Em Capitão América #75, da Editora Abril, o Capitão e o Homem-Aranha enfrentam um inimigo em comum: Rattus, o Rei Rato.
No início da história – escrita por J.M. DeMatteis e desenhada por Kerry Gammill – enquanto passeia em Nova York com sua então namorada, Bernie Rosenthal, Steve Rogers se depara com Rattus, ao qual havia enfrentado pouco tempo antes, numa ilha lá na putaqueopariu.
Ao vê-lo, Rogers pensa em como Rattus chegou tão rápido a NY. Mas conclui: \”Não sejá estúpido, Rogers; se você está aqui, ele também pode estar.\”
O mais legal da história é que ela passa a mensagem de que às vezes, encontramos em nossas vidas, pessoas e ou acontecimentos, para os quais não queremos olhar, mas é preciso.
Reencontrei um amigo que não via há cinco anos.
Eu já nem mais lembrava que o havia conhecido. E confesso que demorou um tempo para reconhecê-lo. Mas no melhor estilo \”eu já vi esse cara\”, lembrei-me de Deivid.
Ele estava exatamente igual há cinco anos; o mesmo tipo de roupas, o mesmo jeitão e – utilizando uma força de expressão – ainda patinando na vida.
No início de 2006, eu trabalhava num escritório comercial.
No segundo semestre do ano anterior, nós éramos em quinze vendedores. Desses, apenas eu voltei em 2006.
O proprietário, que acabou por se tornar meu amigo, me pediu para orientar os novos contratados a se adaptarem ao escritório. Eram três: Diego Maurício, Egídio e Deivid.
Diego Maurício estava se formando em marketing; Egídio veio de Belo Horizonte, casado, aos 19 anos – e é meu amigo até hoje. E, Deivid, o mais brincalhão, e aparentemente esforçado dos três.
Tudo aquilo que aprendi no ramo comercial, todas as dicas, macetes, acabei passando para Deivid, já que tanto Diego quanto Egídio diziam não precisar de nada, pois estavam prontos.
Pra ser sincero, Egídio não mentiu, já que naquele mesmo ano, ele se tornou supervisor de vendas numa empresa e manteve essa função em todos os outros empregos que teve. Quanto a Diego Maurício, não posso dizer.
Deivid me ouvia bastante, parecia tentar absorver tudo o que eu ensinava.
Mas qual não foi minha surpresa ao chegar um dia na empresa e descobrir que ele havia sido dispensado. Fui buscar o porquê, e descobri que ele não tinha iniciativa. Apesar de, quando saíamos juntos para visitar clientes, ele era muito elétrico – é como chamamos aquele[a] vendedor[a] vibrante e cheio[a] de entusiasmo – quando eu não estava, o camarada simplesmente não fazia nada.
Bem, a vida seguiu. Eu saí daquele emprego, mantive a amizade com todos por lá, e nunca mais ouvi falar de Deivid.
Até a última quinta-feira.
Então, após conseguir me lembrar de tal pessoa, me dei conta que ele não mudou absolutamente nada. Continua no ramo comercial, mas ainda patinando. Pude ver de perto seu comportamento, e percebi que nada havia acontecido em sua vida.
Mas ao fazer isso, me deparei comigo mesmo.
O que mudou para mim nesses últimos cinco anos?
Orra, tanta coisa! Tanta coisa mesmo? Tudo para melhor?
Obviamente, não.
E é difícil você mergulhar em si mesmo e só encontrar medalhas de honra ao mérito. Confesso que não encontrei nenhuma.
Sim, saí ileso em muitos combates.
Mas, também, fuzilado em vários outros.
Cinco anos se passaram. E eu aprendi alguma coisa?
Não sei dizer. Não mesmo.
Mas com certeza, não gostaria de encontrar alguém, que relembre de mim e pense que eu ainda esteja \”patinando\” na vida. Não que eu não esteja, mas ao menos que eu patine noutra lama, nunca na mesma.
Quando vi – e reconheci – Deivid, pensei: \”Puutz, olha o Deivid… continua patinando na vida.\”
E concluí: \”Não seja idiota, camarada… se você ainda está patinando, ele também pode estar.\”
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