O Festival de Cannes terminou no último domingo e, quem esteve lá, pôde acompanhar algumas reabilitações justas em carreiras, além de filmes produzidos do próprio bolso - também chamados de projetos do coração.
Megalopolis, o filme-evento que Francis Ford Coppola tenta tirar do papel há mais de 40 anos, finalmente viu a luz do projetor; porém, financiado pelo próprio realizador, quando nenhum estúdio quis bancar aquele projeto.
Da mesma maneira, Horizon, de Kevin Costner, só conseguiu chegar lá, graças a sua própria vontade, uma vez que também financiou a própra ideia. Nesse caso, inclusive, há um agravante - ou três: Horizon é uma tetralogia. Sim, você começa a assistir ao primeiro, com estreia prevista para junho, espera pelo segundo, que deve ser lançado em agosto. E, depois, virão o terceiro e, se tudo correr bem, o quarto.
Perguntado sobre isso - o tamanho de seu enredo e, evidentemente, por causa disso, se Horizon não poderia/deveria ser levado ao streaming - ele simplesmente disse que veio do cinema e é lá que quer ficar. É um projeto arriscado, com custos superiores a 100 milhões de dólares, mas ele não se deixará intimidar e espera chegar até ao último capítulo.
Horizon, segundo o próprio realizador, vem sendo concebido desde 1988, ou seja antes dele vencer o Oscar e se tornar respeitado como realizador, por Dança com Lobos, e surgiu como uma espécie de versão para a saga de Butch Cassidy. Com o tempo, as coisas foram saindo dessa vertente e ganharam vida própria. Costner queria mostrar como uma cidade era criada no Oeste selvagem; como as famílias se estabeleceram mesmo em territórios índios.
E isso leva tempo, até porque você não consegue realizar um filme apenas mostrando a construção de uma cidade. Bem, consegue, mas Kevin Costner não queria parar aí.
No início do século, ele dirigiu um filmaço chamado Pacto de Justiça, um faroeste modesto que mostra dois homens simples que se envolvem numa batalha contra uma quadrilha de ladrões de gado. Com o êxito de Pacto de Justiça, Costner quase conseguiu o sinal verde da Disney para botar Horizon nos trilhos.
Vinte e um anos depois, Horizon chegará aos cinemas, mas pelas mãos e bolso dele mesmo. Claro que há um acordo com a Warner, de distribuição interna - ou seja, nos cinemas estadunidenses; mas para o circuito internacional, ele terá que negociar por fora.
Justamente por isso, Costner esteve em Cannes: apresentou o filme, mostrou tudo o que pode e negociou distribuições.
Horizon tem um elenco gigantesco e estelar, encabeçado, além de Costner, por Siena Miller, Sam Worthington, Jena Malone, Michael Rooker, Kathleen Quinlan, Will Patton, entre outros.
Em meio a tantos lançamentos ruins nos cinemas, com produções caríssimas, que sequer valem o roteiro, ter produções como Horizon e Megalopolis, além de The Shrouds de David Cronenberg - que havia sido concebido como uma série encomendada pela Netflix, mas acabou pulando fora do barco quando viu para onde iria o segundo capítulo - sendo lançadas, é um bálsamo.
Afinal de contas, quem aguenta mais Velozes & Furiosos, Missão Impossível ou qualquer outro filme do Dwayne Johnson?
Quem suporta "a nova grife" de Chrstopher Nolan ou "o último filme" de Quentin Tarantino?
Nada como ideias diferentes e tramas distintas para trazer, ou resgatar, o grande público aos cinemas.
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