Você lembra que o primeiro filme de Esquadrão Suicida teve dois trailers? Um primeiro, sério, com uma versão amargurada de I Started a Joke, dos Bee Gees e tudo muito lisérgico.
Depois, com um rompante Bohemian Rapsody de Queen, a segunda versão do trailer é mais parecida com Guardiões da Galáxia – filme que havia estreado dois anos antes - com os personagens mais soltos e loucos.
Havia uma aura de James Gunn ali.
Então, quando Gunn fora demitido da Disney, em 2018, por causa de tweets antigos, a Warner mais do que depressa o contratou.
Se eles queriam filmes no estilo James Gunn agora teriam o próprio em sua folha de pagamento.
Então, vem O Esquadrão Suicida, que não é uma sequência do anterior, nem um reboot. É um outro filme, simplesmente.
Se você pensar em termos de estrutura, eles seguem a mesma da anterior: Idris Elba substitui Will Smith no papel do Pistoleiro – no entanto, como os produtores sonham com um retorno de Smith, decidiram manter o personagem também em stand-by, trocando-o por Sanguinário, que também faz uso de armas de fogo.
Margot Robbie, Joel Kinnaman, Jai Courtney e Viola Davis voltam nos mesmos papeis.
Então, Gunn utiliza de seus talentos para rechear a nova versão com personagens malucos e buchas de canhão para que possa destruir e eviscerar sem medo.
O vilão da vez ao que tudo indica é Starro, o homem-estrela, um “clássico” vilão da Liga da Justiça. E esquisito o suficiente para encarar o Esquadrão.
Certeza de sucesso? Aparentemente sim. James Gunn está com a corda toda e já até declarou que Guardiões da Galáxia 3 possivelmente será o seu último filme com a Marvel. Não é pouca coisa; afinal, você conhecia o diretor antes de Guardiões?
É, nem você, nem ninguém.
Mas Gunn chegou com moral na Warner e inclusive um novo filme do Homem de Aço lhe foi oferecido; ele, no entanto, optou por um “playground” mais livre.
Além deste O Esquadrão Suicida, Gunn voltará a esse universo em janeiro, com uma minissérie estrelada por Pacificador, no HBO Max.
Quem já viu garante que O Esquadrão Suicida é diversão garantida, com toques de palavrões e escatologia. Aguardemos.
Outro detalhe interessante é que, enquanto o anterior estava bem enraizado ao universo compartilhado da DC, com participações de Coringa, Batman e Flash, o novo filme será autocontido, sem um universo ao redor.
Se no primeiro filme, a missão se deu nos EUA, o novo se passará no país fictício de Corto Maltese.
Algumas pequenas mudanças que mostram o distanciamento e até mesmo a esquizofrenia que abateu o insepulto DCU.
Até porque, o autoproclamado arquiteto desse universo não mais se encontra nele; Zack Snyder mudou-se, de mala e cuia, para a Netflix.
O que ninguém nega também é a grandiosa fonte à qual James Gunn bebeu para montar esse espetáculo: os quadrinhos do Esquadrão, escritos por John Ostrander.
Ostrander, inclusive, aparece no trailer.
Criado em 1987, o Esquadrão Suicida de John Ostrander, com arte de Luke McDowell e Karl Kesel, se fixa no universo DC com boas doses de comédia e muita ação.
Ao longo de 67 edições, o grupo se embrenhava em missões que refletiam em muito em filmes de ação dos anos 80.
O diferencial dessa equipe era exatamente a sua humanidade: Pistoleiro literalmente não se importava com ninguém e era cínico ao extremo. Se existisse de verdade, Floyd Lawton, ao assistir a interpretação do personagem por Will Smith, com certeza perseguiria o ator e repetidamente diria: “Você estragou o meu personagem. Uma hora alguém estraga você. Bang!” faria uma pistola com os dedos indicador e polegar.
Capitão Bumerangue se dizia australiano – fato que nem seus conterrâneos acreditavam – mas poderia ser tranquilamente brasileiro, puxando sempre a lei de Gerson quando podia levar vantagem sobre alguém. Amanda Waller, tão durona, que poderia devorar os cenários por onde passava; e Rick Flag, talvez o personagem mais complexo que Ostrander escreveu, peitava até o Batman. Duas vezes.
Seria incrível ver Joel Kinnaman encarar Ben Affleck, de armadura e tudo, na raça! Só não acontece porque o primeiro filme tinha uma estrela.
Penso que criar um enredo para um filme do Esquadrão Suicida é até fácil porque seu universo é riquíssimo: muita ação, espionagem, personagens sujos e trapaceiros; qualquer republiqueta que tenha um ditador metido a besta já é um destino provável do Esquadrão.
Além disso, seria fantástico demais se eles enfrentassem o grupo de super terroristas, o Jihad. Pelas mudanças geopolíticas, dificilmente veríamos isso nos cinemas, mas poderíamos fazer uma versão do Jihad, num país fictício qualquer.
Quem sabe isso não venha a acontecer num Esquadrão Suicida 3?
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