Eu disse que não mais assistiria a um filme de “super-herói”.
Pois é, acabei quebrando minha própria promessa e encarei a parte final da trilogia do Morcego.
Ao menos, terminei o que havia começado, certo?
Vamos lá.
Até agora, em tudo o que li, vi apenas duas críticas negativas ao filme [e você confere aqui e aqui], nada que me surpreendesse, já que antes desse filme estrear, Vingadores era tudo. Depois, tornou-se chato, bobo e infantil. Incrível como você é levado de um lado a outro, com opiniões que mudam o tempo todo… das mesmas pessoas [ou veículos de comunicação].
Cavaleiro das Trevas Ressurge realmente fecha todas as portas que havia aberto em Batman Begins e Cavaleiro das Trevas.
Vemos toda a trajetória de um Bruce Wayne tentando salvar a cidade que seus pais tanto amavam – e ele também, lógico.
Mas precisava ser com tanto drama? Tanto desânimo? Tanta dificuldade?
Aliás, dificuldade por parte unicamente do protagonista, já que os vilões têm uma enorme facilidade para fazerem tudo no universo criado por Nolan.
Vide Ra’s All Ghul, o Coringa ou até mesmo a gangue do Bane, ou a Mulher-Gato.
É incrível a rapidez que Bane toma Gotham para si.
É incrível como o policial Blake, interpretado por Joseph Gordon-Levitt, chega a Bruce Wayne para tentar contatar o Batman, desaparecido há oito anos.
E é mais incrível ainda como as Indústrias Wayne começam a fazer água, e ninguém diz nada. Tá tudo muito certo, muito legal.
Porém, a Mulher-Gato, de Anne Hathaway é maravilhosamente linda, gostosa e sedutora [sem fazer muito esforço]. Ela consegue aquele papel de destaque, como o Coringa teve no segundo e o Espantalho no primeiro – sim, porque, embora tenha conseguido “rasgar” o seu espaço e se tornar praticamente o astro de Cavaleiro das Trevas, Coringa nada mais era do que um anarquista, assim como a Mulher-Gato e o Espantalho.
Já Tom Hardy mostra aquele jeitão de vilão durão vindo do leste europeu. E consegue entregar um Bane com justiça, com certo caráter, lealdade e convicção bem definidos.
Gary Oldman, Michael Caine e Morgan Freeman são os mesmos de sempre, grandes atores, que fazem tudo render quando estão em cena. Aliás, senti um certo desperdício de talento quando Morgan Freeman surge em cena, já que ele provavelmente é o único personagem bem-humorado do filme.
Marion Cotillard e Matthew Modine receberam a ingrata missão de interpretar personagens que, supostamente foram arrancados da manga. Ela, como Miranda Tate, infelizmente não teve nada a mostrar. Já o policial de Modine, também tem pouco a acrescentar.
Aliás, a reviravolta final – se você já leu as HQs do Batman, deve saber o que ocorre – é muito rápida, chega a ser apressada, com uma morte bisonha [não, não é a do Batman].
Mas estou me adiantando um pouco…
A trama é a seguinte: oito anos de tranquilidade em Gotham City, após a “Lei Harvey” ser posta em vigor. Policiais corruptos, ou com desvios de conduta, são presos, afastados, demitidos e por aí vai.
Hoje, há policiais honestos, como o Blake – que tem um papel grande até demais – e um outro, chamado Foley [Modine].
Mas tudo aquilo – a lei fora criada em cima de uma mentira, já que tudo aquilo que Harvey Dent, enlouquecido como Duas-Caras aprontou, foi jogado nas costas do Batman, e Dent pôde descansar como um herói – realmente deixava o Comissário Gordon sentindo-se mal. Ele não queria manter mais a mentira e chegou até a escrever um discurso de meaculpa no oitavo aniversário da morte de Dent.
Aquela também fora a última aparição de Batman, então tudo ficou bem.
Porém, Bruce Wayne também sumiu.
Uma ladra voluptuosa deu as caras e se envolveu com pessoas não muito boas.
Mas tudo ia bem em Gotham.
Até a chegada de Bane.
Ele invade a cidade, deixa-a em estado de sítio, bota a todos a seus pés, e diz que tem uma bomba nuclear que irá limpar a cidade, finalizando assim o que Ra’s Al Ghull começou anteriormente.
O policial Blake então procura por Bruce Wayne e diz que a cidade precisa de Batman.
E ele volta.
E essa volta, essa cena, é muito empolgante, porque nos remete a O Cavaleiro das Trevas, talvez a melhor história já escrita e desenhada por Frank Miller.
Batman decide encarar Bane.
Mas, lembre-se, oito anos sem aparecer, sem se exercitar, sem estar ligado… Bane não o perdoa. Batman é derrotado e quebrado. E jogado num buraco, que seria uma espécie de prisão do desespero, de onde, dizem, apenas uma pessoa conseguiu escapar.
Miranda Tate: uma mulher misteriosa, membro influente do conselho das Indústrias Wayne, interessada em energia renovável. Ganha a confiança de Lucius Fox, já que partilham das mesmas preocupações, transformar a energia nuclear em algo positivo.
Foley: amigo de longa data de Gordon, meio preguiçoso, meio folgado, sem muita paciência com novatos e impetuosos, como Blake.
Enfim, esse é o mapa do filme. Falar mais estraga a surpresa.
Posso dizer que o filme é grandioso [em termos de tempo] e até sua metade, bastante arrastado. Depois vai pegando ritmo, até ficar alucinado demais. E as conclusões se tornam mais rápidas ainda. Perfeccionista como é, provavelmente, isso tudo foi intencional por parte de Christopher Nolan.
O roteiro tem vários futos, mas ao menos desta vez, ele não comete o erro de transformar um vilão comum, numa espécie de fantasma, ou força da natureza, como no anterior.
Os diálogos às vezes são sofríveis.
Quanto ao Batman de Nolan?
Em qualquer adaptação há mudança. Se você pega o Superman, de 1978, toda aquela história fora mudada. Mas funcionou. Por que? Simplesmente porque a essência do personagem estava lá. Um cara bom, superpoderoso, mas quer viver em meio à humanidade, para conhecê-la, ser aceito; quer ajudar. Suas fraquezas, seu amor [Lois Laine], seu antagonista [Lex Luthor] estão todos lá. Então, não há como errar, certo?
Já esse Batman perde, acho que, a maior característica do personagem dos quadrinhos: sua capacidade de dedução. Na DC, o maior detetive do mundo é o homem-morcego. Há até um arco de histórias da Liga da Justiça, em que ele, sozinho, acaba salvando o grupo, porque usou o cérebro e percebeu com quem eles estavam lidando. Aí, bastou utilizar as fraquezas do inimigo contra eles mesmos. Pura e simplesmente.
Esse Batman, do Nolan, é muito burro! Desesperado. Despreparado. Impotente. Fraco. Desanimado. Até mesmo o Rocky Balboa teve que aprender como vencer Clubber Lang, em Rocky III. Mas esse Batman, não. Tomou uma surra federal do Bane. E depois volta lá, com uma pequena treinadazinha que deu, enquanto estava preso – nem vou entrar no mérito de comida, desidratação, nem nada disso.
Dizem que é preciso ter pré-requisitos para ver alguns filmes. Mas essas mesmas pessoas criticam o lado pop de Vingadores, por exemplo, celebrando o Batman “maduro” e realista.
Então, cadê o realismo nisso?
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