criativas, Reynolds abandonou a produção e deixou para o próprio Costner terminar de dirigir o filme e ainda editá-lo. Mesmo assim, ao final do filme, é o nome de Reynolds que aparece na direção. Agora, uma curiosidade: Reynolds dirigiu Costner, primeiramente em Fandango; depois, veio Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões e a divergência entre os dois começou a aparecer. Ninguém acreditava numa nova parceria, mas ela veio com Waterworld. Aí, então, acabou de vez. Mas não é que ambos os Kevins se reuniram para uma minissérie para a TV, chamada Hatfields & McCoys? Coisas da vida.
Vida que segue, após todo o rolo que se deu com Waterworld, uma bilheteria fraquíssima, se comparada ao orçamento, um casamento desfeito, assim como uma amizade e um status de astro. Costner tinha muito trabalho pela frente para botar a casa em ordem. E ele meio que tentou, já em 1996, quando fora escalado por Ron Shelton para estrelar O Jogo da Paixão, uma comédia deliciosa passava no mundo do golfe. Shelton já havia dirigido Costner em O Jogo da Paixão e essa nova parceria era tão boa quanto a primeira.
Mas Costner quis porque quis voltar à direção e tentar reconduzir sua carreira de volta ao topo.
E veio O Mensageiro, a história de um carteiro, num mundo pós-apocalíptico, tentando reconstruir os EUA. O filme, loooooongo – mais de três de horas – custou 100 milhões e arrecadou dezessete.
Assim, não tinha mais jeito. A carreira afundou de vez.
Uma Carta de Amor, 13 Dias Que Abalaram o Mundo e Promessas de Um Cara-de-Pau conseguiram se sobressair em meio a filmes que não tinham nada de bom. Além deles, há outros dois: o primeiro, 3000 Milhas para o Inferno – a história é horrorosa, a direção, sofrível, mas o elenco – além de Costner, que é o vilão, tem Kurt Russell, Courteney Cox e Christian Slater no elenco. E Pacto de Justiça, esse sim, um filmaço, dirigido por Costner, mas com Robert Duvall encabeçando o elenco. A história? Um faroeste simples e muito bem feito, mostra simples tocadores de gado que decidem fazer justiça quando descobrem que há gente má intencionada roubando gado das fazendas. Claro que o personagem de Costner tem um passado negro e isso os ajuda a fazer justiça com as próprias mãos. O fato, porém, não muda em nada a qualidade do filme. História muito boa, uma direção segura e um elenco afiado.
Enfim, chegamos ao Homem de Aço.
Depois veio Operação Sombra, a nova aventura de Jack Ryan. E por fim, de volta ao estrelato, 3 Dias para Matar e A Grande Escolha.
A história de 3 Dias para Matar é bastante interessante: Costner é Ethan Renner, um agente da CIA que descobre ter um câncer raro e já está em estágio avançadíssimo. Ele então resolve voltar para a família e passar seus últimos dias com a filha que ele mal viu nos últimos quatorze anos. Connie Nielsen, ainda uma delícia, faz a esposa de Costner, que resiste em aceita-lo, até porque ele nunca deu a atenção devida à família.
Tudo ia bem, mas o destino é interessante. A CIA está atrás de um bandido internacional chamado Lobo e, Costner é, possivelmente o único que o viu e poderia reconhecê-lo. Sendo assim, Vivi, personagem de Amber Heard, decide reconvocá-lo para ajudá-la a pegar o tal Lobo. Mas, ela tem um ás na manga: uma droga experimental que poderia lhe dar mais um tempo de vida. Após muito dinheiro na jogada, Costner aceita a parada e parte à luta.
Mas o mais interessante da história nem é o Lobo, ou se vão explodir Paris ou não – o filme se passa na capital da França – mas sim essa tentativa de um pai de tentar ficar perto da filha que ele mal conhece. E tudo o que ela faz para enganá-lo. Tudo é engraçado, genial e muito real – quem é pai, vai se reconhecer no filme.
Costner chega a pedir conselhos sobre filhas a um subalterno do tal do Lobo, que tem uma empresa de limusines de fachada.
A Grande Escolha eu ainda não vi, mas espero ver muito rapidamente. Depois, vem outro chamado Black & White.
Pro futuro, Kevin Costner planeja uma tetralogia de faroestes. Ele quer fazer uma grande história, dividida em quatro filmes, sendo cada “episódio” lançada num espaço de seis meses entre um e outro.
É possível? Claro! Mas primeiro será preciso convencer algum estúdio a bancar essa façanha.
Tomara que consiga.
Silverado, Wyart Earp e Pacto de Justiça estão aí para provar que, de faroeste, Costner entende.
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