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RESENHA | ROBIN HOOD - O PRÍNCIPE DOS LADRÕES MOSTRA UMA HOLLYWOOD QUE NÃO EXISTE MAIS

Foto do escritor: Vagner FranciscoVagner Francisco

Se eu lhe dissesse que um filme de Robin Hood, estrelado por Kevin Costner, abocanhou a segunda maior bilheteria de 1991, perdendo apenas para o hit Exterminador do Futuro 2, você acreditaria?


Pois foi exatamente o que aconteceu.

Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões, dirigido por Kevin Reynolds e estrelado por Costner, Morgan Freeman, Mary-Elisabeth Mastrantonio, Alan Rickman e Christian Slater ficou atrás apenas do então filme mais caro da história, Exterminador 2, e vencendo Esqueceram de Mim e O Silêncio dos Inocentes, como a segunda maior bilheteria do ano.


Kevin Costner, então, um astro hollywoodiano, embora de forma até tardia, vinha colecionando sucessos como ator, como Os Intocáveis, Sem Saída, Vingança, Sorte no Amor, O Campo dos Sonhos e, seu grande momento, Dança com Lobos, estrelado, produzido e dirigido por ele. Dança com Lobos mudou até mesmo a forma que Hollywood enxergava os índios, já que eles eram apresentados como anti-herois em faroestes e, a partir dali, eram celebrados como pessoas nobres.


Com tantos êxitos, seria inegável que os estúdios estivessem com o astro encabeçando listas de projetos, certo? E para você ter uma ideia, dois deles chegaram a disputá-lo para o mesmo papel.

Verdade!


A Fox estava desenvolvendo um projeto sobre Robin Hood, com direção de John McTiernan, que vinha de um caminho muito bem pavimentado com petardos como O Predador, estrelado por Arnold Schwarzenegger; Duro de Matar, estreia de Bruce Willis nos filmes de ação; Caçada ao Outubro Vermelho, com Sean Connery e Alec Baldwin.

Para o papel-título, o estúdio escolheu Costner, que chegou a se encontrar com os produtores.


A Warner, que também estava com ideias a respeito do ladrão da floresta de Sherwood, e via em Costner o Robin Hood certo para aquele momento, decidiu correr atrás do prejuízo e tratou de contratar Kevin Reynolds para a direção. Reynolds, amigo de longa data de Costner, a quem lhe deu seu primeiro papel de destaque em Fandango, seria a pessoa escolhida para convencer o astro a abandonar a Fox e assinar com a Warner. E o fez.


Quando a Fox soube, Robin Hood - The Prince of Thieves havia ganho sinal verde pela Warner, com Costner a bordo.

Os produtores não perderam tempo e correram atrás de um novo Robin Hood: Mel Gibson, que acabou recusando o papel porque havia lançado recentemente Hamlet, um filme estilo capa-espada e ele não queria ser eternamente ligado a filmes assim.

Assim, o estúdio decidiu cortar o orçamento do filme e, dos cinemas, ele acabou parando direto na TV e, apesar da estrela Uma Thurman, como Marion, o papel-título ficou com Patrick Bergin, um semidesconhecido.

Mas, apesar de uma vitória contra o estúdio rival, não pense que a Warner teve vida fácil com seu Robin Hood; primeiramente, após conseguir arrematar a vinda de sua estrela, as filmagens acabaram acontecendo de forma apressada, pois ainda existia o "fantasma" do Robin Hood da Fox, que poderia vir com Mel Gibson. E essa pressa acarretou em desentendimentos entre os Kevins: o astro reclamou o tempo todo a respeito de não ter tempo de criar um sotaque inglês para seu Robin de Locksley - o que virou motivo de piada com a estreia do longa. Além disso, ele se recusou a vestir um traje verde - cores típicas do heroi da floresta - e nem mesmo meias-calças apertadas, arquétipos de um Robin Hood eternizado por Erroll Flyn.


Além disso, todos esperavam ver uma aventura leve e divertida, com um salteador que rouba dos ricos e dá aos pobres em virtuosismos e galhardia, conquistando o coração de Maid Marion e de todas as plateias do mundo.

Não, Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões aterrissava com nuances sombrias, paganismo, preconceitos e até mesmo rancores.


No filme, Robin de Locksley volta das cruzadas, após cinco anos para descobrir que seu pai fora morto por ter sido acusado de adorar ao diabo.

Como o caçador de bruxas maior está o Xerife de Nothinghan, louco por poder, aproveitando que o rei, Ricardo Coração de Leão, estava ausente, para enriquecer com seus planos de controle.

Obviamente que o Xerife não imaginaria que Robin voltaria vivo e esse retorno causou mal-estar entre os dois.

Sem o pai e com um mouro, chamado Azeem - papel de Morgan Freeman - a seu lado, Robin acaba se refugiando na floresta "mal-assombrada" de Sherwood apenas para descobrir que lá se abrigavam todos aqueles que eram perseguidos pelo Xerife.

João Pequeno, Will Escarlate, entre outros, roubavam para sobreviver e tinham suas cabeças a prêmio por Notthinghan.

Assim, reforçados por Robin e Azeem, eles decidem contra-atacar.

Em meio a esse imbróglio há Maid Marion, prima do rei e irmã de Peter, melhor amigo de Robin que morre nas cruzadas e pede ao amigo para cuidar da irmã.

O problema é que Marion desprezava Robin pelo seu passado como um nobre mimado.


Provando a Marion que a guerra muda uma pessoa, Robin passa a ser uma dor de cabeça para o Xerife, que aumenta impostos, incendeia casebres e ameaça os mais pobres que acabam fugindo para a floresta.


Assim, Robin vê a oportunidade de transformar pobres-coitados em soldados num exército contra o fascismo.


O mais interessante de Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões é que, apesar de ser produzido em 1991, seu tema não deixa de ser atual; por exemplo, o Xerife, embora esteja sempre presente nas missas dominicais, com o padre local em sua folha de pagamento, segue o paganismo de uma suposta bruxa que o orienta em suas decisões; ora quando lhe ordena que se case com uma nobre para botar seu herdeiro no trono, ora quando vê suas próprias mortes nas mãos de um estrangeiro. Na luta final, vemos inclusive uma cruz de cabeça para baixo nos aposentos da bruxa.

O padre local trai até a mãe por dinheiro, dando falso testemunho, conspirando contra a coroa e entregando inocentes às mãos do Xerife.


Robin sofre do arrependimento por não ter perdoado o próprio pai, quando este se envolveu com outra mulher, após a morte da mãe dele. O pai de Robin sofreu com o desprezo do filho e com isso desprezou o segundo filho, bastardo, deixando-o à própria sorte, sem dinheiro ou herança.


Além disso, havia ainda um estrangeiro, um mouro, árabe, muito inteligente e preparado para a guerra, hábil e culto, que acompanha o protagonista quando sua vida é salva por este e lhe promete retribuir o favor.

Criado especialmente para o filme, o Azeem de Morgan Freeman dá diversidade à trama e o carrega de bom-humor e qualidade.


Aliás, o roteiro é muito bem-humorado, com personagens que sequer se levam a sério e talvez esse seja o seu maior charme.

Todos trazem bom-humor à trama, talvez com exceção do Will Escarlate de Christian Slater, por motivos óbvios, de resto ninguém parece se preocupar muito com nada.

Inclusive, o Xerife de Notthinghan possivelmente seja o personagem da vida de Alan Rickman, devorando cenários e se deixando levar pela loucura de um personagem verdadeiramente sem limites.

Uma pena que Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões foi também o início do fim da amizade entre os Kevins; quatro anos depois, eles reuniram para uma briga [quase] definitiva quando o diretor Reynolds sequer ficou para editar Waterworld - O Segredo das Águas, o grande fiasco da carreira de Costner que, apesar de se recuperar nas bilheterias japonesas, viu seu status de astro naufragar definitivamente.


Os dois voltaram a se reencontrar em Hittfields & McCoys, bela minissérie produzida pelo History Channell, mas sem o peso de uma produção hollywoodiana.


E, embora já tenha 31 anos, Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões foi o último grande filme estrelado pelo ladrão virtuoso: em 2010, uma produção que deveria ser a desconstrução da lenda de Sherwood se tornou apenas um filme enfadonho; nesse video, eu falo um pouco mais sobre isso.

Oito anos depois, Hollywood tentou novamente, com um elenco jovem e baseado no universo compartilhado da Marvel, havia a possibilidade de vários personagens estrelarem seus próprios filmes. Partindo de Robin Hood: A Origem, vemos a requentada história de Robin de Loxley, interpretado por Taron Egerton. Com Jamie Foxx no elenco, o longa não chega lugar algum.


E pensar que, quando Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões chegou aos cinemas, os críticos diziam que tal filme jamais suplantaria o longa de Erroll Flyn. Mal sabiam eles o que viria a seguir.




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