– saudade. – É? – Sim. – Por q? – Sei lá. Senti. – kkk. – vou praí essa noite. – Fazer o q? – Te ver. – não! – Achei que queria. – quero. – Então… – Não agora. – Sabe que estou louco por você. – Todos dizem isso. Você nunca me viu. – Irei vê-la. Amanhã. – E se você se decepcionar? – Não irei. – Como sabe? – Eu sei. – Como você tem certeza de que está louco por uma pessoa que só conhece pelo MSN? – Porque eu conheço o principal dessa pessoa: o coração. – E será que você conseguirá dizer todas essas coisas bonitas frente a frente comigo? – Acha que eu não tenho coragem? – Só estou curiosa. – Você vai ver. Amanhã de manhã estarei aí. – Por favor, não faz isso. – Você não quer que eu vá? – …Eu não sei. – Ué, nós passamos seis meses conversando todo santo dia, dizendo um pro outro o quanto queria o encontro. Agora que estamos prestes… – Por favor, não me pressione. – eu… – Olha, você não é o primeiro cara que diz um monte de coisas bonitas pra mim. Teve um até que disse que me amava. Na frente do computador todo mundo diz “eu te amo”. Mas a realidade é diferente, entende? Eu não quero estragar essa boa relação que nós temos. – Você prefere manter um namoro virtual, platônico, a encarar um desafio de conhecer uma pessoa? – É que… eu não posso. Não agora… – Por que? – Porque… eu estou namorando. Não seria justo. – Tudo bem. Vou como um amigo. Só quero estar na sua frente, ver você, ouvir a sua voz, saber como você caminha, como sorri, como fala, como se alimenta, essas coisas… – ai. – Bom, eu já me decidi. Pego o ônibus hoje no final da noite e de manhãzinha estarei aí. – Acho melhor não. – Já é.
Assim Eurico define sua conversa virtual com Anita. Se conheceram por intermédio de uma prima dela – Matilda – que por sua vez, ficou com um amigo dele – Michel. As conversas sempre tiveram esse direcionamento: Eurico investia na idéia de conhecê-la pessoalmente e ela recusava, saía pela tangente, inventava alguma desculpa. O que segurava Eurico é a distância enorme entre ambos: 300km. Eles residem em lados opostos do Estado. E uma viagem como essa levada apenas para conhecer uma pessoa era uma odisséia que Eurico não estava tão inclinado assim a encarar. Mas o sentimento, a curiosidade e o gosto pela aventura falaram mais alto. Ele levantou o dinheiro e se decidiu por ir.
Manhã seguinte na cidade de Aviadores. Cidade pequena de aproximadamente dez mil habitantes. Sem prédios, só casas mesmo. Uma cidade para se morar. O ônibus que traz Eurico encosta em sua vaga. Após vários outros passageiros descerem, chega a vez do rapaz. E numa puxada de ar, ele sente as \”vibrações\” da cidade de Anita. Um sorriso em sua face aparece de forma automática. Ele caminha para fora da rodoviária com uma mochila nas costas. Então uma voz familiar lhe chama: – Oi, bonitão! Rapidamente, Eurico olha e seus olhos encontram alguém familiar. Encostada no capô de um Golf preto, uma morena muito sexy, de 1,82m de altura, com um cabelo curtinho e óculos escuros na cabeça, segurando sua franja. Seu sorriso já diz muita coisa. – Tudo bem? Eurico sorri de volta e responde: – Joia. E contigo? – Tudo Mara. Eles se aproximam. Eurico a cumprimenta com um beijo no rosto e um abraço apertado. – Você veio mesmo..? – ela pergunta. – Estou aqui, não estou? – ele responde rindo. – É… está. – ela comenta, não muito feliz ou triste. – Bom, Vamos nessa? – Claro. Eurico então entra no carro de Matilda e eles saem à toda velocidade com o som do carro nas alturas, rumo ao centro de Aviadores.
Café Quatro Coiotes. Um dos únicos lugares interessantes para jovens se encontrarem na cidade. Lá dentro, um grupo deles joga conversa fora enquanto tomam sua Coca-Cola coletiva. Vários copos na mesa, algumas garrafas de refrigerante. Ao todo o grupo é formado por dois rapazes, Rodrigo e Silvio, e quatro moças, Anita, Iolanda, Sandra e Renata. Rodrigo e Anita são namorados há um tempo. Já Silvio está ficando com Renata. Mas já ficou anteriormente com Anita, Matilda e Iolanda. Rodrigo é um rapaz bastante desencanado e não tem ciúmes de Anita, por isso assumiu um namoro sério com ela. Ele tem planos. Então, enquanto conversam – Rodrigo está num papo animado com Silvio, num canto da mesa, enquanto Anita se diverte com Iolanda [Sandra está entre elas. Renata está abraçada com Silvio] – chega Matilda, com sua alegria ímpar, anunciando: – Oi, pessoal, quero lhes apresentar um amigo… Anita, que está encostada em Rodrigo, engole em seco. Já prevê quem é a pessoa. Como se pudesse, o tempo desacelera. E em câmera lenta, Eurico entra em cena. É apresentado a todos, sempre muito sorridente e simpático. Anita sente o coração na garganta. Finalmente estão frente a frente. Ele cumprimenta Rodrigo. Chega a vez dela. Matilda a deixa por último, de propósito. – Tudo bem? – ele pergunta. – Tudo. – ela responde. Enfim, todos se sentam. Matilda senta ao lado de Eurico – e pisca sorridentemente para Anita -, que está ao lado de Rodrigo, encostado em Anita, com Sandra a seu lado e Iolanda ao lado desta. Renata e Silvio completam a mesa. Rodrigo conversa com Eurico. Ao lado dele, Anita semicerra os olhos em sinal de situação difícil. – E ae, o que te trouxe à cidade? – pergunta um sincero Rodrigo. – Bom, a curiosidade. Conheço algumas pessoas daqui, pelos chats e tal. Acabei fazendo uma forte amizade com algumas… tipo a Matilda, por exemplo. – A Matilda conhece todo mundo. – responde Rodrigo, tirando um sarro. – É verdade. – diz Eurico. – Seu besta! – exclama Matilda. – Mas sério… você é o novo namorado dela? – ele dá risada. Anita, Iolanda e Sandra também caem na risada. – Você é mesmo um idiota, Rodrigo. – defende Anita. – Não, Nita, sério, eu preciso saber… – É idiota mesmo! – ajuda Matilda. Eurico ri. – Apesar de gostar bastante dela, não somos namorados não. – Que pena! E eu que achei que a Matilda tinha desencalhado. A gargalhada é geral. Matilda fica louca com Rodrigo, Eurico sorri envergonhado. As garotas todas ficam bravas com o comentário. – Eu vou te matar, Rodrigo! – diz Matilda. E enquanto Rodrigo e Matilda ficam nessa discussão que não leva a nada, Anita não tira o olhar de Eurico, que por sua vez, corresponde. O tempo passa e eles continuam ali, conversando e bebendo. Todos acabam por gostar de Eurico. Anita não lhe tira os olhos. Rodrigo não percebe. Então, quando decidem ir embora, Rodrigo chama o rapaz e lhe faz um convite: – À noite, vai rolar uma festa na minha casa. Aparece por lá. Vai ter umas cervejas, um baralho, vai ser legal. – Tudo bem, vou sim. – Ótimo! Vá com a Matilda; ela sabe onde é. Matilda fuzila Rodrigo com os olhos, devido à conotação que ele adicona ao \”vá com a Matilda\”. – Valeu. – agradece, Eurico.
Na festa, Eurico é apresentado a todos. Sorrindo e conversando bastante, ele é notado pelas garotas, dança com algumas e bebe bastante. Mas não tem jeito. Seus olhos sempre se voltam para Anita que, embora sempre abraçada por Rodrigo, aconpanha os passos do rapaz aonde quer que ele vá. A madrugada chega, a última queda de truco é vencida. Eurico resolve ir embora. – Já vai por que, bróder? – pergunta Rodrigo, com um copo de vodca na mão – Fica mais. Mas Eurico já está decidido. Já abraça o novo amigo: – Obrigado pela festa, irmão. Mas tou cansadão. E viajar de dia num ônibus não é fácil. Quero pelo menos dormir umas duas horas antes de ir. – Tranquilo. Bom te conhecer. – Igualmente. Então, Eurico pega o caminho para o Hotel. Anita se aproxima de Rodrigo. – Ele já vai embora? – É. Precisa tomar um banho. Não quer chegar em casa fedendo a pinga. – ri, Rodrigo. – Humm… – Anita contempla a Lua por um tempo. Até que… – Acho que vou pra casa. – Já?! Mas eu achei que a gente ia ficar juntos essa noite. – Não! Esses bêbados desses teus amigos já tão me enchendo. Rodrigo então entra na garagem da própria casa e grita: – PAREM DE ENCHER MNIHA GAROTA! – e volta, rindo bastante – Pronto. – Ah, tá. Ele então a abraça: – Fica comigo, amor? – Não posso. Tenho que ir pra casa. – Hurm! – ele fica desapontado – Vou te levar pra casa então!
Logo, o carro de Rodrigo estaciona em frente à casa de Anita. Ela desce, dá a volta no carro e se despede com um beijo pela janela do veículo. Ele se vai. Ela ergue o braço e dá \”tchau\”. O carro dele desaparece no horizonte. Anita finge que entra em casa, mas na verdade, caminha para o lado oposto de onde o carro de seu namorado rumou.
De repente, estamos frente a uma porta fechada. Pelo lado de dentro. Vemos um olho mágico. A campainha é acionada. Eurico se aproxima, olha pelo olho mágico. Gira a chave e abre a porta. – Oi. – diz Anita, com um sorriso radiante. – Você..? O que..? – Eurico fica confuso. – Não aguentei. Vim te dizer que adorei te encontrar, que queria mesmo te ver, e sua visita foi a coisa mais incrível que já me aconteceu. E o que eu queria mesmo era ter passado todos os minutos de hoje ao seu lado. E… como eu quis fazer isso! Anita puxa Eurico e se pendura em seu pescoço enquanto o beijo acontece de uma forma até agressiva. Eurico a encosta na parede e o beijo rende. Ele está sem camisa, só de toalha, denotando que iria tomar um banho. Enquanto ele a aperta na cintura, ela passa as mãos pelos cabelos dele. Então, eles encerram o contato. E ela sorri ainda deolhos fechados. – Ahhh… – ela exclama – …eu sabia que era bom. Mas precisava provar. Eurico sorri. – Boa viagem de volta… E ela se vai. Eurico fica ali, parado, nem muito o que dizer. Ele vê a garota com quem conversou durante tanto tempo, por uma tela de computador, desaparecer nos corredores do Hotel. Então, ele volta para seu quarto. Tranca a porta. E começa a rir. – Eu não posso acreditar que ela veio aqui… Eurico ri mais ainda. E concorda com o comentário de Matilda, deitada ali, coberta apenas pelos lençois, e rindo bastante também. – Segredo nosso. – ele diz. E ele volta pra cama.
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