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Foto do escritorVagner Francisco

ME SENTINDO COMO VAL KILMER – 2


Há dias em que tudo o que vem a você são coisas ruins. E você tem que administrar isso da melhor maneira possível. É fácil? De jeito nenhum! Sou um cara briguento e chato. Sei disso. Espero demais das pessoas e tenho essa ideia idiota de idealismo.

Uma vez, um amigo me ofereceu uma opção de captação de recursos para meus quadrinhos, algo como o Kickstart. Eu recusei, alegando que, mesmo que eu possa oferecer \”mimos\” como \”making off\”, \”posters\”, \”camisetas\”, aqueles que invistam em meu trabalho antes mesmo dele estar pronto, não acharia certo, porque o leitor não é um torcedor. Um fã não é um sócio ou investidor, ou mesmo um produtor-executivo. Na minha opinião, não podemos ter do leitor algo que ele não possa dar: o dinheiro antes da mercadoria estar pronta. Ele disse \”cara, você é muito chato\”. E eu concordei.

Noutra ocasião, eu estava combinando de me mudar de cidade, iria morar perto de um amigo e ele ofereceu sua casa para eu passar uns tempos até me ajeitar. Orra! Fiquei hontado! Até porque tenho esse camarada como a um irmão. Mas aí, o meu humor corrosivo – que não pode ser sufocado – apareceu: \”Você vai ter que se livrar da sua namorada porque a gente vai passar uns tempos na zona!\” – eu disse. Claro, pra mim era humor, piada, invenção para dar umas risadas. Mas eu estava falando da namorada do cara, mulher por quem ele nutre sentimentos, paixão. Mas eu pensei nisso na hora? Nem me passou pela cabeça. Me colocando no lugar dele, eu também teria ficado chateado.

Outro amigo, outra história. Esse cara é um irmão ideológico. Nos conhecemos há mais 20 anos. Éramos inseparáveis há dez, quinze. Hoje, nem nos cumprimentamos. Às vezes, a amizade parece casamento. Quando há separação, os filhos [amigos de ambos] ficam no meio do fogo-cruzado. Nossa amizade foi-se acabando com o tempo. Só sobrou o passado. Amigos me perguntam: \”Cara, como pode vocês não serem mais amigos?\” Eu não tenho o que responder, heh! Esse amigo viu o meu melhor e pior momentos. Minha fase mais constrangedora e mais positiva. Devo muito a esse meu amigo e já o defendi de situações indefensáveis. Em 2011, já não nos falávamos mais como antigamente. Tive a oportunidade de ver uma HQ minha ser impressa, numa tiragem boa, lançada em pleno FIQ, formato americano, e tudo colorido – mérito total de Eric Ricardo. Fui à casa desse amigo e levei a ele um exemplar. Ele disse que leria e me diria o que achou. Até o momento em que estou escrevendo esse texto, as considerações dele ainda não chegaram ao meu conhecimento. Passei 2012 chateado, realmente imaginando o porquê de nem ao menos uma opinião negativa \”olha, ficou uma bosta\”. Mas não veio. Hoje, consigo entender que tem o lance de sempre termos alimentado o sentimento de lançarmos alguma coisa [já que ele era desenhista]. Tem a ver. O grande caso é que agora eu não me desgasto mais com isso. Segui em frente e acho até que demorei.

Carregar pesos é algo que não te faz bem. Perguntas sem respostas talvez sejam o veneno de nossas almas. É preciso seguir em frente. Mas às vezes não é fácil.

Uma das coisas mais positivas que o ex-treinador da Seleção Brasileira, Dunga, deixou [ao menos para mim] foi uma explicação que ele deu, pré-Copa de 2010, ao explicar o porquê de não convocar Adriano, na época camisa 10 do Flamengo. Ele disse que teve que decidir entre a razão e a emoção, pois cada uma lhe falava algo diferente. Ele optou pela razão.

Estou tentando fazer isso também.

Abraço!


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