Você teve uma editora, a Ninja, certo? Como surgiu essa vontade de ter uma editora? E o que te levou a fechá-la? Errado. A Ninja não era minha. Tive a ETF Comunicação Comercal Ltda (que começou como estúdio e virou editora), na década de 80, a Phenix editorial, na dácada de 90, e atualmente tenho há mais de dez anos a Pégasus Publicações Ltda, cujo estúdio Pégasus é uma divisão de arte e criação. A Pégasus edita produtos para empresas, apenas.
O Pequeno Ninja
Eu e o Felipe abrimos a Phenix em 1990, se não me engano. Brigamos com a Ninja, que quis se apossar do Pequeno Ninja e montamos a Phenix. Duas salas e um telefone, bem na esquina do coração de S. Paulo (Av. São João com a avenida Ipiranga), em cima do famoso e extinto Bar do Jéca. No prédio havia muitas academias de musculação. Mas, no sexto andar tinha a loja e a editora da Combat Sport, do meu amigo Arnaldo, no quinto tinha a Editora Ninja, nosso estúdio e a editora do seu Samuel Borban, não me lembro o nome da dessa editora. Quebramos o pau com a Ninja e eles mudaram pro bairro do Tatuapé, zona leste da cidade. Alugamos com a área que antes pertencia a ela. O Felipe não entendia porra nenhuma de editoração, mas eu já tava escolado depois do fiasco da ETF, minha primeira editora. Daí, começamos editando 4 posters de cinema: Robocop, Bruce Lee, De Volta Para O Futuro e outro título que não me lembro. Demos sorte. Venderam bem. Principalmente, Robocop. Empolgados, lançamos UDIGRUDI, uma revista de sátiras em forma de HQs, uma espécie de MAD mais brasileira, mais sacana. Nosso primeiro colaborador foi o mestre Seabra, visto que ninguém acreditava em nós. Foram vários sucessos de venda, um atrás do outro. Ainda no mesmo endereço lançamos três Almanaques Phenix 91 de HQs, só com autores nacionais. Pouco tempo depois, crescemos e alugamos uma casa enorme no bairro do Brás, contratamos mais gente e passamos a dar emprego há uma legião de desenhistas colaboradores.
Fantasticman
Sobre o Fantasticman, ele foi criado naquela ocasião, juntamente com o Fantasma Negro? Depois, o próprio Fantasticman voltou às bancas, pela Phenix. E acredito que por outras também, certo?
Ele [Fantasticman] foi criado na década de 70 para a revista da Editora Noblet, que eu fazia, chamada Jogos & Diversões. Sua primeira HQ foi publicada na edição # 12 desta revista. Era uma HQ de 10 páginas e ele se chamava Homem Formiga.
Em 82, se não me engano, saiu a primeira revista solo do homem do planeta Vulcano, pela Evictor Editora, em formato magazine, em p&B, em papel couchê.
Depois, quando abri a ETF (Estúdios Tony fernandes) editora lancei uma edição de 52 páginas de Fantasticman e Fantasma Negro.
Venderam razoavelmente bem. FMan: 40% e FNegro 30%.
Tiragem: 30 mil de cada. Distribuição exclusiva para todo o país: DINAP – IMPRESSAS: na gráfica do Jornal do Brasil, R. de Janeiro.
OBS: Com a Phenix, me dei bem e chegamos até a ganhar dinheiro, ao contrário da ETF, que só fiz merda, por falta de experiência.
AINDA SOBRE FANTASTICMAN
Ele já era pra estar nas bancas o ano passado, mas as negociações enrolaram quando começamos a discutir preço.
Uma certa editora queria pagar pelo novo material um preço que não aceitei. Mas, estamos negociando essa série com outras empresas.
Se não rolar, acabo editando eu, ao menos a edição comemorativa.
Com certeza o vulcano, uma hora, vai voltar.
Tem mais de 3 mil páginas prontas, de 3 novas série dele:
1- Perdidos no Infinito; 2 – Soberviventes – 3 – As Novas Aventuras de Fantasticman. Muita gente, das antigas e até da nova geração) ainda se lembra e pede pra que eu volte com a série. Por isso, durante 3 anos ficamos produzindo as novas HQs.
Antes de morrer, quero publicar elas, é óbvio.
E estou brigando pra isso.
Fantasma Negro
Você começou em qual editora? E a que se deu esse interesse em trabalhar em editoras? Aliás, como surgiu o interesse por quadrinhos?
Comecei fazendo freela pra Abril. escrevendo Pato Donald, em 1973.
Publiquei pela primeira vez uma HQ minha (curta) em 73, na M&C (Minami e Cunha) Editores. Ainda neste ano publiquei minha primeira revista: Sargento Bronca, uma sátira militar aos moldes de Recruta Zero, na Editora Saber. OBS: Eu e o Felipe fizemos este almanaque de mais de 100 págs juntos. Fiz o Sgto. Bronca que era o personagem, principal, criado por mim, e ele fez Espeto, um personagem dele, nas páginas finais da edição.
Colaborei na Abril, Folhinha de S. Paulo, Eli Barbosa (fazendo Hanna-Barbera), Viacom (fazendo Pink Panter, merchandising) e por fim comecei a fazer freela pra Noblet. Entregava todo mês 10 páginas de Capitão (Buana) Savana, para a revista Akim.
Fui contratao pela Noblet para ser assistente de arte, virei diretor de redação das revistas: Hot Girls e Contos Excitantes (criadas por Tony Duka, o saudoso Toninho Duarte, o rei das revistas para colorir). O Toninho brigou com o editor e foi embora. O abacaxi sobrou pra mim. Passei a ser diretor de redação das duas revistas eróticas. Quando o Paulo Hamasaki saiu eu passei a ser diretor de arte da Noblet, por um breve período. Pedi as contas (trabalhei lá 5 anos) e fui montar meu primeiro estúdio, na estação do metrô Praça da Árvore, no bairro do Jabaquara.
Ele ficava em cima de uma padaria – que ainda existe -, bem em frente à estação do referido metrô. Era uma salinha, sem telefone.
Passei a atender várias editoras e empresas, como: Acti-Vita, Ônix, São PAulo Alpargataz e agências de publicidade.
Um ano depois, aluguei um lugar maior ainda, na av. Jabaquara, e abri a ETF (Estúdios Tony Fernandes), que acabou virando uma editora em 83.
O que mudou [se é que mudou] no mercado de quadrinhos daquela pra essa época atual?
Tudo. Naquela época haviam poucos editores, menos produtos em bancas, as revistas vendiam mais.
Também não existiam computadores, celulares, games, etc.
Depois da era da informática qualquer Zé Mané virou produtor, editor. Cara, naquela época pra entender do assunto você tinha que fazer faculdade de comunicação ou se enturmar e aprender o macete. Tudo era feito na raça, originais enormes.
Pintar com ecoline um original grande exigia rapidez e muita técnica, pois a aquarela liquida seca rápido e podia manchar toda a arte e você tinha que recomeçar tudo do zero, véio.
Hoje, na pintura digital, você errou? Dá um Ctrl Z e pronto!
Páginação e diagramação eram feitos na unha, retoques fotográficos e fotolitos. Naquela época os caras eram artistas de verdade. Hoje tá tudo fácil e pateurizado, sem personalidade.
Todo mundo faz revista, todo mundo é editor. Empesteou o mercado.
Na última reunião que tive na DINAP eles me explicaram que não é que as vendas caíram. Elas crescem 4% ao ano.
O que acontece é que hoje o bolo é dividido em trocentos editores e cada um ficou com sua migalha… é simples.
Durante quanto tempo você manteve a Phenix viva? A Phenix, acho que durou 3 anos… começamos quando o Collor capou a grana de todo mundo e fechamos quando o Collor foi expulso do governo… (Rsss…). Tínhamos uns 40 títulos nas bancas, mensais, que vendiam bem… principalmente os posters, como: Tom Crise, Van Damme, New Kids, Robocop, Indiana Jones, Madonna, etc. Mas, quando o Collor estava se \”preparando para sair\” o mercado desabou. Ninguém comprava mais porra nenhuma. As vendas cairam pra 5%. Isso mal paga a gráfica. Aliás, muita gente sifú na época. Mas, a Phenix – apesar dos problemas internos e externos-, foi uma boa experiência. O mercado derruba qualquer um com sua instabilidade, bengala friend. Você tem planos para um futuro próximo? Quero apenas morrer fazendo aquilo que adoro: HQs e, se possível, conseguir publicar esse monte de projetos que criamos nos últimos três anos, antes de pendurar a chuteira, é claro (Rsss…), se o \”Chefe\”, lá em cima, permitir! Na vida tudo tem seu tempo. Tempo de plantar, tempo de colher. Acho que hoje o \”Chefe\”, lá em cima, tá deixando eu colher as boas coisas q plantei, como sólidas amizades, bons contatos, conhecimento lúcido do mercado, etc… ou talvez ELE está me retribuindo pelos perrengues q já enfrentei… sei lá. De qualquer forma, tenho que por as mãos pro céu. Acho q tirando os grandes eu fui o pentelho q mais publicou seus próprios personagens, nos últimos anos. A criação-Mor foi o Pequeno Ninja, um campeão de venda: 125 mil exemplares, na época. Vou reclamar, do quê?
Em sua entrevista com o Emir, você chegou a cogitar os webcomics. Você se vê fazendo quadrinhos direto pra net? E em cima dessa pergunta, não estaria aí a solução para o entrave chamado distribuição?
O papo com o Emir foi legal, o cara é antenado na realidade, chuta o pau da barraca, dizendo verdades e não tá nem aí pra hora do Brasil. Adorei conhecer essa extraordinária visão de mercado que ele tem.
A maioria dos autores são iludidos. Só pensam no lado artístico e esquecem a parte mais importante: a comercial. Sucesso só se obtém com boas vendas. Agora ser badalado pelos fãs é outra história, não tem nada a ver com sucesso de verdade, sucesso comercial. Mas, como tá cheio de nego narcicista nessa merda…
SOBRE OS WEBCOMICS
De fato, estamos estudando pra fazer algumas experiências nesta área… mas, não entendo porra nenhuma disso. Vou ter q investir em gente nova q saiba como a coisa funciona, mas nunca vamos deixar as bancas. Esta ainda é a grande praia e não vai morrer nunca.
O maior problema das webcomics é aprender a lidar com os programas e fazer a coisa gerar lucro.
Pra encerrar, Tony, você poderia deixar uma mensagem para seus fãs e suas considerações finais?
Mensagem para os fãs dos meus personagens, você quis dizer…
Fantasticman – de um jeito ou de outro – deve sair este ano. Aguardem!
Um recado: peloamordedeus, galera, não coloquem downloads inteiros de HQs grátis na WEB. Isso só avacalha ainda mais o mercado. Pensem nisso, pois vocês estão estragando o seu próprio campo de atividade profissional. Já detonaram a indústria do disco com a MP3, vão querer, agora, também detonar as bancas e editoras.
Nós e os editores, devemos trabalhar em conjunto, em perfeita sinergia, pois um depende do outro. Outra coisa importante: nós somos as HQs nacionais, se pararmos ela morre. Go ahead, friends! A batalha continua!
Valeu, Vagner! Muito sucesso!
See you later, cowboys!
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