No livro, Marvel Comics – A História Secreta, em dado momento, Avi Arad, então presidente do Marvel Studios - função exercida, hoje, por Kevin Feige – disse que “é muito mais difícil fazer um filme do que uma HQ, pois os filmes são muito mais caros”. E eu concordo com a segunda frase. A primeira, discordo totalmente.
Primeiro, porque são mídias diferentes e é impossível se medir dificuldades trabalhando em campos díspares.
Além do mais, há filmes que adaptam livros, HQs, ensaios e até tweets; e mesmo tendo uma base, uma bússola a seguir, falham clamorosamente.
Por outro lado, nenhuma outra mídia concede a visibilidade de um blockbuster.
Chris Evans foi o destaque em Quarteto Fantástico, mas só chegou a uma apresentação de Oscar graças ao Capitão América – e isso é dito quando ele põe os pés no palco. Batman estava basicamente caindo para a segunda prateleira da DC no início dos anos 80, mas bastou Frank Miller revitalizá-lo em Cavaleiro das Trevas e Ano Um, para que o personagem voltasse a ter destaque no fandom. Porém, apenas com um filme do tamanho daquele, dirigido por Tim Burton, o catapultou a um ícone pop, suplantando inclusive o Superman, anos mais tarde.
Agora, você tem ideia do valor que os criadores de Batman e Coringa receberam pelo filme de 1989? Outra: será que eles ganharam por isso? Afinal, eles fizeram algo muito simples: criaram os personagens no filme que botou mais 60 milhões de dólares no bolso de Jack Nicholson, que encarnou o palhaço do crime.
Pois é, essa é uma discussão constante.
Jim Starlin, criador do Thanos, soube com uma certa antecedência de que o titã louco apareceria na cena pós-crédito de Vingadores, de 2012. Mesmo assim, teve que pagar o ingresso para assistir ao filme.
Tempos depois, acabou fazendo um acordo com a Marvel, porque o que ganhava de royalties pela criação de Drax, Gamora, e o próprio Thanos era menor do que recebeu por um coadjuvante sem muita importância em Batman V Superman.
E olha que se juntarmos Vingadores 3 e 4 e os dois Guardiões da Galáxia, a Marvel arrecadou por baixo, 5 Bilhões!
O falecido Len Wein recebeu mais por Lucius Fox, um coadjuvante do Batman, do que por Wolverine, a estrela dos X-Men, quando ambos foram parar na tela grande.
Ed Brubaker, que criou o personagem Soldado Invernal recebeu uma mixaria pelo uso do personagem em dois filmes do Capitão América, além de uma série na Disney+. O roteirista não gosta muito de falar a respeito porque se chateia com isso.
Muitas vezes as editoras fazem um acordo de 5 mil dólares + entrada para o cinema com os autores. E algumas dessas vezes, elas sequer avisam-nos para pegarem seus cheques.
Por causa disso tudo, Ta-Nehisi Coates, atual roteirista da revista do Capitão e ex-Pantera Negra, cujo filme ele ajudou a chegar aos cinemas, sempre que pode, declara apoio aos quadrinhistas, principalmente, Brubaker, que ele se diz fã e cujas histórias muitas vezes são melhores que qualquer filme. Coates diz sempre que pode que se hoje ele escreve para o título do Sentinela da Liberdade, é graças a Brubaker e ao artista, Steve Epting, pois eles fizeram história no título.
O filme Capitão América: Soldado Invernal é baseado no arco O Soldado Invernal de autoria da dupla.
Coates, que hoje está envolvido com o roteiro de um vindouro filme do Superman – talvez estrelado por Michael B. Jordan – diz que quanto mais valorizados os autores de quadrinhos são, mais parceiros das editoras eles serão.
E consequentemente menos processos elas terão.
Todd McFarlane, criador do Spawn, que saiu da Marvel por causas parecidas – dinheiro e reconhecimento – concorda: “se as editoras pagam uma mixaria hoje e há autores trabalhando para com ela; imagine se elas pagarem 3 mixarias?”
Ele, que é presidente da Image e dono da marca do Soldado do Inferno, disse ter planos ousados para seus artistas. Spawn já ganhou um filme nos anos 90, uma série animada um pouco antes e seu criador vive prometendo uma sequência com Jamie Foxx no protagonismo há bastante tempo.
Em novembro, Os Eternos chegarão aos cinemas. Criação total de Jack Kirby, nós fazemos votos de que seus herdeiros possam receber aquilo que lhes é devido.
Vamos aguardar.
Comments