Assisti a esse espetáculo do cinema-catástrofe, chamado Moonfall.
Desde o trailer, eu via a história como uma comédia, no máximo involuntária, mas se o diretor Rolland Emerich for esperto, ele poderia do filme uma sátira mesmo.
E pena que não foi o que aconteceu, porque havia elementos para isso.
John Bradley, o Samwell de Games of Thrones, é o grande destaque [humano] de Moonfall, entregando uma interpretação inspirada e muito bem-humorada do fanboy, aquele personagem que sonha pisar na Nasa, mas como é impossível, ele transforma a sua vida num trampolim para o sonho em tempo integral.
Quando descobre que há algo de errado com a Lua, é óbvio que ninguém lhe dará crédito.
Pior: ele vai atrás da única pessoa que, naquele momento, poderia ter menos crédito perante à Nasa do que ele: Brian Harper, interpretado com muita, muita preguiça, por Patrick Wilson.
Harper está há 10 anos vivendo de carcar umas e fugir do aluguel, além de ser ignorado pelo filho, porque foi condenado num julgamento pra lá de sacana pelo Senado estadunidense quando, numa missão espacial, um astronauta morreu.
Harper foi condenado, mesmo salvando a pele da colega, Jo, interpretada por Halle Berry.
Essa condenação os afasta.
Jo havia sido casada com um militar - e possivelmente foi salva da corte marcial por isso, embora essa seja a minha teoria.
Voltamos ao presente: KC, ou doutor KC, que é como Bradley se apresenta, se passa por Harper para conseguir algumas informações e, quando ninguém lhe dá crédito e nem mesmo Jo responde aos seus emails, ele se refugia nas redes sociais para divulgar que a Lua saiu de sua órbita, o que pode ser mortal para nós, humanos.
Claro que, a partir daí nós estamos sentindo os espasmos de nosso satélite natural e é preciso fazer alguma coisa.
Jo começa a correr atrás disso e, numa investigação, descobre que a morte do colega uma década atrás não foi acidental e sim, uma forma de vida artificial que o atacara. E essa forma de vida saiu de dentro da Lua.
Sendo assim, seu ex-colega, Harper, foi inocente o tempo todo.
Bom, a Lua começa a ficar cada vez mais instável e isso vai impactando a vida na Terra, forçando as pessoas a buscarem proteção subterrânea.
Harper acaba sendo reconvidado a voltar à Nasa e salvar o mundo - o que ele aceita sob duas condições: tirar o seu filho delinquente da cadeia e levar KC consigo.
Eles, então, chegam à conclusão que essa forma de vida artificial - que parece a fumaça destruidora de Lost, que depois foi batizada de Homem de Preto em sua forma pura - precisa ser destruída para assim a Lua retomar sua órbita e nos deixar vivermos em paz.
Em meio a isso tudo, KC tem uma bela teoria sobre o ecossistema e porquê a Lua pode ser um elo entre os planetas e por causa disso essa anomalia pode indicar problemas graves, o que me remeteu à quarta temporada de Lost, quando a série sai do mistério e do sobrenatural para se embebedar na física quântica.
Sim, virou uma salada, que parece ter o mesmo sabor em Moonfall.
Aliás, Moonfall às vezes flerta com o universo de Independence Day. Esse negócio de multiverso nos passa a impressão de que tudo está conectado e você não se espantaria se, de dentro da Lua saísse um daqueles aliens que o Will Smith enfia a mão - não estou falando de Chris Rock, que fique bem claro!
De qualquer maneira, as coisas vão de mal a pior em questão de momentos e o trio principal do elenco precisa alçar voo e dar cabo da "fumaça" de Lost - que também pode ser aquelas "aranhas" de Matrix Reloaded [entendeu a salada?] - antes que a Terra seja visitada pela Lua.
Ao final das contas, Moonfall é um filme para se ver no cinema, dadas as suas imagens catastróficas, com visuais gigantescos que fazem todo o sentido na telona. Quanto ao elenco, Berry leva sua personagem com tranquilidade, sem muitas nuances. E, embora a atriz tenha dito que seu personagem havia sido escrito para um homem interpretar, eu duvido! Agora, seria muito mais fantástico se ela e Patrick Wilson invertessem os papeis, pois embora o nome dela apareça primeiro no cartaz, o filme é voltado para ele; seria muito bem-vinda uma versão de Halle Berry em que ela, uma mulher negra, em meio a dois homens, seja a única culpada por algo que aconteceu no espaço e que as câmeras em seus trajes poderiam desvendar toda a questão; mas elas são, convenientemente, descartas nos autos. E, com isso ela passasse dez anos de sua vida amargando um fracasso, destruindo um casamento e, praticamente, abandonando um filho em troca de auto-piedade.
E só voltaria à carga quando um curioso entusiasta de astronomia se passasse por ela para chamar-lhe a atenção.
Enquanto o personagem de Wilson só se manteve ileso porque a esposa militar mexeu os pauzinhos, deixando-lhe trabalhando na Nasa, num cargo protocolar.
De qualquer maneira, Moonfall é tão absurdo que se torna divertido, uma experiência que não se vê mais, infelizmente.
Agora que é mil vezes melhor que Interestelar, ninguém duvida!
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