A trama de Samaritano é bem simples.
No passado, havia um protetor da cidade, chamado Samaritano; cujo irmão, Nêmesis, era o seu grande vilão.
Nêmesis construiu uma marreta que poderia derrotar o Samaritano.
E numa dessas batalhas hercúleas, os irmãos se engalfinharam num imóvel em chamas.
O desfecho da luta foi um ingrato empate, com ambos supostamente mortos.
A polícia encontrou nos destroços as máscaras dos irmãos-arquiinimigos e a marreta de Nêmesis.
A lenda de Samaritano se manteve: um escritor escreveu um romance a respeito de toda essa tragédia e muitas pessoas ainda mantinham a esperança do retorno do heroi.
Uma dessas é um menino de 13 anos, cujo pai era um assaltante que acabou falecendo; não preciso dizer que esse mesmo garoto, chamado Sam, nutre pelo outrora campeão da cidade uma admiração sem precedentes.
Sam, não obstante, tem seus próprios problemas: vive com a mãe, uma vida miserável, por falta de dinheiro e quase despejo, numa vizinhança pobre e violenta.
A cidade retratada em Samaritano lembra muito a Fuga de Los Angeles criada por John Carpenter, onde Snake Plissken precisa matar um tirano que tomou o poder na cidade costeira.
O garoto, então, começa a desconfiar que seu vizinho seja o Samaritano.
Estamos falando de Joe Smith, papel de Sylvester Stallone. Joe é um idoso solitário, cujo hobbie é tentar consertar quinquilharias que encontra no lixo e vender a outro velho.
Joe ganha a vida como coletador de lixo, mas quase não o vemos fazendo isso no decorrer do filme.
Claro que a interação entre ele e Sam vai ganhando espaço enquanto a amizade cresce.
Sam tem seus problemas e acaba por atrair Joe a esse universo, o que curiosamente o liga a uma espécie de seguidor dos "preceitos" de Nêmesis, um bandido chamado Cyrus, papel de Pilou Asbek, que chama atenção por sua semelhança com o ex-editor da SET, Roberto Sadovski.
Cyrus consegue roubar a máscara e a marreta de Nêmesis e inicia um reinado de terror na cidade, com palavras de ordem e manipulações.
Quando o bandido descobre que supostamente Joe e Samaritano são a mesma pessoa, ele decide partir com tudo para cima dele; no entanto, Joe tenta sair da cidade, para evitar toda e qualquer repercussão.
Mas tudo dá errado e Joe é obrigado a reencontrar seu passado, seja qual for.
Samaritano era um projeto pessoal de Sylvester Stallone que, inclusive, o desenvolveu através de sua produtora, a Balboa Pictures; deveria ter ido aos cinemas pelo selo MGM, mas a pandemia acabou adiando o projeto, que foi parar na Amazon quando esta comprou a MGM.
Embora o nome do heroi protagonista seja o mesmo do personagem de Astro City, ambos os Samaritanos nada têm a ver um com o outro; enquanto a HQ de Kurt Busiek mostra um Samaritano mais próximo do Super-Homem, este Samaritano de Stallone parece mais com o Guardião, criação de Jack Kirby, coadjuvante de Jimmy Olsen, em sua revista; um heroi urbano, com um capacete e escudo.
Samaritano, como filme, é uma boa aventura, que não foge muito daqueles personagens característicos do astro de Rocky, mas, mesmo não se aprofundando muito, mostra como é fácil de se justificar atrocidades; como jovens frágeis acabam sucumbindo à tentação do mundo do crime quando seu universo nada tem a lhe oferecer.
Acredito que poderia-se mostrar um pouco mais de Joe como coletador de lixo e até mesmo traçar um paralelo em limpar a cidade do lixo propriamente dito e de outro tipo: a corrupção, o crime e a destruição da sociedade como um todo.
Dificilmente veremos um Samaritano 2 e nem é preciso, pois a história acaba ali.
Quanto a Stallone, talvez seja o momento do astro mudar o tom de seus filmes e partir para histórias diferentes, sem muita ação.
Aos 76 anos, a idade começa a lhe cobrar o preço do tempo.
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