Esses dias eu assisti a um filme bastante antigo, estrelado por um Dolph Lundgren, em início de carreira: O Grande Anjo Negro, de 1990.
Com um orçamento de US$ 7 milhões, o filme naufragou nos cinemas e ganhou uma sobrevida no home-video.
Dirigido por Craig R. Braxler, ex-dublê, que começou a carreira como diretor na série para a TV do Esquadrão Classe A, depois encarou Carl "Apollo, o Doutrinador" Weathers em Action Jackson, uma tentativa de transformar o ator em astro de ação, que infelizmente não deu certo. Então, Braxler assumiu O Grande Anjo Negro.
Os roteiristas? Se Jonathan Tydor não tenha feito nenhum outro trabalho que chamasse atenção – ele também dirigiu alguns outros roteiros que escreveu; seu parceiro de escrita conseguiu voos um pouquinho mais altos: David Koepp escreveu apenas os roteiros dos filmes Parque dos Dinossauros, Missão Impossível, O Quarto do Pânico, Homem-Aranha (Sam Raimi), Guerra dos Mundos, Indiana Jones 4, Inferno (Dan Brown) além de ter escrito e dirigido o que muito se considerava uma sequência não-oficial de Sexto Sentido: Ecos do Além.
É possível que Koepp também não tenha se sentido muito orgulhoso por participar de O Grande Anjo Negro, pois foi creditado como Leonard Maas Jr. Compreensível.
Mas do que se trata o filme?
Um traficante de drogas espacial vem à Terra em busca de uma suposta droga para vender aos seus: para isso, ele precisa aplicar uma heroína trabalhada no peito de suas vítimas e quando seus cérebros atingem ondas alfa, ele suga esse muco delas, com uma garra parecida com a que RoboCop se conectava a outras máquinas.
É claro que a polícia intergalática manda um agente para levar esse traficante de volta e o filme ganha contornos de gato e rato, tal qual O Exterminador do Futuro.
Mas onde entra Dolph Lundgren nisso? Ele é um policial, chamado Jack Caine e tem o parceiro morto quando o traficante espacial resolve intervir numa transação de compra de drogas. A princípio, Caine acha que uma quadrilha de figurões é a responsável pelo assassinato do parceiro, mas quando o FBI entra na confusão, ele vai juntando pistas que chegam ao bandido das estrelas.
O bandido, cuja alcunha é Talec, supostamente é um turista frequente na Terra, porque ele conseguiu aprender quatro palavras e vive as repetindo: “Eu venho em paz” – inclusive, esse é o nome do filme quando lançado na Inglaterra.
Com a ajuda do almofadinha, Larry, agente do FBI, muito cético e com um senso de humor duvidoso, Caine acaba travando contato com o policial cósmico, Azeck.
Ambos têm uma pistola que dispara uma espécie de balas explosivas, pois cada tiro manda um carro pelos ares. Quando as armas são disparadas, as explosões tomam conta da tela.
Talec ainda tem outra arma; uma espécie de minicd que é atraído por vibrações, mas extremamente cortante.
Você já percebeu que o filme é uma constante esponja de referências: já falamos de Exterminador; ainda há todo um clima de O Predador e Predador 2 em cena.
Dolph Lundgren está mais solto em tela, interpretando um personagem diferente, dos engessados de outrora. Ele dá uns golpes de caratê em bandidos e tenta resolver as coisas na base do instinto, com seus contatos como policial, porém o certinho Larry detesta tudo isso.
Se há um pecado em O Grande Anjo Negro é a falta de maior desenvolvimento dos personagens e o diretor toma diversas saídas fáceis, facilitando a vida de seus atores, mas deixando o filme mais feio e pobre. A luta final é bem simples, remete a Comando para Matar e não impressiona em nada.
No entanto, uma trama tão redonda é difícil de ser encontrada hoje em dia.
O pessoal do Den Of Geek conversou com Lundgren na época do lançamento de Os Mercenários e ele falou a respeito de O Grande Anjo Negro:
"Esse filme foi bem dirigido também por Craig Baxley, que era um coordenador de dublês que fez um ótimo trabalho. Era um filme divertido, porque tinha o humor e as armas de alta tecnologia e a garota. Foi legal.
Tinha um grande vilão, aquele campeão de decatlo da Alemanha Oriental que fez todas as suas próprias acrobacias. [ele se refere ao ator Mathias Hues, que interpretou Talec] Incrível, esse cara era um grande atleta e você não podia fingir coisas assim, naqueles dias. Não havia tela verde. Você tinha que fazer isso de verdade. Eles deram a ele dublês e nenhum dos dublês poderia fazê-lo, então ele teve que fazer tudo sozinho. Então, você sabe que ele estava pulando de carro em carro e explosões saindo atrás dele e outras coisas, incrível!"
Em 2016, Hues foi até às redes sociais para anunciar uma sequência para O Grande Anjo Negro, mas cinco anos depois e nenhuma outra linha foi escrita a respeito.
Seria interessante se uma Netflix da vida produzisse uma continuação, ou até mesmo um reboot; pois há material potencial para ambos os casos. Imagine, mostrar o planeta de Talec e Azeck e compreender melhor seu mundo. Com a tecnologia de hoje, 75% do filme poderia se passar no mundo deles, tranquilamente. Até mesmo como um espelho futuro distorcido de nosso próprio mundo – e nossa realidade na luta contra as drogas.
Lundgren ainda tem físico para encarar um gigante de outro planeta de novo.
Ou então, poderíamos chamar John Cena.
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