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MESTRES DO UNIVERSO – SALVANDO ETERNIA | SAIBA TUDO SOBRE A NOVA SÉRIE DA NETFLIX

Foto do escritor: Vagner FranciscoVagner Francisco

Atualizado: 20 de set. de 2023


Quando convidado a fazer parte da nova empreitada de Mestres do Universo, como showrunner, Kevin Smith levou um tempo para aceitar, pois não tinha a proximidade necessária para com o material original e não sabia exatamente aonde a Mattel – dona da série e fabricante dos brinquedos – queria chegar.


A empresa explicou que queria levar He-Man e seus amigos a três caminhos: um novo longa metragem – que há anos está em gestação – ganhando diversos roteiros, desde Justin Marks a David S. Goyer, que inclusive recusou a oportunidade de dirigir, quando a produção estava nas mãos da Sony; uma nova série animada voltada para as crianças e, uma sequência da finada série dos anos 80, para os saudosistas de plantão.


Smith não se sentia o cara certo para aquilo, pois não se acha nem criativo, nem inventivo, mas poderia sim dar continuidade às aventuras dos anos 80, como já havia feito nos quadrinhos de Demolidor [Marvel] e Arqueiro Verde [DC] – além de Besouro Verde.


Tendo como escudeiros, Ted Biaselli, da Netflix, e Rob David, da Mattel Television, que o direcionavam até onde poderia ir em termos de ousadia, Smith disse que teve carta branca para direcionar a história como bem entendesse.

Inclusive, perguntou se poderia matar um personagem muito importante. Concedido. E matá-lo novamente? Concedido.

Smith o fez.


Veja quem está no centro do cartaz

O showrunner escreveu e dirigiu o primeiro episódio de Mestres do Universo – Salvando Eternia e é exatamente ali que todas as cartas são postas na mesa. Smith disse que teve a grande ideia para a série quando se deparou com a abertura clássica e percebeu que apenas algumas poucas pessoas sabiam que He-Man tinha uma identidade secreta: o Príncipe Adam. E isso daria um bom molho, principalmente se alguém muito importante descobrisse que ambos são a mesma pessoa; ainda mais, num momento irreversível!

Assim, a espinha dorsal da nova série se desenrola.


Por outro lado, pegando a ideia de que Ted sempre foi um grande fã da vilã, Maligna, Smith explorou a teoria do parafuso girando ao contrário: se pelo lado dos anjos, alguém esqueceu de contar a alguém o seu segredo; do lado dos diabos, alguém abandonou alguém num mundo sem magia e sem liderança.

Sendo assim, o que as pessoas poderiam fazer senão se aliar?

Kevin Smith afirma enfaticamente que Teela foi enganada o tempo todo, por seu pai – Mentor; seus amigos – Gorpo e Pacato – e seu, ahn, algo mais – Adam. E quando ela descobre que foi privada de participar do grupinho particular dos conhecedores do segredo do homem mais poderoso do universo, o mundo cai. Mas ele já não havia caído um tempinho antes? Sim, no mesmo episódio!

A atitude da moça só não é pior que a do rei Randor, que expulsa Mentor de Eternia[??].


Alguém estava muito, muito azedo quando escreveu aquele roteiro.


Essa é a Teela - mas apenas no primeiro episódio

Todo autor que se preze, gosta de fazer alterações importantes quando assume obras alheias; o próprio Smith o fez quando assumiu o roteiro da série do Demolidor e numa tacada só, matou o amor da vida do protagonista e um vilão do Homem-Aranha. Foi Smith quem decidiu modernizar o personagem Besouro Verde – oriundo das novelas de rádio, um milionário que se mete a ser detetive, sendo sempre salvo por seu mordono/motorista/guarda-costas, Kato; que na série de TV foi interpretado por ninguém menos que Bruce Lee. Nos quadrinhos, Smith transformou O Berouro Verde nA Besouro Verde.


Então, como não mexer no cânone que está à mão?

E, muita gente achou que Smith transformaria Teela no nova He-Man, ou She-Woman. E isso foi sugerido a ele posteriormente; Smith disse que adorou a ideia, mas eles já haviam fechado as histórias.


E, sim, transformar Teela na nova campeã de Eternia, naquelas circunstâncias faria todo o sentido: He-Man estava desaparecido, Eternia precisava da magia de volta e os vilões poderiam se unir num ataque final ao palácio real – ideia que nenhum deles teve, por mais vilanescos que eles poderiam ser. Ninguém pensou “vamos aproveitar que o He-Man sumiu, o Mentor foi demitido e a Teela se revoltou, para invadir o palácio e tomar Eternia e suas riquezas”.

Dessa forma, Teela assumir o manto da grande heroína, sendo auxiliada pelo próprio pai e amigos, era o mais próximo de aventura interessante que poderíamos ver.

E eles ainda poderiam utilizar a música do Van Halen, She’s the Woman para abrir cada episódio.


Mas, não foi assim.


Smith não estava contente com uma Teela moderna e protagonista; ele queria ver uma Teela rancorosa, magoada e ressentida, que por causa de uma situação não-resolvida, abre mão de toda a sua vida, virando as costas para o homem que a criou, os amigos que estavam com ela o tempo todo e o status que lutou a vida toda para atingir. Teela, a empoderada, abre mão de tudo, para viver ao lado de uma pessoa que mal conhece, apenas porque “perdeu a fé”.


Gorpo, Andra, Teela, Roboto e Maligna

Assim como tempos depois, seu próprio pai, o Mentor, se recusa a ajudá-los porque tem uma nova família – e acaba por ser convencido por uma inteligência artificial. A mesma inteligência artificial que, quando morre, é homenageada por lágrimas. Seria o mesmo que chorar porque o copo de um liquidificar quebrou. Eu até esperei uma piscadela a Star Wars e ver Teela carregando um alquebrado Roboto nas costas como se fosse uma mochila. Mas não, eles o abandonam por lá mesmo como se ele fosse um ser humano. A Bia, do Bradesco, deve estar orgulhosa.


Em meio a ressentimentos e choros, Teela demonstra uma mudança meio que sutil; se antes era apaixonada por Adam, agora, depois da decepção, ela parece mais próxima de Andra, uma personagem oriunda dos quadrinhos.

Isso é um problema? Não seria, se a personagem já fosse criada assim – estamos levando em conta que eles decidiram continuar as histórias e não criar uma nova versão – mas ela não é.


Aliás, no esgotamento de ideias para as aventuras dos anos 1980, houve uma possibilidade de renovação; He-Man daria lugar a He-Ro. E quem seria He-Ro? Ninguém menos que o filho de Adam com--- Teela.

Nas aventuras de He-Ro, Adam e Teela fariam as vezes de Randor e Maleena, a realeza de Eternia. Além disso, Teela também era a prometida substituta de sua mãe biológica, a Feiticeira – Mentor é o pai adotivo.

Não havia traço algum de homossexualidade na então capitã da guarda. E por quê isso incomoda tanto?

Porque se você está utilizando o cânone para continuar uma história – à qual sempre houve um clima romântico entre Teela/Adam/He-Man – é necessário que se mantenha nessa linha.


Seria o mesmo que a DC decidir transformar Lois Lane em esposa de Lana Lang, deixando Clark Kent sem a sua bússola sentimental.

Prevejo pessoas dizendo “só macho escroto para precisar de bússola sentimental”.


Scare Glow, o senhor da Subternia

Aliás, essa sempre foi a ideia básica por trás de Adam nunca dizer que é He-Man para a filha de Mentor; e o mais engraçado é que há um episódio clássico que mostra exatamente isso. Será que Kevin Smith não assistiu? Nesse desenho, Adam se queixa com a Feiticeira sobre ter que se passar por um pateta para não demonstrar às pessoas quem é de verdade. E, sendo um pateta, Teela jamais o enxergaria como ele gostaria. Está tudo lá.


Em relação à Maligna, não há muitas novidades; Smith não reinventou a roda e até mesmo o fato dela ter cabelos brancos já foi explorado na versão clássica. O maior charme da personagem está em sua voz: quem a dubla é Lena Headley, ninguém menos que a Cersi, de Games of Thrones. E é fantástico ouvir o sotaque inglês de Headley na personagem. Assim como o colega de série dela, Liam Cunningham, que empresta sua voz a Mentor. Cunningham interpretava um dos personagens mais simpáticos de Esteros, Davos Seaworth, o Cavaleiro das Cebolas. Com Mentor, ele empresta a mesma dignidade.


Sim, é Adam lá ao fundo

Gorpo está lá também, totalmente irreconhecível; o personagem sempre foi o alivio cômico da série, agora também tem que ter sua importância; tem que se amar. Num determinado momento, Gorpo tenta fazer uso de sua magia e cria uma imagem de Sol, que se transforma em nuvens e chove. Como teria sido genial se essas nuvens negras viajassem até a cabeça de Mentor e chovesse sobre ele, numa outra piscadela ao passado. Mas, não. Tudo acaba num momento de depressão profunda.

A falta de humor é algo a se destacar.

Você diz: puxa, o planeta está se desfazendo, o grande campeão sumiu; as pessoas não se falam mais; há fome e dor. Onde há espaço para humor?

Onde sempre houve, eu diria! Nós fomos feitos para ter humor; é onde superamos as adversidades.

Senão, veja: o planeta Terra está se desfazendo; grandes campeões morreram ou então se venderam ao sistema; as pessoas não se falam mais; há fome, dor e uma pandemia; há roubo e genocídio. Você parou de rir? Parou de acreditar? Claro que não!



A produção apresenta no decorrer dos episódios, alguns personagens que fazem parte da coleção de action figures, mas nunca apareceram nas animações, como o homem-gambá, Stinkor, e o homem-esqueleto – outro – Scare Glow. Além disso, há outras versões de He-Man, como outro He-Ro, o lendário Grayskull e Wundarr.

Esse outro He-Ro veio na esteira do abortado projeto do filho de He-Man.

Os bonequinhos de Masters of The Universe perderam um pouco o fôlego – as vendas caíram de 400 milhões de dólares/ano para sete!

Percebendo que a nova febre das crianças eram dinossauros, os diretores criativos da Mattel decidiram por uma mudança radical: unir He-Man e dinossauros, numa nova linha chamada He-Ro que passaria a ser um antepassado do herói de Eternia e viveria na Preternia – a Eternia pré-histórica. A idéia também não foi adiante, pois perceberam que duas coleções acabariam por confundir demais e botariam uma pá de cal na já estabelecida coleção.

Kevin Smith utilizou os conceitos de Preternia na nova série, porém com uma diferença: agora ela seria o céu dos Eternianos. E a Subternia, lar de Scare Glow, o inferno.

Se Subternia parece uma viagem à Montanha da Serpente, Preternia sugere uma tarde na Disneylândia.

E Teela vai a ambos os lugares.


Lembra quando eu escrevi que o mundo de Teela havia caído antes dela descobrir que He-Man e Adam são a mesma pessoa? Pois é, para suportar uma enorme carga de magia, He-Man tenta drená-la com sua espada; não dá certo. A energia é grande demais e acaba por dividir a espada em duas; com a divisão, He-Man volta a ser Adam, diante de todos – Teela inclusive.

Assim, ela e seus amigos são obrigados a partir numa viagem entre o céu e o inferno em busca das duas espadas.



Isso faz parte do cânone dos personagens: quando a linha de brinquedos surgiu, a idéia é que He-Man tivesse uma espada e Esqueleto outra; ou melhor, duas metades de uma espada. Quem juntasse as duas teria o poder de um mestre do universo.

A idéia não era original: Blackstar já havia utilizado desse artifício.

E por ser produzido pelo mesmo estúdio, Filmation, He-Man acabou indo por outro caminho.


Em Preternia, eles conseguem unir as duas espadas novamente, forjando a nova espada do poder.

E, a partir dali, nós vemos quem é protagonista de verdade da série: é Teela, e não Adam, quem carrega a espada do poder nas costas. Ao príncipe cabe apenas seguir a ex-capitã da guarda.

E, já em Eternia, no castelo de Greyskull, é que ele tem a chance de segurar a espada novamente. E quanto a He-Man?

He-Man não dá as caras, mas Esqueleto sim.

E literalmente toma o castelo para si.


Kevin Smith disse que o final do capítulo cinco tem um enorme cliffhanger, que faz as pessoas quererem xingá-lo. Não foi o que eu vi.

Na verdade, você não se surpreende com o que acontece; quando para para pensar, percebe exatamente o porquê de Teela ter carregado a espada o tempo todo e só entregá-la a Adam em Grayskull. É o mesmo efeito nerd causado em Cavaleiro das Trevas, quando o Coringa é tão genial que consegue planejar a própria prisão apenas para armar uma bomba que já estava no peito de um capanga, que ele planejou que fosse preso, e assim criar um efeito de ação no filme. Ou seja, não é o Coringa, mas a finada Mãe Diná.


HQ escrita por Keith Giffen

Agora, você deve estar se perguntando, como as novas gerações encaram essa série. Sim, porque, embora não seja destinada aos mais jovens, Mestres do Universo – Salvando Eternia ainda é uma animação.

Muito possivelmente, quem nunca ouviu falar da série, jamais imaginaria que He-Man é o protagonista; aliás, nem sabem quem o personagem é. É Teela quem faz tudo e assume a frente sempre.


Anos atrás, a DC voltou a publicar as aventuras de He-Man e cia. Esqueleto, num ato de desespero, joga um feitiço em Eternia fazendo a todos esqueceram que He-Man existiu; inclusive Adam tem essa amnésia.

Com o passar do tempo, claro, ele recupera a espada do poder e parte para retomar uma destruída Eternia. Reencontra Teela, Mentor e inclusive sua irmã gêmea, Adora – que viria a se tornar She-Ra.


As histórias são muito empolgantes, principalmente na fase escrita por Keith Giffen, pois ele consegue adotar um senso de humor incrível na relação Adam/Teela. Aliás, ele foi o que melhor soube desenvolver a personalidade da filha de Mentor, se mostrando uma mulher que não leva desaforo e peita até o Rei!

Uma pena que Kevin Smith não tenha lido essa fase, uma vez que ele se diz continuador do trabalho alheio e provou não ter criatividade, poderia ter se inspirado nessa HQ.


visual criado pelo brasileiro Ed Benes

E o que podemos esperar nos próximos e derradeiros cinco episódios de Salvando Eternia? Segundo o showrunner, haverá muito mais de Maligna e nuances de traumas e abusos, muito provavelmente delineando a relação dela com Esqueleto desde a união destes. Quando Maligna e Teela estão juntas, elas relembram uma ocasião em que tiveram que unir forças e ambas falaram muito sobre seus homens, numa forma de balancear as relações de ambas com seus abusadores, cada uma à sua maneira.

Seria necessário que elas tirassem os machos da sala para finalmente descobrirem quem são de verdade?

Se Kevin Smith tivesse assistido algum episódio da série que topou dar continuidade – e não apenas a abertura – saberia que Maligna só vive com Esqueleto por conveniência; ela está ali aguardando a oportunidade de lhe cravar uma faca nas costas na primeira oportunidade que ele der. Pura e simplesmente. Maligna sempre passou longe de ser uma mulher indefesa. Assim como Teela; e a Rainha Maleena.


Pena que Kevin Smith não saiba disso. Poderia ter evitado quatro episódios de drama e encheções de lingüiça e, quem sabe, se concentrado na ação; e a música-tema também merecia um retorno.


E você? Assistiu? Deixe suas considerações.

Ótima semana!

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