No início dos anos 1990, eu era um adolescente ávido por HQs, cinema, rock e fliperama.
O vídeo game chegou à minha casa através de meu pai, que nos comprou um Odissey, lançamento da época. Ele tinha um amigo, gerente das Casas Pernambucanas, que lhe vendeu o game.
Muito antes das Tartarugas Ninja, havia apenas Tartarugas, um jogo em que precisávamos ajudar a mamãe tartaruga a livrar sua prole dos temíveis besouros que queriam devorá-los - enredo muito parecido com Pac-man.
Havia também Faroeste e você tentava sobreviver aos duelos ao Sol; Didi na Mina Encantada, uma aventura do personagem de Renato Aragão na busca por ouro.
E assim por diante.
Os anos se passaram e acabei por conhecer os fliperamas. E o primeiro deles foi Kung-Fu Master, uma aventura baseada em dois filmes estrelados por Jackie Chan. No jogo, Thomas precisa salvar seu amor, Sylvia de uma casa de muito perigos, além de enfrentar o arquivilão, que sequestrou a moça.
Depois vieram Street Fighter e Mortal Kombat, além de Shinobi e Karate - esse jogo inclusive aparece no filme O Grande Dragão Branco. O diferencial de Karate é que não havia botão para você dar golpes, mas sim dois controles. Era muito inovador, embora super lento.
Na época eu já estava criando meus personagens - geralmente equipes de super-herois, um vez que era fã de Vingadores. Meu amigo, na época, e também parceiro de quadrinhos já não aguentava mais ter que desenhar uma multidão de personagens e sugeriu criarmos personagens solitários, a exemplo de Demolidor - o Homem Sem Medo.
Então, estava eu lendo uma reportagem no jornal - era o meio em que nos atualizávamos na época - sobre o então novo filme estreado por Edward Furlong, o jovem astro de O Exterminador do Futuro 2 e Cemitério Maldito 2: ele seria um jovem que defenderia a nossa realidade contra um déspota maluco vindo do mundo dos games. E, para isso, Furlong teria que entrar no jogo e peitar o vilão em seu próprio território.
O filme chama-se Brainscan e foi lançado em 1994, um fracasso retumbante.
A notícia porém me fez pensar a respeito: e se eu girasse o parafuso para o lado contrário e, ao invés de ir ao mundo de Brainscan, ele invadisse o nosso e tentasse nos conquistar?
Fui então até meu amigo desenhista - chamado Anderson Cossa - e lhe propus a ideia. Não me lembro exatamente qual foi a sua reação, porém, Frank & Walter começaram a ser delineados a partir dali.
Pegamos a dupla Ken e Ryu como base, pois os personagens, basicamente são dois lados de uma moeda e partimos dali para a nossa dupla, além de incluirmos coadjuvantes, como o interesse amoroso de Frank, tal qual o Thomas de Kung-Fu Master também tinha. Ela recebeu vários nomes até chegarmos em Mércia - que era um nome que eu gostava muito, embora fosse incomum.
O vilão, a princípio surgiu de um antigo game que eu jogava no Odissey, Senhor das Trevas: comecei o chamando de Senhor do Mal, depois ele foi rebatizado como Frejatt.
Assim Frank & Walter foram ganhando corpo, com novas ideias, tramas, arquétipos e formatos de história.
Até 1997, bolei três minisséries para eles: a primeira os apresentava ao mundo, com sua origem e toda a trama que os rodeava; a segunda, se passava no mundo do vilão, com novos personagens e desafios.
E uma terceira que fugia totalmente daquilo tudo.
Cossa não estava muito satisfeito com essa terceira porque a história ficou um pouco dramática e se distanciava daquilo que havíamos concebido até então.
Decidi transformar Frank & Walter III noutra coisa e assim foi.
Bolei um novo terceiro capítulo e um quarto, o que deixava tudo complementar.
Mas nada disso viu a luz.
Os anos 2000 vieram com algumas tentativas, mas ficou nisso mesmo. Cheguei a reescrever a primeira minissérie duas vezes em menos de 10 anos e três desenhistas toparam desenhar.
Mas, não aconteceu.
Nesse ínterim, Cossa e eu produzimos It's My Life, seis páginas que mostram uma invasão alienígena no dia de um show de rock e No Congestionamento, que deveria ser algo totalmente diferente, pois eles não enfrentam ninguém.
Além disso, escrevi o encontro entre Frank e o Suicida, personagem criado por Gerson Witte, durante uma invasão alienígena - talvez a sequência de It's My Life? - desenhado por Greifo. Outra invasão, em Atire para Assustar, com arte de Joseph Paiva - ele chegou a começar a esboçar uma sequência, porém precisou se afastar.
E chegamos à última HQ produzida para os personagens, Ascensão para a Divindade, desenhada por diversos amigos: Paulo Sbragi, Rafael Silva, Tiago Silva e Eliel D'Oliveira. Zilson Costa arte-finalizou alguns capítulos e Adriano Félix coloriu tudo.
Frank & Walter foi um marco na minha vida porque me ajudou a bolar histórias, delinear conflitos e até mesmo aprofundar personalidades.
Infelizmente não chegou a ver a luz, porém acredito que há histórias cuja importância seja a de te fazer evoluir, pura e simplesmente.
E o futuro, a Deus pertence, certo?
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