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RESENHA | ARGENTINA,1985 É OBRIGATÓRIO!

Foto do escritor: Vagner FranciscoVagner Francisco

Poderia ser argentino o melhor filme de 2022?

Com toda a certeza!


Argentina, 1985, conta a história do julgamento daqueles que, usurpando o nome do país, sequestraram, torturaram, mataram, estupraram e criaram leis para que saíssem ilesos de seus próprios terrorismos.

Sim, você já pode imaginar que Argentina, 1985, vai acertar os miolos daqueles que tergiversam sobre ditaduras e relativisam com argumentos como "minha ditadura foi mais branda que a sua" com a violência de uma paulada bem dada!


E sim, há um neologismo no que eu acabei de escrever, pois a violência aqui é gráfica e não física!


Ninguém quer bandido morto, ou ileso; até porque quando se diz "bandido bom é bandido morto" lhe vem à mente um delinquente qualquer, de pistola em punho tentando roubar celular ou o seu relógio, certo? Não lhe vem à mente um assassino da própria filha, ou um vereador padrasto molestador, ou um ex-goleiro.

E mesmo que viesse, todos eles merecem - direito garantido pela Constituição - um julgamento justo e honesto!


Voltemos ao filme: Ricardo Darín, o melhor ator da América Latina em muito tempo, interpreta o promotor público, Julio César Strassera, responsável por acusar os militares numa corte civil, de crimes contra a humanidade na ditadura argentina, entre 1976 e 83.

Obviamente que Strassera enfrentaria todo o tipo de resistência, pois as instituições militares e policiais estavam unidas para absolver os acusados.


Ele também era visto com desconfiança pois durante o período militar pouco atuou para tentar frear os ímpetos terroristas de seus líderes.


Mas agora seria diferente; um novo governo, civil, democrático e livre de perseguições deveria ser imparcial, exemplar. Mas Strassera não encontrava apoio, aliados ou parcerias. Viu os próprios amigos virarem-lhe as costas a acusarem os ex-ditadores.


Contando com a ajuda de um jovem promotor adjunto, cuja famíila tinha fortes raízes militares, Strassera conseguiu juntar uma frente de jovens impetuosos e ávidos por uma Argentina livre, e assim encontrar provas e testemunhas que pudessem confirmar tudo aquilo que foi mostrado sobre os anos obscuros vividos no país.

Strassera e equipe!

É curioso observar que, enquanto os jovens tentam livrar o país de um passado obscuros, os mais velhos custam a crer que o que aconteceu era tão "drástico" assim. Até que--- as vítimas começam a falar.

Contando como sofreram nas mãos de um regime que, de bom nada tinha.


Era sádico, criminoso e destruidor.


E talvez, nas considerações finais do promotor esteja a chave para o maior sentimento de repulsa que poderíamos imaginar acerca de um regime que tentou se manter no poder ao invadir as Ilhas Malvinas e se jogar numa guerra impossível de ser vencida contra a Inglaterra, ou na tentativa vazia de evocar o "espírito" vencedor argentino com a conquista da Copa de 1978, em território hermano, e com resultados no mínimo, duvidosos.


Lembre-se que o Brasil saiu da Copa sem perder nenhuma partida.


Ao final de Argentina, 1985, sobra, claro, o sentimento que vivemos no Brasil sobre a nossa própria ditadura, sobre os excessos aqui também cometidos e como é fácil jogar toda essa sujeira para debaixo do tapete e seguir em frente.


Em entrevista ao El Comercio, por causa do filme, Darín falou algumas coisas interessantes a respeito de democracia e justiça. Veja abaixo:


Já se passaram 37 anos desde este julgamento[...]. Embora vivamos em democracia – como na maioria dos países latino-americanos – discursos violentos continuam a aparecer. A democracia falhou?

Ricardo Darín: O erro não é da democracia, o erro é cometido por nós, pensando que uma vez estabelecida a democracia, tudo já está resolvido. Não é assim. O trabalho é dia a dia. O compromisso tem a ver com o respeito pelos direitos humanos. Quando esses parâmetros são alterados, tudo começa a balançar e então – como diz um dos personagens – uma rachadura se abre, e lá os outros se aproveitam e dizem "você vê que eles não podem ser manuseados sozinhos? Eles precisam de uma mão forte."


O filme explora o aparato judicial, que geralmente tem uma avaliação minimamente cética dos cidadãos.

Ricardo Darín: Sim, além disso, ele mostra o número de obstáculos que as pessoas que têm esses papéis encontram. Acreditamos que porque um cara tem uma toga ou está atrás de um pódio ele tem clareza suficiente, mas eles são seres humanos. Eu não quero justificar ninguém, mas o número de obstáculos que eles encontram ao tentar ser justo e justo não é fácil. Temos o dever de exigir deles. Mas, essa história se intromete no que é a humanidade desses corredores.


Argentina, 1985, está na Prime Video.

Como contexto, aqui tem um texto sobre a ditadura argentina.

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