Vanderlei Luxemburgo possivelmente não sente muito orgulho de sua constrangedora saída do Flamengo em fevereiro de 2012.
Segundo consta, o clube havia acertado com seu sucessor, Joel Santana, antes mesmo de sua saída - na verdade, Luxemburgo estaria a frente do time no jogo da volta na pré-Libertadores daquele ano, quando venceu o Real Potosí e entrou para a fase de grupos; e não passou dali, numa estratégia digna de um episódio do Porta dos Fundos.
- Eles vão me tirar--- - disse um resignado Vanderlei um dia antes de sua saida, horas antes da decisão, segundo o GE.com.
Dezesseis meses antes, era Vanderlei quem chegava, em substituição a Silas, cuja curta passagem se findou com a falta de resultados. Silas havia sido contratado por Zico, então Diretor Executivo de Futebol e maior vitória da gestão Patricia Amorim, que ainda contou com as contratações de Ronaldinho e César Cielo. Zico saiu quatro dias antes da chegada de Vanderlei.
O Flamengo ocupava a 15ª posição do Campeonato Brasileiro, apenas três acima da linha de corte da Zona do Rebaixamento.
Vanderlei conseguiu dar um novo fôlego ao ano tão conturbado de ambos: o Flamengo passava pelo crivo do primeiro ano da gestão Patricia Amorim, era o atual campeão brasileiro, mas sofreu uma de suas maiores tragédias ao ter o então capitão da equipe, Bruno, suspeito e depois condenado pela morte de sua suposta amante, Elisa Samúdio. Além disso, dois dos maiores atletas da história do clube sofreram processos de fritura e calúnias. Zico, como relatado acima, havia chegado para comandar o futebol, mas saiu rapidamente quando foi vítima de supostas denúncias que sequer faziam sentido. Já Andrade, treinador do Hexa, sofreu muito até ser demitido após classificar o time para a segunda fase da Libertadores daquele ano.
Para você ter uma ideia da dificuldade de se terminar o ano em paz, o Flamengo disputaria sua última partida do Brasileirão em casa, contra o Cruzeiro e bastaria uma vitória simples para se garantir sem maiores problemas na série A. Começou vencendo, com gol de Diego Maurício. Porém, o Cruzeiro virou e deixou um Flamengo desesperado, aguardando as outras partidas para saber se ficaria ou não na elite. Ficou. Terminou o campeonato na 14ª posição, com 44 pontos.
Alívio geral, segue-se um novo ano para o clube rubro-negro.
E, de fato, tudo se fez novo: se em 2010, o time era modesto, o ano seguinte trouxe astros: o goleiro Felipe, campeão da Copa do Brasil de 2009 com o Corinthians, foi um pedido pessoal do treinador. Thiago Neves, fundamental na chegada do Fluminense à final da Libertadores de 2007. E, claro, o multidisputado, Ronaldinho, duas vezes melhor do mundo; campeão da Copa de 2002 e cabeça pensante do Barcelona que encantou o mundo entre 2003 e 2005, pré-Guardiola.
Vanderlei gastou toda a sua estratégia para montar um Flamengo num 4-2-3-1 e deixar sua estrela jogar na mesma posição que atuava no clube merengue: no corredor esquerdo; com Thiago Neves como um meio clássico e Deivid à frente, como o camisa 9.
Para trás, tínhamos Airton - campeão de 2009 com Andrade - Renato Abreu e a jovem promessa Luis Antonio, que alternava com outros jovens valores: Luis Felipe [Muralha] e Thomás. Leonardo Moura e Júnior César eram os laterais, enquanto Alex Silva [o Pirulito] e Welington se mantinham na zaga.
O Flamengo de 2011 foi campeão carioca invicto e se manteve assim no Brasileirão, por 16 rodadas; dessas, foram nove empates.
De certa forma o recorde não fez bem ao time, pois o excesso de empates impactou na contagem final de pontos e, enquanto se manteve fungando no cangote do líder Corinthians durante todo o primeiro turno, no segundo, perdeu fôlego e viu rivais locais passarem sem dificuldades - para você ter uma ideia, o Vasco chegou a liderar o campeonato, terminando na vice-liderança.
Obviamente que não foi apenas esses detalhes que fizeram do Flamengo de 2011 um time que pode entrar para a história; há também o famigerado "jogo da história", contra o Santos, de Neymar, na Vila. Aquele 5 X 4 com direito a hat-trick de Ronaldinho e o golaço que fez Neymar levar o Puskas de gol mais bonito da temporada.
Porém, houveram outros pontos fantásticos na trajetória daquela campanha: um 5 X 1 com direito a hat-trick de Thiago Neves diante de um atônito Cruzeiro; 4 X 1 pra cima do Atlético/MG e uma virada fora de casa para cima do São Paulo, por 2 X 1 com uma partidaça de Rogerio Ceni, fechando o gol na ocasião. Flamengo levou mais de dez anos para vencer novamente o São Paulo no Morumbi.
Houve também a vitória de virada para cima do Fluminense. Mesmo sem sua maior estrela, o Flamengo não se acanhou e, com dois de Botinelli, saiu vitorioso contra o rival.
Além disso, o Flamengo cravou dois artilheiros no top 10 do Brasileirão: Deivid, com 15 gols e Ronaldinho, com um a menos, 14.
Vanderlei viveu um grande ano e, apesar de não ter se sagrado campeão - ficou em 4º - resgatou todo o orgulho do torcedor rubro-negro com uma campanha muito boa.
Infelizmente, com a virada do ano, todos os problemas de 2011 estouraram e o caldo entornou; mesmo com o bi-campeonato carioca, o time perdeu Alex Silva, que se recusou a seguir para a pré-temporada por causa de salários atrasados. Vanderlei e Ronaldinho entraram em rota de colisão nessa mesma pré-temporada, em Londrina/PR. E dai por diante, tudo foi ladeira abaixo, até chegarmos ao que foi relatado no início desse texto.
Entre 2010 e 12, o desempenho do treinador à frente do Flamengo foi de 51% de aproveitamento. Razoável se olharmos apenas os números; porém, com belas partidas, um livramento de rebaixamento e duas taças regionais levantadas.
Separados, Flamengo e Vanderlei não conseguiram muitos êxitos. O clube perdeu suas duas estrelas, Ronaldinho e Thiago Neves, mas recebeu uma nova, Vagner Love; caiu ainda na fase de grupos da Libertadores; e acabou fazendo uma campanha modesta no Brasileirão, graças à chegada de Dorival Jr.
Já Vanderlei foi para o Grêmio e não conseguiu muito sucesso por lá.
Dois anos depois, Vanderlei volta ao Flamengo para sua última passagem, salvando o time da última colocação do Brasileirão.
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