capa de Apache # 1
Entendi. Mas acredito que a Apache muito em breve comece a alçar altos voos. Como disse, tá melhorando. Os leitores de Tex e Blueberry estão descobrindo ela e tenho recebido muitos e-mails. O produto está evoluindo a cada edição, como é normal. Tudo evolui e não é fácil escrever e desenhar western, haja referência e pesquisa. O grande drama da HQ nacional é: 1 – a galera acha que um novo poduto tem que sair bombando. Se esquecem que Superman e Batman, quando começaram, tinham uns desenhos de merda. Foram evoluindo com o tempo. 2 – Se o leitor não compra a revista, ela morre na praia e você, autor, não tem tempo pra estudar e se adaptar a nova série. Toda nova série requer tempo pra adaptação, principalmente, western. Nego que tá acostumado a desenhar heróis bombados se rala todo pra fazer faroeste. 3 – Superar o preconceito que a maioria dos leitores brasileiros tem sobre personagens nacionais. Tem nego que nunca leu, nunca comprou, mas odeia. É muita babaquice, não acha? 4- O maior problema das HQs sempre foram os péssimos argumentos. Os americanos transformam qualquer herói bundão num puta enredo. Quem se habilitar a escrever western tem que entender do assunto: situação geográfica, conhecer a história do folclore americano, etc. Pois, quem lê esse gênero, conhece a coisa e é exigente.
Apesar dos probleminhas citados acima, quando o pessoal vê que o produto continua, um dia acaba comprando, por curiosidade. Atualmente um poduto só pega na base da insistência. E a periodicidade é mensal?
Sim, a periodicidade, teoricamente, é mensal. Mas tamos usando a estratégia de deixar o produto por 45\\50 [dias] no ponto de venda. Passará a ser mensal, de fato, quando sentirmos que a coisa pegou mesmo. Mais tempo nas bancas vende mais.
Você faz tudo? Escreve, desenha, enfim, é tudo seu?
Isto. Escrevo e desenho, faço quase tudo… (Rsss…) Minha equipe ajuda escaneando, tratando imagens, pinturas digitais (mas, algumas capas eu pinto), fazendo pesquisas, montagens, revisão, letras, redação final e fechamento de arquivos. Ninguém faz nada sozinho, você sabe… ainda mais aqui, onde atendemos agências e empresas.
Apache
E de onde veio a ideia para a Apache, meu amigo, Tony?
Eu tinha assistido um filme antigo com este título: Apache, e adorei. Sempre achei este nome muito forte. No tal filme tinha uma índia linda, deliciosa, de olhos verdes, se não me engano. Foi desse filme que também tirei a ideia do nosso logo oficial da personagem. Na verdade o logo é igual só melhorei a coisa…
O filme é um clássico.
Dois anos depois, ao ler \”Enterrem Meu Coração Na Curva do Rio\”, um bestseller do Dee Brown (que depois de lê-lo você tem até vergonha de pertencer a raça humana), \”baixou o santo\”, caiu a ficha, deu o estalo.
Por que não fazer um western diferente, mais realístico, onde nós, os caras-pálidas, fôssemos os bandidos, como de fato fomos ao longo da história, ferrando todo mundo em \”prol da evolução\”? Afinal, os antigos filmes de hollywood sempre haviam distorcido a verdade, os índios nunca foram selvagens como foram mostrados. Eles tinham cultura, respeitavam a Natureza e sempre desejaram viver em paz com o homem branco, etc.
O principal tema de Apache, como em Avatar e X-Men é: racismo, preconceito.
Mas, fazer mais um cowboy era fria. Não dá pra concorrer com Tex, que eu coleciono e adoro. Daí surgiu a idéia de bolar uma índia bonita e sensual, pra vingar a raça (o visual feminino sempre atrai leitores de todas as idades), e também decidi fazer um texto mais real, mais adulto.
FALANDO SOBRE PRECONCEITO SOBRE HQS NACIONAIS:
Tem alguns malucos que querem comparar autor nacional com autor gringo, bengala friend. Isto não é justo. É ridículo. Os caras têm grana, trabalham em equipe pra multinacionais, são bem remunerados e têm tempo para caprichar. Ao contrário de se trabalhar no Brasil, onde um autor tem que fazer, em geral, tudo sozinho, pra sobreviver.
Aqui, se você não tiver produção, tá lascado.
Só sobrevive quem cria (escreve), tem produção e trabalha de uma forma racional e enxuta, sem chamar um monte de gente.
É simples, como na música: só se sobressai aquele aquele que canta e compõe aos quilos. Trabalhar com música é dez vezes pior do que trabalhar com HQs. Sou músico desde que me conheço por gente e o pior… a MP3 ferrou as gravadoras, principalmente, as nacionais.
Se nossos preços são inferiores aos dos gringos a saída é produzir mais pra compensar e fazer a coisa valer a pena.
pin up de Apache, por Airton Marcelino
UM DETALHE: na Festcomix perguntei ao Civitelle (desenhista do Tex) sobre produção. O homem disse que faz 15 páginas por mês… (Rsss…). Dá pra imaginar quanto tempo ele leva pra fazer uma edição, né? E ainda assim saem desenhos cheios de defeitos na série do ranger.
Cara, fazendo 15 páginas por mês até eu, que sou um desenhista meia-boca, faço obra de arte.
O resto é balela de pseudo-críticos que nunca, de fato, trabalharam com a coisa ou dentro de uma editora. Fazer HQs por diletantismo é uma coisa. Profissionalmente, é outra. Há prazos rigorosos a serem cumpridos. Os artistas nacionais precisam ser mais realistas e enxergarem também a parte comercial da coisa. Nenhum editor mantém um produto se nego só consegue produzir dez páginas por mês ou se ele não vende.
Se não vender aqui ou em qualquer lugar do mundo, a revista vai pro saco, literalmente. Ou você acha que na América é diferente?
Se você for um Da Vinci (genial) e não vender, você já era!
Isto é business, como qualquer outro. Tem investimento e tem que gerar receita. É simples.
Pra haver nacionalização tem q haver produção, my friend. Ou não?
Agora, ser sucesso de venda… isso depende dos leitores.
O que consagra um artista é o público e não meia dúzia de pseudo-entendidos que podem ou não te elogiar.
Sempre trabalhamos pro grande público. Nunca dei importância aos críticos. Quem tem que te elogiar é o seu leitor ou seu editor.
O resto é merda, bengala brother!
Afinal, \”Vox populi, vox dei\”!
Legal essa sua última parte, Tony. Acho que aqui você deu uma aula do que o quadrinho é na verdade: um produto comercial. Óbvio, Vagner, HQs são meramente um produto comercial como margarina, sapato, carro, etc. Não vendeu, sai de linha. O problema é que o pessoal só vê o lado artístico e esquecem o principal: o lado comercial. Se você criar um produto vendável, em qualquer parte do mundo, vai estar bem. Disney e Mauricio são famosos porque são fenômenos de venda. Só isso. O dia em que deixarem de vender, já eram! Em relação a isso tudo, queria perguntar sua opinião a respeito dos álbuns que tanto saem hoje em dia no Brasil, principalmente com o apoio do governo. Eles servem de incentivo aos novos autores, mas também não levam a nada. Tão gerando emprego? Não. Tão aquecendo o mercado com essas tiragens ridículas? Não. Tão abrindo espaço pra esses novos profissionais terem um campo de trabalho sólido em que eles futuramente possam viver de sua arte? Não. Então, pra que servem? Pra quase nada, a não ser revelar (iludir) novos talentos, que em breve acabarão descobrindo que não há muito campo de trabalho.
pin up Apache, por Lancelott
Você acha justo você pagar faculdade, formar um filho, e daí ele ter que ir trabalhar na NASA, por que aqui não há oportunidade? Como pode ver, o problema não se aplica apenas às HQs. É geral. Temos grandes profissionais, em diversas áreas, sem campo de trabalho no país. O governo deveria estar criando condições de abrir campo de trabalho, tornar essa geração profissional, para que possam viver dignamente da sua arte e não gastar dinheiro público à toa. Bolsa família? Até quando o governo vai poder bancar isto? Ele não tem que dar o peixe e, sim, ensinar a pescar. É simples. Não pecisamos de paternalismo. Precisamos de um mercado digno de trabalho, que possa absorver essa mão de obra especializada, em todos os setores. Mauricio de Sousa é uma referência para você? Cara, ele é o maior exemplo de luta, de garra, e ele eleva o nome das nossas HQs lá fora. Não teve ajuda do governo nem de porra nenhuma, se fez por si só. Foi à luta, ralou e chegou lá. É um exemplo a ser seguido e é a prova de que nada é impossível. O pai dele era um barbeiro, a mãe, uma enfermeira… é de origem humilde e conquistou seu espaço fazendo um produto vendável. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O que vende é texto e não desenhos. Apenas uma minoria de \”malucos\” compram uma HQ pelo desenho. O povão paga parar ler uma boa história, simplesmente, e pra ele não importa quem fez, se é gringo ou brasileiro. Quando vamos ao cinema ou ao teatro, pagamos pra quê? Pra ver uma boa história. Os roteiristas sempre foram mais importantes do que os desenhistas, desde q o mundo é mundo. Do que adianta uma arte maravilhosa, sem um bom roteiro? O Brasil precisa formar gente que saiba escrever, pois a maioria nem sequer sabe fazer uma simples redação. Não têm estudo, se \”formaram\” lendo gibis. É isso que nos difere dos americanos. Eles têm curso superior, fazem HQs por opção. A América tem um monte de gente que sabe escrever. Nós, não. O mesmo problema acontece com o cinema nacional que apresenta, no geral, roteiros medíocres. Quando os roteiristas americanos entram em greve, para tudo: cinema, TV, etc. Daí, eu te pergunto: quem é mais importante? Os grandes atores ou os escritores: A resposta é óbvia, você sabe… (rsss…) Mas, tem umas antas que se acham importantes, que ainda acham que são superiores aos escritores só porque fazem um desenho de merda. Essa gente tá iludida. Um grande roteiro com um desenho meia-boca segura uma publicação. Um desenho maravilhoso com um roteiro de merda, não. Será que o pessoal da classe já pensou nisso? Quando é que vai cair a ficha? O que tem de desenhista narcisista não tá escrito. Tô cansado de repetir issso! Tá na hora da galera acordar! amanhã… \”Empolgados, lançamos UDIGRUDI, uma revista de sátiras em forma de HQs, uma espécie de MAD mais brasielira, mais sacana. Nosso primeiro colaborador foi o mestre Seabra, visto que ninguém acreditava em nós.\” \”A [Editora] Phenix, acho que durou 3 anos… começamos quando o Collor capou a grana de todo mundo e fechamos quando o Collor foi expulso do governo… (Rsss…).\”
Comments