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Foto do escritorVagner Francisco

JEAN-CLAUDE VAN DAMME FAZ 60 ANOS

Atualizado: 1 de ago. de 2021



Não tenho a exata lembrança de quando vi um filme do belga, Jean-Claude Van Damme pela primeira vez; ou foi em 1988, no cinema, com o filme O Grande Dragão Branco; ou foi Retroceder Nunca— Render-se Jamais em que ele interpretava o capanga do vilão e seu cartão de visitas era o famoso espacate.


De qualquer maneira, ali estava um cara que iria furar o que parecia ser o eterno olimpo dos herois de ação. Sim, porque, quando se tratava de filmes de ação, vinham à cabeça apenas Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e Chuck Norris. O resto era resto.

1988, aliás, foi o ano em que outro cara iria furar esse olimpo: Bruce Willis interpretando um certo John McLaine.

Enfim, lançando um filme atrás do outro, com produções limitadíssimas histórias comuns, Van Damme ia criando uma legião de fãs que queriam imitá-lo, ora batendo em todo mundo, ora, pegando as mulheres bonitas. 

O Grande Dragão Branco, por exemplo, tinha o oscarizado Forest Whitaker como coadjuvante e, a despeito de seus filmes subsequentes, tinha uma produção até que bonita.

Já Cyborg, que foi filmado antes e lançado depois, era paupérrimo em termos de qualidade técnica – para você ter uma ideia, o diretor fez o filme a partir das sobras de produção dos finados Mestres do Universo 2 e Homem-Aranha, da Cannon. Porém, que história interessante. Que inteligência em falar de pragas, inteligências artificiais e futuros apocalipticos em pleno ano de 1987, quando a única referência mais próxima seria— O Exterminador do Futuro!

Claro que uma hora Hollywood iria olhar para o autointitulado \”Músculos de Bruxelas\” e tentaria fazer deste um astro.

Então, surgiu a primeira \”superprodução\”: um produtor que entendia de thrillers de ação, Mario Kassar; um diretor alemão que adorava megalomania e vinha chamando atenção com filmes medianos, como Estação 44. Estou falando de Rolland Emerich, hoje conhecido por Independence Day; O Patriota e O Ataque.

Além disso, havia outro cara musculoso, um sueco, que apareceu pela primeira vez nas telas como um vilão de 007; depois encarou Stallone em Rocky 4 e, finalmente encarnou He-Man num filme pobre da Cannon.

Dolph Lundgren chamava atenção do público, mas não tanto quanto Van Damme. E a ideia de tê-los juntos num filme era muito interessante. E aconteceu.

E se tornou a maior bilheteria de ambos naquele momento.


Van Damme ultrapassou isso em duas outras ocasiões: com Timecop e Street Fighter. Já Lundgren, eu não sei.

De qualquer maneira, Soldado Universal deu muito certo, ganhou três sequências e até mesmo uma minissérie em quadrinhos.

Van Damme foi para o time de cima de Hollywood. E aí começou o problema.

A primeira escorregada se deu quando ele falou que queria ser o novo Anthony Hopkins – que na época estava com moral devido ao Oscar por Silêncio dos Inocentes. Imagine a comparação, vinda de um cara cuja marca registrada em seus filmes era mostrar a bunda.

Depois, largou a segunda mulher – ele havia largado a primeira na Bélgica, quando decidiu ir para Hollywood – por uma loira que parecia ter saído de seus filmes; traiu essa terceira, grávida, com a cantora australiana Kyllie Minogue, nas filmagens de Street Fighter.

Para piorar, seus acessos de estrelismo: John Woo assinou um contrato de três filmes com a Colúmbia, a serem estrelados por Van Damme. O primeiro foi O Alvo. Mas o ego do belga estava tão inflado que o diretor chinês o abandonou a próxima produção, uma adaptação de uma hq chamada Timecop, que acabou nas mãos de Peter Hyams. Woo fez então A Última Ameaça e A Outra Face.

Enfim, chegou a primeira grande produção de Van Damme a ultrapassar a barreira de US$ 100 milhões em bilheteria – e o filme é redondinho. Acerta em quase tudo.

Depois, veio o famigerado Street Fighter; provavelmente onde tudo se afundou em sua vida. Além do caso com Minogue, Van Damme vivia tão drogado, que não conseguia ir às filmagens.


Numa certa ocasião, um produtor precisou ser chamado para tirá-lo de seu trailer; Van Damme chegou às filmagens com uma garrafa de champanhe na mão.

Tudo deu tão errado em Street Fighter – desde um orçamento medíocre, passando por um diretor novato, um ator respeitado, porém muito debilitado – Raul Julia, em seu último filme – um roteiro que nada tinha a ver com a história do game e— um astro chapado.

Mesmo assim, Street Fighter também passou a marca dos US$ 100 milhões. E Van Damme assinou um contrato de três filmes, com um cachê polpudo.

O problema: apenas o corpo estava nas filmagens; o resto— estava em frangalhos.

Após os fracassos de bilheteria, das tentativas de reabilitação e um afastamento estratégico de Hollywood – já que as festas o levavam para o buraco – Van Damme tentou uma volta por cima com dois filmes: o interessante Replicante e o medíocre Soldado Universal 2.

Dali em diante, ele se tornou mais um dos herois de ação cujos filmes iam direto para as locadoras.

Sua volta a uma tela de cinema aconteceu somente onze anos depois da última; e foi com o vilão Vilain, em Mercenários 2 – que é, de longe, o vilão mais interessante da trilogia.

Agora, o belga estrelará um filme produzido e distribuido pela Netflix, The Last Mercenary.


Van Damme conseguiu de certa forma dar a volta por cima; voltou com a segunda mulher, Gladys Portugues e está com ela até hoje; incluiu um pouco de humor em seus personagens, o que lhe caiu muito bem e até mesmo suas entrevistas são meio cômicas, ele parece querer interpretar a si mesmo, só que um cara mais legal.

Como completou 60 anos no último dia 18, listarei os meus seis filmes preferidos do belga:


6 – JCVD – podemos dizer que alguém teve uma ideia interessante; pegar um cara que tinha todos os predicados para ser um astro hollywoodiano, mas joga tudo pela janela, graças ao ego e às drogas. Basicamente a historia do próprio Van Damme, com um pouco mais de humor e ficção fantasiosa. Para a época, é um Jean-Claude Van Damme diferente que aparece em cena, interpretando a si mesmo. A cena de entrada vale o filme todo.

5 – O GRANDE DRAGÃO BRANCO – doze anos antes, Sylvester Stallone havia aberto seu caminho, estrelando a história de um lutador de boxe que queria ser campeão; e uma luta com o campeão até aquele momento, mudaria a vida de todos à sua volta; e os tiraria da miséria. Rocky, um Lutador ganhou Oscar de melhor roteiro. Em 1984, um menino teve que aprender caratê para se defender de uns delinquentes que insistiam em surrá-lo, só porque ele chamou a atenção da ex-namorada de um deles. Ralph Macchio ganhou fama mundial com Karate Kid. Assim, por quê seria diferente com um cara que queria vencer o Kumite, o evento de lutas secreto que só lutava quem era convidado e o vencedor era então celebrado como o maior lutador do mundo? O detalhe é que o tal lutador precisou desertar das forças armadas para defender o clã que nem era dele. Tinha tudo para dar certo. E deu! E mais, a história é baseada na vida real de Frank Dux. Grande Dragão Branco trouxe uma legião de fãs de artes marciais a torcer por um ator desconhecido e com carisma de sobra.

4 – O ALVO – dirigido por John Woo. As melhores cenas de ação de toda a carreira de Van Damme. Quer mais?


3 – TIMECOP – baseado numa história em quadrinhos, Timecop mostra a privatização da viagem no tempo e, como milícias clandestinas tentam ganhar dinheiro noutras épocas, apagando seus rastros. Van Damme interpreta Walker, uma espécie de Policial do Tempo que intercepta esses estelionatários temporais. Mas, claro, que nem tudo é tão fácil; uma vez que há um senador na jogada e a família de Walker em perigo. Filmaço!


2 – SOLDADO UNIVERSAL – soldados mortos na guerra do Vietnã, cujos corpos desaparecem para serem usados como uma espécie de zumbis a serviço do governo. Van Damme interpreta Luc, um zumbi que vai ganhando consciência e recuperando a memória, que precisa fugir daquilo tudo para salvar uma repórter muito curiosa. Dolph Lundgren? Ah, ele é Andrew Scott, o superior em comando de Luc que, em vida, já era um psicopata. Imagine depois que é revivido— isso sem falar em seu colar de orelhas.

1 – CYBORG – no futuro, não há mais eletricidade, nem nenhum conforto que você possa imaginar nesse momento. E as informações são passadas apenas por implantes em ciborgues, que fazem as vezes de pen drives; uma dessas, tem informações sobre uma cura para uma praga que está destruindo o que resta da humanidade. E ela precisa chegar até um laboratório com essas informações intactas; e como tudo ali é hostil, ela contrata uma espécie de guarda-costas para escoltá-la até lá. Esse guarda-costas chama-se Gibson e é interpretado pelo Van Damme. O problema é que há uma gangue que quer manter as coisas como estão e farão tudo a seu alcance para impedir que a ciborgue chegue a seu destino; além disso, a gangue tem um passado cruzado com Gibson.

Por que eu coloquei Cyborg no topo, uma vez que esse talvez seja o seu filme mais paupérrimo? Pela originalidade, pela criatividade, pelas boas ideias do filme e, principalmente, porque você assiste e nem percebe os defeitos. Tudo funciona em Cyborg. E assim como Soldado Universal anos depois, Cyborg também ganhou uma versão em quadrinhos.

Abaixo, segue duas entrevistas que o belga concedeu a Jô Soares quando esteve no Brasil.

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