Casamento é sempre a mesma coisa: há a cerimônia religiosa, onde geralmente o padre, ou pastor, enfim, fala um pouco sobre como é a idéia de se viver a dois numa união comandada por Deus – mas ninguém ouve, pois todos estão já com a cabeça na festa. Talvez os próprios noivos estejam pensando noutra coisa ainda, mas, vamos lá…
Depois do martírio, há finalmente os comes e bebes da festa, as músicas – geralmente é funk!
Fui numa dessas, com alguns amigos, o Rui, Marv (nós o chamamos de Marv porque quando assistiu ao filme Sin City, ele decorou todas as falas do personagem de Mickey Rourke, Marv) e o China (porque ele é japonês, mas o caso é que China odeia outros japonses e para não torturá-lo muito, resolvemos chamá-lo de… bem, de China). Eu nunca bebo. Nunca! Apenas Coca-Cola, guaraná, essas coisas civilizadas. Porém, meus amigos não são bem assim. Rui sempre diz que Coca-Cola o deixa “empachado”, mas sempre toma e assim sempre diz que Coca-Cola o deixa empachado e faz o mesmo barulho com a boca, batendo um beiço no outro, me deixando puto! Ora, por que bebe então, cacete?! Enfim… China e Marv já não tão nem aí e atacam as cervejas.
Feitas as apresentações, vamos seguir para o que importa: o assunto que me levou a escrever isso. Geralmente, após o jantar, há os espertões que querem arrancar uma grana dos convidados para financiar a viagem dos noivos. E começam a bater latas, gritar e constranger todo mundo com o famigerado “corte da gravata”. A festa – essa, particularmente falando – estava meio fraca. Marv garantiu que ali eles não arrecadariam nem 500 Reais. Eu apostei que chegariam ao valor. E lá estavam os caras batendo latas, gritando e enchendo o saco de todo mundo. Uma vez, noutra ocasião, estávamos num casamento onde a cerveja era a mais barata possível e pra piorar estava morna. Ou seja, fui obrigado a suportar a reclamação de China – que, literalmente, reclama! Outro amigo nosso também estava por lá, junto com a família, com a namorada, fazendo aquele gênero de bom-moço, que nasceu para casar e tem grana na carteira. Bem, isso até começar o tal “corte da gravata”, porque depois, como se pudesse dissipar como fumaça, o cara sumiu da festa, indo beber junto com a namorada, lá fora, bem longe da turba. O fato é que nessa situação específica, quem estava liderando a cruzada para arrebanhar a grana era o próprio noivo e qual não foi nossa surpresa ao vê-lo liderar uma perseguição implacável ao nosso amigo, na busca por cinco reais em troca de um mínimo pedaço de gravata. Foi uma das cenas mais surreais de minha vida. Talvez um belo exemplo do que é o capitalismo, sei lá.
Voltando para esse casamento, também passamos pelo crivo da gravata, gravamos nossa “ponta não creditada” no filme dos noivos e seguimos em frente. Chegou a hora de entregar a grana e fui pessoalmente conferir se havia ganho a aposta ou não. Quando vi aquele montante de notas de dois reais, um frio me cortou a espinha e dei a aposta por perdida. Pra minha surpresa, ao ouvir a contagem final – em meio a UMA nota de R$ 100, UMA de R$ 50, UMA de R$ 20, e várias moedas – a arrecadação fechou em R$ 750,00!!! Fiquei duplamente aliviado. Primeiro, por ter vencido a aposta e segundo por ver o noivo mais tranquilo. Aí, resolveram imortalizar aquela situação vexatória. Os noivos deitados sobre as notas. Até aí tudo bem; os noivos estavam felizes, os convidados também, e o pessoal da reportagem fazendo seu trabalho. Então, um engraçadinho – sempre tem um que se acha mais estrelão – pegou a nota de cem, a lambeu e colou na testa do noivo. Aquilo me chacoalhou as tripas! Naquele momento eu quis ser o noivo. Se pudesse entrar no corpo do noivo numa troca psiônica naquele momento, eu ia dar uma porrada tão forte na boca do filho-da-puta que colou aquilo em mim, que ele só veria a dentadura no dia seguinte, após sua evacuada matutina.
Cara, há coisas na vida que você tolera. Como Marv – um penetra, já que ele não foi convidado – inconformado pelo atendimento dos garçons, reduzida quantidade de carne e pelas músicas que o dj tocava – em sua maioria, funk. Pelas confabulações de Rui a respeito das capacidades fluídas da Coca-Cola e as presepadas que China arma. Mas agora, um cara lamber uma nota – que sabe-se lá Deus por onde passou – e colar na tua testa, aí já é demais pra qualquer um!!
Adeus, baby, e amém!
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