Durante muito tempo eu quis assistir ao filme Chatô, o Rei do Brasil, caótica produção de Guilherme Fontes que levou décadas para ser finalizada e ganhou status de infinalizável. O filme contava a história de Assis Chateubriant, homem do jornalismo que decidiu se tornar maior que a história - caro, ele acabou batendo de frente com outros semideuses, como Getúlio Vargas, e as coisas não caminharam muito bem.
Numa entrevista, Fontes contou como adquiriu os direitos de filmagem do livro de nome homônimo, escrito por Fernando Morais: ele havia terminado um relacionamento e estava naquela fossa que atinge a todos nós em algum momento de nossas vidas; então entrou numa livraria, comprou o livro, o devorou com voracidade e decidiu ali mesmo entrar em contato com os donos da obra afim de filmá-la.
Pula para a chegada do filme à Netflix e eis que resolvo aproveitar uma tarde vazia para conferir se Chatô é tudo isso mesmo. E confesso, não o é!
Não sei se o livro foi escrito dessa maneira, mas o filme parece ser dividido em dois, onde um conta a história do jornalista que brigou com poderosos e o outro parece um Programa do Ratinho, ao qual o protagonista participa de uma gincana sobre sua vida.
Acabei dormindo de tão interessante que o filme foi.
Então chegamos a Eike - Tudo ou Nada, filme baseado no livro homônimo de Malu Gaspar e conta a história do outrora homem mais rico do mundo e chegando a sétimo do mundo; além de ter sido o responsável por ter tirado Luma de Oliveira de uma novela em meio às filmagens quando ambos se casaram e também batido de frente com os governos Lula e Dilma na época do pré-sal.
Protagonizado por um Nelson Freitas que se funde ao personagem de forma orgânica, ele passa longe de todos os personagens que outrora havia interpretado.
Eike - Tudo ou Nada traz recortes da vida do empresário, focando mais em seu embate com o governo quando tenta capitalizar na privatização do pré-sal.
É inegável a coragem de Eike Batista ao entrar de cabeça no ramo do petróleo, tirando grandes personagens de dentro da Petrobrás para ajudá-lo na tarefa de criar a sua própria petroleira.
O filme começa com um pequeno Eike vivendo na Alemanha, país onde sua mãe nasceu, enquanto seu pai viajava pelo mundo; passando já para um adulto empresário com uma visão empresarial voltada para o lucro - ou o dinheiro.
Eike Batista consegue ascender no mundo das ações, quando abre capital de suas empresas, capta investimento estrangeiro e torna-se grande.
Os problemas começam quando ele não encontra petróleo, tenta enrolar os investidores, especula mercado e vai perdendo as pessoas que tinham, de fato, expertise naquele ramo.
Tudo é muito rápido em Eike - Tudo ou Nada e a mensagem que fica é: dinheiro não é tudo.
O roteiro, não tão bom, de Andradina Azevedo e Dida Andrade - que também dirigem - se perde em alguns momentos. Por exemplo: a mulher, com maior importância na trama é uma personagem interpretada por Juliana Alves, Zita. Mas o que ela faz? Qual a sua importância para a trama? Nenhuma! Carol Castro interpreta com volúpia a mulher-fatal, Luma de Oliveira, mas tudo é feito como se saísse de um devaneio do protagonista; talvez os realizadores não quisessem botar as mãos num vespeiro, mas seria interessante vermos interações entre um homem extremamente ambicioso e uma mulher objetificada e endeusada, principalmente no Carnaval.
Também pesa contra a biografia mostrar um Eike ingênuo, como se tivesse sido enganado e entrado de gaiato nessa trama toda.
Bem, isso não poderia ser verdade, uma vez que o verdadeiro Eike Batista, segundo o MPF, divulgou um "put option" onde se comprometia a investir 1 bilhão de dólares em sua petrolífera, a OGX, mas omitindo o fato que poderia se desobrigar a fazê-lo, manipulando os investidores a erro. Além disso, segundo o mesmo órgão, Eike sabia da inviabilidade de sua empresa, a OGX, meses antes dele próprio efetivar o fato.
Enfim, o filme termina com a prisão do empresário - o que de fato aconteceu - e sua ruína econômica.
Eike - Tudo ou Nada traz uma bela discussão sobre pessoas maiores que a vida; buscas imparáveis por poder e vaidade; além da crença de que empresários podem ser políticos melhores que os próprios políticos - Donald Trump, João Dória, Rodolfo Zema, alguém mais--?
Está tudo lá.
Eike - Tudo ou Nada vale a pena por todos esses motivos e poderia ter sido uma obra melhor se estivesse caído em mãos mais competentes, tanto no roteiro quanto na direção. Do jeito que está, ficou razoável.
Comments