
Dificilmente, sequências conseguem ser tão boas quanto seus filmes originais.
Algumas exceções são O Exterminador do Futuro 2, Rambo 2 - A Missão, Pânico 2, Homem-Aranha 2 [de Sam Raimi] e talvez em empate entre os dois primeiros Aliens.
Além desses, Um tira da Pesada 2 também consegue suplantar o original.
Produzido por Jerry Bruckheimer e Don Simpson, Um Tira da Pesada contaria a história de um policial de Detroit, no Michigan, que vai até Los Angeles investigar a morte de seu irmão, que havia se envolvido com pessoas perigosas na região.
Ah, mas o Axel não tem irmão? Uai--- então, quem morreu? Ah, o amigo de infância, que era quase um irmão, certo?
Pois é, mas no original era irmão mesmo. E o filme deveria ter sido estrelado originalmente por Sylvester Stallone. Que rejeitou o projeto. E quando percebeu que essa história de buddycop era boa, tratou de fazer o seu Stallone Cobra.
Então, tentaram fazer do policial de Detroit, um policial do texas; um caipira que vai até Beverly Hills resolver as coisas a bala. E ofereceram o papel a Clint Eastwood. Que também não quis.
O papel acabou caindo nas mãos de um comediante ainda em início de carreira, mas com alguns sucessos na manga, como 48 Horas - que eu já citei por aqui - e Trocando as Bolas.
E Um Tira da Pesada fez um grande sucesso.

Três anos depois, veio a esperada sequência, num momento de vacas obesas para Murphy: ele vinha dos sucessos - além do primeiro Um Tira da Pesada - O Rapto do Menino Dourado e diversos shows de comédia.
E Um Tira da Pesada 2 chegou com um visual novo; roteiro bolado pelo próprio Murphy, co-produzido por ele também.
Tudo funciona muito bem na longa: desde a direção estilo videoclip de Tony Scott até a trilha sonora bastante pop.
A trama é simples e direta: uma quadrilha decide roubar joalherias, jockey clubes e o que mais vier, deixando sempre uma mensagem criptografada pronta para ser decifrada.
Além disso, testemunhas relatam que um dos ladrões é uma mulher com quase 1,90m de altura.
E para piorar mais um pouquinho, eles acertam o chefe de polícia, Andrew Bogomil, principal responsável por Axel Foley ainda ter o seu emprego ao final do primeiro flme, de 1984.
Axel parte para Beverly Hills e ajuda seus amigos, Rosewood e Taggart a desvendarem o mistério da "quadrilha do alfabeto", como os ladrões ficaram conhecidos e prendê-los.
Um Tira da Pesada 2 termina deixando a obrigatoriedade de uma sequência. Que veio. Em 1994, sete anos depois e sem o menor charme da série.

Além disso, o próprio Eddie Murphy já estava vivendo uma crise, pois seus sucessos haviam ficado para trás: após Um Tira da Pesada 2, ele conheceu o topo do mundo, com Um Príncipe em Nova York, seu maior êxito financeiro - tanto que um de seus filmes seguintes, cujo título original é Boomerang [uma analogia ao fato de o protagonista, um mulherengo de carteirinha, que descartava suas conquistas tão rápido quanto as conseguia, vive o outro lado da moeda, quando uma mulher faz o mesmo com ele, dando-lhe o "efeito-bumerangue" do título]. Mas aqui o filme saiu com o nome "O Príncipe das Mulheres".
Entre esses, ainda surgiu aquele que deveria ser um sucesso ainda maior, afinal Murphy estrela, escreve, produz e dirige: Os Donos da Noite, co-estrelado pelo grande ídolo do astro, Richard Pryor, o filme foi um fiasco. Sem graça, enfadonho e, pior, ganha a pecha de ser exageradamente violento.
A partir daí, tudo se degringola.
Um Distinto Cavalheiro, que é um filme bom, mas parece ter sido feito para a TV, tamanha a baixa qualidade de sua produção.
E nem mesmo o retorno a um de seus maiores sucessos bastou: 48 Horas parte 2 não segurou a carreira em queda livre do astro.
Então, a tentativa desesperadora veio: Um Tira da Pesada 3 poderia ressuscitar um prestígio. Não aconteceu.
Porque nada funciona no filme. Nem direção, roteiro ou produção, elenco, nada!
Para você ter uma ideia, a trama começa com a morte do chefe de Axel em Detroit, levando-o a Los Angeles de forma gratuita, para terminar num parque de diversões de forma até constrangedora.
Após o fiasco, Murphy tentou se manter em equilíbrio, se reinventando como um vampiro, em Um Vampiro no Brooklin, dirigido por ninguém menos que Wes Craven pré-Pânico; num reboot de O Professor Aloprado - que, de fato, lhe deu sobrevda - e até mesmo como um policial em O Negociador. Dr. Dolitle, a voz em Mulan e Os Picaretas o mantiveram em evidência; mas faltava um sucesso arrebatador para devolver-lhe a carreira.
E Um Tira da Pesada 4 estava sempre no radar.
No entanto, faltava um roteiro decente: o primeiro que apareceu seria a morte de seu grande amigo, em Beverly Hills, Billy Rosewood, que se tornou o chefe de polícia no terceiro filme. Isso seria o start para mais uma investigação a la Axel Foley. Porém, o ator que interpreta Billy, Judge Reinhold, não estava disponível.

Anos se passaram e uma nova tentativa: Eddie Murphy, cansado de ler tantos roteiros ruins que não levavam a lugar algum, decidiu levar o projeto para a TV, numa série estrelada pelo filho de Axel. Os produtores deram sinal verde para um piloto, imaginando que Axel apareceria em todos os episódios; quando perceberam que não, puxaram a tomada.
O diretor que, por mais tempo ficou ligado ao filme foi Brett Ratner, de X-Men 3 e a trilogia A Hora do Rush. Mas, com as denúncias de diversas atrizes sobre seu comportamento assedioso e tóxico, o diretor/produtor foi expurgado de Hollywood.
Adil El Arbi e Bilall Fallah substituíram Ratner por um tempo e iriam dirigir o filme após saírem de Bad Boys Para Sempre, mas acabaram saindo também.
Agora, o filme foi para as mãos de Mark Molloy, conhecido por dirigir comerciais.
Um Tira da Pesada 4 terminou suas filmagens, com roteiro sob sigilo e terá distribuição mundial pela Netflix.
No entanto, seria interessante talvez uma sequência direta do segundo filme, ignorando o terceiro.
A pegada de Um Tira da Pesada 2 é muito boa para ser ignorada.
Ronnie Cox, John Ashton, Bridgitte Nielsen, estão todos vivos. Seria perfeito um retorno de todos eles; talvez com a personagem de Nielsen, Karla Fry, pondo em prática sua vingança contra Axel em plena Detroit!
O filme ainda não tem data de estreia, mas é possível que aporte no catálogo da Netflix ainda em 2023.
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