Hoje, sábado, 25/5/2013, em Curitiba, haverá um bate-papo entre fãs de HQs, cujo tema é \”As Melhores Histórias Já Foram Feitas. E Agora?\”
Agora, eu respondo, nada!
Até porque elas ainda não foram criadas.
O grande problema das histórias de hoje é a falta de criatividade e personalidade de quem as escreve – e falta de exigência de quem as lê.
Se você pega uma revista, cuja primeira aparição do Homem-Aranha se deu, perceberá que, em 18 páginas, Stan Lee e Steve Ditko estabeleceram o personagem, mostraram sua origem, e abriram o horizonte para que ele continuasse até hoje. Repito: 18 páginas. Se isso.
Na versão ultimate, quantas edições foram necessárias para a mesma origem?
Ou seja: por falta de criatividade, vamos esticando as histórias o máximo que pudermos. Esse é o estilo Brian Bendis.
Conheci o trabalho de Brian Bendis na revista chamada ALIAS, estrelada por Jessica Jones, ex-super-heroina, ex-Vingadora, e então detetive particular.
Salvo uma barbeiragem aqui, outra ali, a trama era excelente, porque ele trabalhava com muitos temas que fugiam do \”padrão\” super-heroístico. Enquanto fez parte do selo MAX [o selo adulto] da Marvel, Alias foi muito bem. Depois, ao sair do selo, e Jessica ir trabalhar no Clarim Diário, já perdeu-se toda a graça.
Quando Bandis partiu para escrever os Vingadores, eu realmente achei que as coisas seriam interessantes. Mas interessante mesmo foi perceber o quanto ele andou em círculos durante todos esses anos. Superlotou as equipes, desenvolveu apenas o Luke Cage e mais nada! O Homem-Aranha mesmo era um coitado nas mãos dele.
Nesse momento, está sendo publicada a Era de Ultron, última saga dos Vingadores escrita por ele. Posso adiantar que começou bem. A partir da edição quatro, começou a ficar enfadonho. Agora, dá mais tédio do que vontade de ler até ao fim.
Mark Millar é um grande emulador, como eu já havia comentado aqui. Seus diálogos são legais, mas só.
Mas há o outro lado da moeda: autores que sabem o que estão fazendo. Que desenvolvem seus personagens. Que não visam apenas \”segurar\” os leitores o máximo possível.
Por exemplo, Garth Ennis, com The Boys e Fury MAX.
The Boys é simplesmente o ódio que Ennis tem pelos super-herois sendo posto em prática. Na trama, os supers são os mais sacanas, cafajestes e idiotas do mundo. Cabe então aos \”Boys\”, comandados pelo Açougueiro limpar toda a sujeirada que os supers fazem quando estão \”salvando o mundo\”. Cada edição tem 22 páginas. E cada página vale a pena ser lida. Você não se sente enganado. Sabe que a trama vai seguindo firme. Hughie Mijão tem pavor e ódio de supers ao mesmo tempo, já que a mulher que ele amava morreu, vítima de uma briga entre um super e um vilão. Mal ele sabe que acabou se envolvendo com uma super. E ela não sabe que ele trabalha para uma equipe que destruir os supers. É um jogo de gato e rato excelente. Leia e você perceberá o que digo.
Outro exemplo são as aventuras do Super-Homem, em Action Comics. Escrito por Grant Morrison, o personagem ganhou dimensão, peso, deixou de ser o mais do mesmo \”salvar a Lois e brigar com qualquer um\”. Vemos um Super em começo de carreira, um Clark Kent que ainda não se deu conta da própria importância ao mundo. Um Lex Luthor antagônico, cujo único interesse é expor ao mundo a ameaça alienígena que o Super é. Grant prometeu ficar por dezoito edições apenas no título. Mas elas estão valendo muito a pena.
Outro excelente exemplo é o Hulk, de Mark Waid. Ele pegou a ideia de que Tony Stark é o bambambam da Marvel e decidiu mostrar que Bruce Banner não fica por baixo. E realmente não fica mesmo. Bruce Banner faz um acordo com a SHIELD e se torna uma \”pessoa de destruição em massa\” quando necessário. Nos outros momentos ele poderá trabalhar em prol da ciência, da humanidade. Acabou o drama, acabou o esquema Bruce-Betty-General Ross. Excelentes histórias estão saindo dali. Até mesmo Attuma, o vilãozão de Namor já deu as caras.
E isso é apenas o que eu leio. Não ando lendo muita coisa.
A Image, por exemplo, anda publicando várias coisas diferentes e interessantes, que podem muito bem, superar o que já foi feito.
Esqueça Watchmen! Cavaleiro das Trevas! A Piada Mortal! Odisseia Cósmica! Deus Ama, o Homem Mata! entre tantas outras.
Aquilo já foi feito e ninguém voltará a fazê-lo. Watchmen deu certo por diversos motivos, mas principalmente porque Alan Moore brincou com todas as teorias de conspiração existentes e botou super-herois na mistura – coisa que o filme não fez e se tornou apenas mais um filme de nego fantasiado. Cavaleiro das Trevas, na minha opinião poderia ter terminado na edição 02 – porque muita gente não entendeu o papel do Super-Homem na trama. A Piada Mortal e Odisseia Cósmica são brilhantes, por motivos particulares. A origem do Coringa, massiçamente dramática em contraste com suas gargalhadas e uma piada no final. E Os Novos Deuses se envolvendo com os supers da Terra para combaterem uma ameaça comum. A forma que tudo foi arquitetado é mérito de Jim Starlin. Deus Ama, o Homem Mata nem é tão boa assim, mas serve apenas para mostrar o poder do microfone, em detrimento a superpoderes em si.
O futuro é uma folha em branco. Se pensarmos que o melhor já foi vivido, então essa folha continuará em branco. Cabe a nós mudarmos isso. Muita gente está fazendo. Muita gente fecha os ouvidos para esse tipo de apelo \”bons, foram os anos 80\”. Ridículo!
O bom é o que está por vir.
Sempre assim! Sempre em frente!!
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