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Foto do escritorVagner Francisco

RELÓGIO DO APOCALIPSE É A ANTÍTESE DE WATCHMEN

(Ou como destruir uma obra-prima ao tentar homenageá-la)

(Ou como destruir a própria reputação tentando ganhar dinheiro)



Eu não sei se você sabe quem foi James Dean.


Bom, Dean foi um daqueles astros de Hollywood de ascensão meteórica e, infelizmente, perdeu a vida de modo trágico e muito jovem. Dean estrelou menos de meia dúzia de filmes e faleceu aos 24 anos.


Seu último filme, Assim Caminha a Humanidade, só têve sua participação porque os produtores exigiram em contrato que ele não participasse de rachas de carros enquanto filmava. Dean faleceu logo depois. Num acidente de carro.


Dean, era uma espécie de Brad Pitt, em início de carreira; um Robert Pattinson, tinha um forte apelo junto ao público feminino.


E era fanzaço de Marlon Brando— também com forte apelo junto ao público feminino.


E Brando, na época, o maior astro de Hollywood, não podia ouvir falar de James Dean – algo parecido aconteceu em Entrevista com o Vampiro, quando Tom Cruise se sentiu eclipsado por Brad Pitt.


Uma vez, James Dean quis tirar uma foto com Brando. Que aceitou. Só fez um pedido: que ele ficasse a quatro metros de distância.


James Dean e Marlon Brando


É mais ou menos essa a relação entre Relógio do Apocalipse com Watchmen.


RA tenta se aproximar, tirar uma foto junto; mas Watchmen não suporta a idéia.



Vamos lá, vamos falar um pouco de RA – porque não há necessidade de falarmos de Watchmen, haja visto que isso foi feito de forma repetitiva desde 1985 – uma saga em 12 partes que mostra o Apocalipse – eu sei, eu sei – de um universo porque as pessoas não estão mais se entendendo. Bom, se eles tivessem esperado um par de anos, poderiam ter localizado a história no Brasil em plena pandemia de Corona e utilizado o presidente da república como uma espécie de Ozymandias – não o realista, claro! – que decidiu tocar o terror e jogar a possibilidade de um segundo mandato para uma outra realidade. Nárnia, talvez.




Enfim, RA, em termos leigos, narra um universo criado por Dr. Manhattan, cujo maior campeão é sua grande obsessão. Sim, estou falando de Super-Homem.




RA começa num pós-Watchmen, cujo planeta está em ruínas. A humanidade se uniu novamente, porém pagou um alto preço, quando a criatura simbólica – olho que tudo vê e vagina – ataca Nova York.


Dr. Manhattan sumiu – ele havia ido a Marte; Ozymandias ficou depressivo; Rorschach morreu! E quem se deu bem? Coruja e Espectral, que conseguiram reconstruir uma vida juntos após tanta loucura.




Encontramos então um novo Rorschach nas ruas; e ele é aliado de Ozymandias num resgate a um casal de vilões de quinta categoria – uma espécie de Coringa e Arlequina, só que mais massaveio ainda; se é que isso é possível – que podem ajudar a encontrar Dr. Manhattan. Pois é— mas piora.


Eles conseguem encontrar a nave do Coruja e passeiam por aí, em busca de ação.


Então, enfim, numa situação que eu não me lembro muito bem, porque provavelmente fiquei com sono devido ao tédio da história toda, eles chegam ao universo DC. Claro, eles descobrem que Manhattan está lá.


O universo DC está com sua cota de problemas, uma vez que parece que a humanidade descobriu que há metahumanos demais no mundo e eles estão começando a dar problemas – onde é que já havíamos visto isso?¹ – e também uma teoria a respeito do Super que o transforma numa ameaça – onde é que já havíamos visto isso?²


Além disso, Adão Negro foi parar num país fictício e está aceitando que todos os metahumanos do mundo entrem livremente – por enquanto, antes que ele comece a cobrar entrada via QR code. Onde é que já vimos isso antes, hein?³


Enfim, o Super está tendo uns pesadelos relacionados com seus pais – que eu não entendi muito bem, porque não leio as HQs do mesmo desde muito tempo.


Bom, o fato é que chegamos a uma conclusão no mínimo de gargalhar: já sabemos que Ozymandias é o homem mais inteligente do mundo, ou mais esperto, dependendo de quem traduz. Isso, em Watchmen – e ele deixa claro que é uma ação de marketing.




Agora, adivinha quem são os dois homens mais inteligentes da DC?


Você poderia chutar, sei lá, Ray Palmer – o Eléktron – um físico, cuja genialidade o fez confeccionar um cinto que o permitia controlar os próprios peso e tamanho – através de estudo do núcleo de uma estrela – se é que ele está vivo nessa realidade; ou o Professor Martin Stein, a contraparte inteligente de Nuclear. Ou mesmo o Conde Vertigo, um facínora, porém genial! Vril Dox não conta porque deveria estar no espaço. É, é possível pensar em bastante gente.


Mas, não! Eis que estamos errados!




Assim como Brian Bendis somou um mais um e descobriu que o Homem de Gelo da Marvel sempre foi gay – mesmo namorando a Estrela Negra, Polaris e Opal – Geoff Johns, é, o roteirista de RA, chegou à conclusão que os dois homens mais inteligentes da DC são, saca só: Bruce Wayne e Lex Luthor!


Meu Deus!


É muita groselha no café da manhã.




Claro, você pode dizer ser possível, pois a dupla é bastante cerebral – e eu poderia concordar. Porém, não é porque Batman seja considerado o maior detetive do mundo – coisa que nem o é, já que o Questão está aí para provar o meu ponto – é que ele tenha de ser tão inteligente quanto. Até porque, sabemos que o Alfred é quase um Visão – resolve quase tudo na mansão Wayne!


E Lex Luthor, sim, se considera a maior mente criminosa do mundo. Porém, não significa que ele seja.


Enfim, continuemos.




Ozymandias então vai atrás de um, enquanto Rorschach vai atrás de outro.


Um deles consegue invadir a Mansão Wayne e descobrir quem Batman é. O outro, é interceptado pelo Comediante e, juntamente com o casal de bandidos de quinta, vira um emaranhado de diálogos ridículos cujo propósito não leva a nada.


E o Super?


Bom, vou voltar um pouco no tempo.




Nuclear é um super-heroi diferente, pois ao invés de uma, tem duas identidades secretas: o professor Martin Stein, o cérebro da dupla; e Ronnie Raymond, o corpo. Num determinado momento, nos anos 80, o professor Stein se decobriu com um tumor. Nuclear estava então condenado, já que para ele entrar em ação, era necessário que a dupla Stein & Raymond estivesse viva. Ou algo do gênero.


Então, um substituto para o professor Stein é encontrado: um cientista russo chamado Pozhar.


Com a substituição, com o passar do tempo, um novo Nuclear surge; deixa de ser um super-heroi para se tornar um elemental.

Nuclear vs Pozhar


Bem, voltamos a RA e Pozhar é esse elemental! E está em guerra com Nuclear – que voltou a ser composto por Stein & Raymond.


Super-Homem tenta ajudá-lo, já que ele se envolveu num incidente internacional na Rússia. E aí, meus amigos, a coisa só piora.


Super-Homem é acusado de invasão, é taxado de persona non grata em países parceiros da Rússia e jogado às cobras por todos.


Adão Negro adora cada momento e aproveita para atacar a sede da ONU, quando a Mulher-Maravilha tenta costurar um plano de paz mundial.


No final das contas tudo aquilo era um plano para Ozymandias chamar a atenção de Manhattan e leva-lo de volta ao seu mundo.


E consertá-lo.



Não se iluda, Relógio do Apocalipse é uma série em 12 partes com ótimos desenhos e um roteiro sofrível, que se apóia em histórias antigas, muito mais bem sucedidas, obviamente, até porque Geoff Johns jamais poderia se equiparar a Gerry Conway, John Ostrander e, claro, Alan Moore. Geoff, porém, usa e abusa das referências, como Planet Krypton e a Sede da ONU, de Reino do Amanhã, ou o link com o Super de John Byrne.


E quando é necessário originalidade e criatividade, ele mais falha: o novo Rorschach não tem nada de interessante – um personagem jogado ao leu, que não consegue fazer funcionar por pura incompetência mesmo! Ozymandias nos dá a impressão de ter saído de um liquidificador, tamanha a sua descompostura. Dr. Manhattan, que Moore e Gibbons mostraram como uma espécie de entidade, que vai abandonando a humanidade com o passar do tempo – e isso não tem a ver com as falsas denúncias de que quem passasse muito tempo com ele contraria câncer, mas sim com as trocas de relacionamento e desinsteresse com o orgânico. Em RA, olha só, ele volta a ter sentimentos! O mundo ainda tem esperança!



A que conclusão eu chego? Que a DC está desesperada. Isso é óbvio, já que o diretor artístico é Jim Lee. Mas, mais do que isso: a DC está realmente revirando o lixo de Alan Moore. Porém, com o Relógio do Apocalipse, eles erraram o endereço e começaram a revirar o lixo do vizinho. Porque é tudo muito ruim.




De qualquer maneira, digamos que os editores quisessem fazer uma série em 12 partes chamada Relógio do Apocalipse. Daria para fazer? Talvez pegar a idéia de que o Super e todos os metahumanos estão sendo vistos com descofiança. Utilizar o Pozhar como um ser realmente poderoso – a la Manhattan e criar uma espécie de Guardiões Globais – que já existiram no universo DC – e com isso fazer frente à América. Não é difícil.


Só poderiam esquecer os personagens de Watchmen. Talvez fazer um giro contrário do parafuso e utilizar os personagens oriundos da Charlton para substituir os vigilantes.



Agora, se a DC bater o pé e querer utilizar esses personagens, até pensando nas vendas, por quê não fazer um Watchmen 2?


Chama o Alan Moore, paga um caminhão de dinheiro e dá os direitos dos personagens a ele e ao Dave Gibbons. Pronto!


Ah, mas o Moore não volta!


Então, aqui vai uma relação de roteiristas que poderiam escrever Watchmen 2 e ficaria no mínimo, melhor que esse angu aí acima:




– J. M. Straczinski – ele já provou que leu Watchmen, Miracleman e até mesmo o Capitão Bretanha, do Alan Moore. Sendo assim, está ambientado com a trama – até porque escreveu um Antes de Watchmen estrelado pelo Dr. Manhattan. Além disso, Poder Supremo tem muito a ver com essa trama. E Straczinski é um roteirista de mão cheia.




– Warren Ellis – Authority e Planetary provam que Ellis sabe inovar. The Wild Storm, Thunderbolts e Cavaleiro da Lua mostram que ele é capaz de qualquer coisa. Tenho absoluta certeza de que sairia um excelente Watchmen 2 da cachola do britânico. Talvez Alan Moore até leia.




– John Byrne – Eu sei, faz tempo que ele não faz nada de interessante. Verdade! Porém, seu Quarteto Fantástico até hoje é elogiado. Tropa Alfa, Super-Homem, Hulk, Mulher-Hulk. Além disso tudo, Byrne deu indícios de que gostaria de fazer um Watchmen melhor: quando aproximou Visão de Dr. Manhattan em Vingadores da Costa Oeste e Estigma, do Novo Universo Marvel. Afinal, se Vanderlei Luxemburgo conseguiu voltar ao futebol, por que Byrne não poderia voltar aos quadrinhos?




¹ – idéia completamente copiada do gene mutante e, principalmente, de toda a perseguição sofrida pelos X-Men.




² – além de Batman V Superman, há diversas histórias em que tentam utilizar o Super como uma ameaça; inclusive Reino do Amanhã também bebe dessa fonte.




³ – Johns deve adorar X-Men foi plagiou mais uma idéia: Magneto havia construído o Asteróide M para abraçar todo e qualquer mutante que quisesse se refugiar da humanidade; depois Genosha tornou-se essa nação.




Peguei no Omelete algumas declarações de Moore a respeito de Watchmen, sobre revirarem o seu lixo e o mercado em si:




Sobre Watchmen e outros de seus trabalhos terem criado uma onda de heróis sombrios:



\”Nunca foi minha intenção que toda HQ fosse como aquela. A razão pela qual a fiz daquele jeito é que não havia nada igual. Eu queria fazer algo diferente. Caso eu, Deus me livre, estivesse fazendo HQs de super-herói hoje, como meu trabalho na America\’s Best Comics de alguns anos atrás, eles seriam muito diferentes do padrão Watchmen e Marvelman. Seriam mais divertidos – no sentido de intelectualmente divertidos ou de pura diversão – do que revisionistas. Penso que a abordagem que eu trouxe – pegar personagens já existentes e reinterpretá-los – provavelmente levou a quadrinhos muito cruéis e chatos. Eu não queria que todo mundo copiasse o que eu fazia. E, se era para copiar, preferia que tivesse sido a originalidade das ideias – ou se tentassem trazer um pouco da alegria que colocávamos em Watchmen, em Marvelman, no Monstro do Pântano.\”




Sobre a falta de ideias e o uso do seu trabalho no mercado dos EUA:



\”É uma pobreza de imaginação. Esses dias notei que a DC parece ter baseado um de seus últimos crossovers em algumas histórias do Lanterna Verde que escrevi 25 ou 30 anos atrás. Eu diria que isso parece um ato de desespero ou humilhação. Quando eu disse em entrevistas que o mercado de quadrinhos norte-americano não teve ideias próprias nos últimos 20 ou 30 anos, eu só quis ser maldoso. Eu não esperava que as editoras a que me referia dissessem, tipo, \’Pois é, é verdade. Vamos tentar achar outra história dele de 30 anos atrás para transformar em uma saga espetacular\’. É trágico. Os gibis que eu lia quando criança me inspiravam e me enchiam de ideias. Eles não precisavam que um inglês metido viesse aqui e explicasse a eles como fazer quadrinhos. Eles já tinham muitas ideias boas. Mas hoje em dia, eu cada vez mais sinto como se a indústria de quadrinhos estivesse revirando minha lixeira, como um guaxinim no meio da noite.\”



\”Pelo amor de deus, vão ter idéias próprias! Não é tão difícil. Vocês costumavam ter várias! Também ouvi que, aparentemente, um quinto do mercado de comic shops é do meu trabalho. 20%! Imagino que as vendas em lugares como a Borders e as grandes livrarias, onde fica uma parte cada vez maior do mercado, a porcentagem seja maior.\”




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