E onde encontraram o analista que fruiu a brilhante ideia de resgatar os Vingadores originais, com a justificativa de que os novos não têm apelo perante o público? No Flamengo?
Sim, porquê, Os Vingadores, como uma equipe minimamente parecida com a versão das HQs funcionou até aproximadamente Capitão América: Guerra Civil e, creio, a bilheteria não foi problema ali. Já Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato abraçaram todos os personagens que já haviam aparecido no MCU, sendo pertencentes à equipe ou não.
Um belo exemplo é Dr. Estranho. Ele se tornou um vingador ou não? A meu ver, a resposta é negativa, uma vez que ele esteve à disposição para ajudar aos outros seres superpoderosos numa guerra contra um genocida cósmico.
É curioso como a sociedade do entretenimento de massas, ou consumidores de conteúdo, compram ideias, pagando inclusive em Euro, para ficar mais caro.
“O problema dos filmes Marvel é que o público não mais se importa com seus protagonistas, em consoância com a Fase 1.”
Verdade! [contém ironia]
Capitão América: O Primeiro Vingador - orçamento de US$ 140 milhões; bilheteria de US$ 370 milhões. Resultado: filme praticamente se pagou, uma vez que precisamos calcular os valores de bilheteria em 50%, já que há divisão entre distribuidora e cinemas.
Assim sendo, mesmo com infinidade participações especiais de estrelas comprovadamente talentosas, como Hugo Weaving encarnando o vilão Caveira Vermelha, ou Tommy Lee Jones, como o Coronel Chester Phillips, e a total falta de confiança no protagonismo de Chris Evans, o longa não foi lá essas coisas em termos de resultado.
Thor, de 2011, recebeu um orçamento muito parecido com o do Capitão: US$ 150 milhões; a bilheteria também foi um pouco melhor: quase US$ 450 milhões. Resultado: mesmo com um protagonista até então anônimo - lembre-se que Chris Evans já havia estrelado dois filmes do Quarteto Fantástico para a Fox - Thor rendeu mais e fechou o caixa com pequeno lucro.
Onze anos depois, Thor: Amor e Trovão recebeu um polpudo orçamento do US$ 250 milhões para uma bilheteria total de US$ 761 milhões. Resultado: mais de US$ 100 milhões de volta aos bolsos dos investidores.
“Ah, mas Thor é um dos originais, não conta.”
Tudo bem.
Homem-Formiga, de 2015 - ou seja, Fase 2.
Orçamento de US$ 130 milhões, com uma bilheteria final de US$ 519 milhões.
Noutras palavras, o filme se pagou e abriu a possibilidade de uma sequência sem precisar investir mais.
Homem-Formiga & Vespa: Quantumania recebeu um orçamento de US$ 200 milhões e penou para fechar em US$ 476 milhões.
Mesmo com queda na bilheteria, ainda assim a produção se pagou.
Perceba que, do primeiro para o terceiro filme, houve uma queda de faturamento, ou seja, de público. As justificativas são variadas: desde um cenário pós-Disney+, pós-pandemia, onde os lançamentos chegam mais rápido às plataformas, dando às famílias a opção de assistir no conforto do sofá. Até roteiro ruim; protagonistas sem carisma; tramas descartáveis e pouca relevância.
Ou todas essas coisas.
Doutor Estranho, de 2016.
Orçamento de US$ 165 milhões para uma bilheteria de US$ 678 milhões. Resultado: se pagou e ainda garantiu uma sequência.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.
Orçamento de quase US$ 300 milhões - dizem, estourou em US$ 100 - com uma bilheteria batendo no US$ 1 bilhão. Resultado: se pagou e ainda financiou um Homem-Formiga 3.
Compreenda que o dinheiro não é problema.
Afinal de contas, se o problema é resgatar talentos que pavimentaram o MCU vencedor, sejamos francos, o primeiro da fila deveria ser Joss Whedon!
Sim, porque Whedon foi o responsável divisor de águas quando, seu até infantil, Vingadores, de 2012, com um orçamento de US$ 220 milhões, explodiu a banca, resultando em US$ 1,5 bilhão, botando o filme no mapa das maiores bilheterias da história!
Talvez você não saiba, mas Kevin Feige planejava um filme da maior equipe de super-herois, com roteiro de Zack Penn - que havia escrito, entre outras coisas, um proposta para Watchmen. A cadeira de diretor não estava fácil de ser preenchida. Jon Favreau, dos dois primeiros Homem de Ferro parecia ser a opção óbvia, mas a impressão era a de que ele não estava a fim.
Louis Leterrier, de O Incrível Hulk e Fúria de Titãs, se ofereceu. Mas não rolou---
Feige fez, então uma aposta que se mostrou certeira: buscou na TV um apreciador de HQs, criador de séries e personagens femininos de forma ímpar, bebericando em fontes altamente qualitativas.
Joss Whedon sempre se declarou um fã de Kitty Pryde, talvez a personagem feminina mais famosa dos X-Men, nos anos 80: Shadow Cat. Ou Lince Negra.
Whedon jogou tudo o que havia sido escrito, ou idealizado até então, fora e começou a escrever um roteiro do zero. Talvez a contribuição mais substancial para a engrenagem do grupo tenha sido o formato da participação de Bruce Banner/Hulk. Conhecedor das HQs, o roteirista/diretor encontrou o meio ideal para manter o personagem inserido no time, mesmo quase não se transformando no gigante verde. E a escolha por Mark Rufallo para interpretar o cientista foi perfeita.
Foi de Whedon também a fragmentação de tempo de tela para que não houvesse, de fato, um protagonista no grupo - embora o Capitão América tenha ganho uns minutos a mais que os outros.
Houve também a criação da splash page na tela do cinema - aquela câmera que rodeia a equipe no clímax do filme.
Além de entregar um blockbuster inesperado, Whedon também criou uma nova série para a Marvel TV: Agentes da SHIELD, cujo episódio-piloto ele escreveu e dirigiu.
Os problemas para Whedon começaram com A Era de Ultron, cuja responsabilidade pelo “fracasso” tenha caído toda em suas costas; porém, há digitais de outros produtores no formato irregular da produção.
Sendo bem sincero, não gosto de nenhum desses filmes, porém compreendo a construção das tramas, a inclusão dos personagens e até mesmo a forma que aos laços foram se estreitando. Não é fácil fazer algo do gênero, pois você está lidando com personagens existentes naquele universo e, um passo em falso e, o público poderia rejeitar tudo aquilo.
E, mesmo que ninguém pegue o telefone e ligue para Joss Whedon, ainda assim, o problema está longe de ser a falta de identidade do público para com os personagens que estão aparecendo nos novos longas.
O problema, de fato, está na escolha de roteiristas e diretores, principalmente quando os mesmos não compreendem a obra que têm em mãos.
Chloé Zhao, por exemplo, creditada como roteirista e diretora de Eternos, sequer sabia do que se tratava toda aquela saga e nem conhecia Jack Kirby.
Culpa dela? Em parte. No entanto, se a DC a tivesse convidado para dirigir um longa do Homem-Animal, talvez teria se saído melhor. Porque Zhao gosta de falar sobre o planeta, a natureza e como tudo é tão pulsante. Zhao confessa que quis transformar o planeta num personagem de Eternos. Em Homem-Animal, a Terra poderia ser exatamente a donzela em perigo para o heroi ecológico.
Eternos precisa de alguém com uma visão não tão segmentada, uma vez que se trata de uma civilização. Eu apostaria em Kathryn Bigelow, de Caçadores de Emoção; ou Ridley Scott logo de uma vez!
Começar a saga que deveria suplantar tudo o que Thanos aprontou num filme do Homem-Formiga é bastante anticlímax. Primeiro porque ninguém iria assistir a um filme para ver o que Kang, o Conquistador poderia fazer. Segundo porque o elenco principal é esquálido de talento - falta empatia por todos os lados.
Além disso, o que Homem-Formiga e Vespa poderiam fazer contra um dos maiores vilões do universo?
Falta planejamento ao MCU.
Acredito que Kevin Feige tenha se empolgado tanto com a possibilidade de trabalhar com X-Men e Quarteto Fantástico que acabou deixando de lado todas as produções que estavam em andamento.
O que o futuro pode reservar?
Entretanto esse universo está posicionado num momento ímpar; basta saber trabalhar.
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