Ainda sobre o fim do Bigorna.
Excelente e elucidante o texto do Bira, que vai bem de encontro com o do Baraldi.
Vamos lá à minha opinião…
Acredito que, ao reclamar da falta de mercado, Baraldi quer dizer exatamente que não há um mercado como antes, assim como o Bira expôs posteriormente, com o êxodo dos leitores para as livrarias e internet.
Mercado esse que só poderá funcionar, a meu ver, com uma produção totalmente comercial.
O grande entrave que eu vejo, é que todo mundo quer fazer álbuns – e a explicação pra isso é que ai o leitor não precisará voltar para mais, ele já compra a história completa.
Mas quadrinhos também devem ser encarados como mídia de baixo custo. Afinal de contas, a Editora Abril, durante décadas, trabalhou com o famigerado formatinho.
Era popular e seu preço acessível a todos.
Com a chegada do formato americano, um upgrade de qualidade se deu, mas também, o preço ficou longe do leitor menos favorecido.
E hoje, convenhamos, um álbum da Panini sendo vendido a R$ 50, é inadmissível.
Ziraldo realmente não deve nada a Maurício de Sousa, e o seu Menino Maluquinho é muito legal também, mas é uma luta injusta, sério. Pro Menino Maluquinho conseguir empatar em vendas com a gigante Mônica, é preciso muito, mas muito mesmo, principalmente, uma abordagem direta aos leitores, bombardeio midiático, e assim por diante. Afinal, a Turma da Mônica é conhecida no mundo todo há bastante tempo.
E qual Editora fez isso? A Abril não fez. E nem a Globo.
E até mesmo o Maurício, com toda a bagagem de 50 anos de seu universo, percebeu que precisa de propaganda e mídia – tanto que ele praticamente tem um site que serve de assessoria de imprensa.
A própria Turma da Mônica jovem, que começou tão bem, caiu em vendas, voltou a tomar fôlego que aquela saga do Marcelo Cassaro, e agora voltou a cair. E o que fizeram para voltar a vender?
O namoro entre Mônica e Cebolinha.
Até o Marcelo TAS deu seu pitaco a respeito, pelo twitter.
Eu não condeno essas manobras de marketing, elas são iguais às da Marvel, casando [e descasando] o Homem-Aranha, matando o Capitão América e por aí vai.
É assim que se vende.
E é isso que falta ao nosso [inexistente] mercado: esse chacoalhar dos leitores, com temas polêmicos, personagens que voltam da morte, e por aí vai.
Uma migração para a internet é positiva, mas as bancas ainda existem. E pessoas entram nelas todo santo dia.
É preciso saber encontrar uma forma de encarar essa nova fase
Vejo algo promissor na Apache, a revista do Tony Fernandes. Ela está vendendo? Está vendendo bem? Ele me disse que não tem como saber ainda, mas continua seu trabalho. E é algo comercial, com preços acessíveis.
Em relação às escolas, particularmente falando, não consigo ver meus personagens recebendo as portas abertas dessas instituições. Afinal, Val, por exemplo, fuma, bebe, tem amigos sem ambições pessoais, como Joe o Mendigo, se envolve sexualmente com mulheres e por ai vai. Qual o exemplo que ele pode dar a alguém? Talvez o exemplo de “não seja como eu”.
Mas Dom Quixote tem tudo a ver com educação e cultura. Fica mais fácil a inserção.
Nesses últimos dias, todos fomos pegos de surpresa com a decisão da DC Comics de lançar seus quadrinhos simultaneamente de forma física [impressa] e virtual, para tablets. Isso poderá num futuro bem próximo eliminar o intermediador – no caso daqui, as editoras nacionais. Aqui, você lerá um texto interessante, do pessoal do MdM a esse respeito, com um ponto de vista bem favorável a nós, eternos leitores.
Vou viajar um pouco:
com a chegada dos quadrinhos DC – e muito em breve, possivelmente, da Marvel – aos tablets, com compra direta com cartão de crédito e tal, o que sobra para as editoras nacionais? Quadrinhos nacionais, certo?
O que a Turma da Mônica Jovem tem que a DC não tem? D’oh, a própria Turma da Mônica Jovem, produzida aqui, no Brasil, com artistas brasileiros.
Então, não seria óbvio que é interessante para uma editora ter personagens próprios – para não dizer universos? O que falta então para isso acontecer? Será que os criadores brasileiros são tão ruins assim?
Sendo assim, de que serve a Fábrica de Quadrinhos, Quanta, e não-sei-mais-o-quê, em termos de criação? Provavelmente pra nada.
Por que essa conta não fecha? Por que não conseguimos fazer essa nave decolar?
Aproveitando o ensejo, deixa eu te perguntar:
– se uma editora lançasse uma revista em quadrinhos, em formatinho, num preço acessível, tipo R$ 3,00, com 44 páginas, por exemplo, você compraria?
– em se tratando de quadrinho nacional, você compra uma revista: pelo preço, autor[a] ou personagem?
É isso ae. Se puder, deixe suas considerações nos comentários. Elas são muito importantes.
Até a próxima.
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