Antes da falarmos sobre o terceiro episódio de Falcão e o Soldado Invernal; assisti à análise de Ranieri Quadros – do canal de YouTube, SessãoNerd – a respeito do segundo e há uma teoria de que Falcão teria devolvido o escudo do Capitão – que o próprio lhe presenteou em Vngadores Ultimato – devido ao racismo velado que ele sofre. Seguindo essa teoria, Sam Wilson não se veria como o Sentinela da Liberdade por ser negro – aí a impressão de que o escudo não lhe pertence, mesmo ganhando-o como presente merecido.
Em Captain América nº 333, de 1987, um dos responsáveis por tirar de Steve Rogers o uniforme e escudo e entregarem a posteriori a John Walker, chegou a cogitar Sam Wilson para o cargo. Seu comentário mostra exatamente o clima: “Receio que o país ainda não esteja pronto para um Capitão América negro”.
Então, quando o escudo volta para o museu, alguém tem a brilhante idéia de apresentar ao mundo um novo Capitão: John Walker; tão loiro quanto Steve Rogers, a propósito.
Particularmente falando, eu nunca gostei da idéia de ter Sam Wilson assumindo a identidade de Capitão porque ele já tem uma: Falcão ganhou pelo três revistas próprias desde a sua criação – por Stan Lee e Gene Colan – e ele sempre funcionou muito melhor como um assistente social que luta pelos direitos das minorias no Harlem do que como um símbolo do sonho americano. Acredito que Wilson se apequene toda a vez que é obrigado a substituir o amigo. Se há a necessidade de vermos um Capitão América negro – e a idéia é muito bem-vinda – acredito que Lemar Hoskins seria mais apropriado.
Primeiro, porque ele não tem uma história rica no universo Marvel; segundo, porque quando passar a trabalhar para o governo, ele tenta o seu melhor. Em todo o momento, ele é honesto; quando o amigo Walker é dado como morto, ele não se satisfaz com respostas políticas; e encontra a verdade por si próprio.
Lemar, com toda a certeza honraria o legado do Capitão e faria um trabalho a contento.
Isso aconteceu na DC, com um personagem de quinto escalão chamado Fera Bwuana, que tem os poderes de metamorfosear os animais, graças a um capacete. Quando Grant Morrison passou pelo título do Homem-Animal, ele tratou de consertar esse cânone histórico e criou um substituto para Bwuana: um homem negro, que sofreu as agruras de sua cor. Então, quando topou assumir a identidade, ele disse: “Esse nome branco tem que desaparecer. Eu me chamarei Fera Liberdade”.
Certo? Sigamos para o terceiro episódio de Falcão e o Soldado Invernal—
O segundo episódio termina com Barnes e Wilson tendo a brilhante idéia de contatar Zemo – no intuito de localizar a célula terrorista chamada Os Apátridas.
No terceiro, eles fazem mais que conversar; libertam Zemo da prisão e, com isso, tudo pode acontecer.
Eu não assisti a Capitão América: Guerra Civil, porém li que o Helmut Zemo da série é mais próximo de sua contraparte quadrinhistica do que o apresentado no filme. Não posso atestar, porém sei que o Zemo que eu vi nesse episódio está bastante longe do personagem que eu conheço. Porém, como são mídias diferentes, tempos diferentes, é preciso atualizar a audiência.
Na série, Zemo ajuda Sam e Barnes a encontrar algumas respostas a respeito dos terroristas Apátridas, o fato deles serem muito fortes e a origem dessa força: Mercador do Poder. Sim, ele continua sendo o picareta dos quadrinhos, com a diferença de na série sua área de atuação se dá em Madripoor – se você leu alguma hq de Wolverine, já conhece a cidade.
Capitão América já esteve em Madripoor, ao menos duas vezes: uma na Segunda Guerra Mundial, ao lado de Logan e da Viúva Negra e outra quando precisa resgatar sua então namorada, Cascavel, das garras de Ossos Cruzados.
Na série, Zemo é quem tem o conhecido a respeito da cidade e pode ajudar a dupla dinâmica a encontrar o Mercador do Poder – e respostas.
Com a intervenção providencial de Sharon Carter, eles conseguem chegar até ao Mercador do Poder e descobrem como os Apátridas conseguiram essa força que utilizam para aterrorizar a Europa.
Enquanto isso, Walker e Lemar descobrem que Zemo está à solta e concluem que Wilson e Barnes estão envolvidos com isso.
O clima entre as duplas começa a esquentar e é muito provável que isso não acabará bem; uma luta entre eles se desenha, haja visto que a série tem seis episódios e nós chegamos à metade.
O episódio em si tem menos ação que o anterior; quando há, é Sharon quem faz acontecer e é bem vinda toda a destreza promovida por Emily Vancamp – embora não tenha absolutamente nada a ver com a Sharon das hqs – e ela aproveita cada segundo em tela. Sam é um poste e Barnes só entra em ação para compor um personagem. Quando Daniel Brüll precisa lutar, sem máscara – ou seja, sem a adição de um dublê – me lembrou dos últimos filmes estrelados por Charles Bronson; com a idade avançada e uma pança, ele mais causava risadas inesperadas do que impunha respeito. Brüll parece estar fora de forma e, apenas um golpe num guarda já soa forçado. Encarar um Capitão América de verdade, então, imagine—
Sobre os Apátridas, eles são chamados de Robin Hoods, porque tiram das grandes instituições para ajudar aos coitados, principalmente comida. Mas, a sede de sangue de sua suposta líder vai se apresentando cada vez mais. Aliás, essa líder dos Apátridas também passa longe do anti-heroi que adorava enfrentar o Capitão nos quadrinhos.
Agora, se você me perguntar se eu gostei do episódio, posso dizer francamente que não; é muito bem produzido, Madripoor é muito bonita, visualmente falando— os personagens estão todos lá, mas não funcionam. Os diálogos são sofríveis e os acontecimentos não vão se seguindo naturalmente como se uma tragédia levasse a outra e assim sucessivamente; tudo parece acontecer porque os roteiristas querem, simples assim. Por exemplo, Zemo não precisa se esforçar muito para ser solto; poderia ter abandonado Sam e Barnes em Madripoor facilmente; aliás, Zemo não tem nada a ver com o lugar; Ossos Cruzados, com toda a certeza, até Batroc; mas Zemo, não.
Até mesmo a entrada de Sharon Carter não faz o menor sentido – que, claro, pode ser elucidado adiante – e os Apátridas não disseram a que vieram ainda. Falta também um pouco de desenvolvimento dos personagens John Walker e Lemar Hoskins; começaram bem, apareceram, disseram o que querem; porém, é só. Eles parecem ter liberdade para fazer o que quiserem; noutro momento, parece que não.
Tenho certeza de que isso engrandeceria a série. Ainda falta muita coisa para acontecer, afinal, atingimos a metade da temporada; no entanto, é preciso não perder o clímax de vista.
Ah, e Wakanda intervém na situação.
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