Há aproximadamente 40 anos, os Herois Mais Poderosos do Mundo, Os Vingadores receberam uma sequência de pancadas que não pareciam ter fim.
Começando de forma até dramática, quando o vilão robótico Ultron consegue realizar uma lobotomia em seu criador - a quem ele chama de "pai" - Henry Pym, o Homem-Formiga original, jogando-o contra os ex-colegas de equipe; passando por uma derrota constrangedora ante o poder divino de Conde Nefária chegando a um encontro com O Guardiões da Galáxia e eclodindo numa batalha de proporções cósmicas contra Korvac, o poderosíssimo vilão do século XXX.
A equipe recebeu tanta pancada que a própria mansão acabou sendo a manifestação dessas derrotas, com rombos e arroubos, tornando-se uma presa fácil para invasores e o que mais pudesse vir.
E o que veio foi exatamente o governo dos EUA, na figura do interventor, Henry Peter Gyrich, cujas ações levaram a equipe a quase perder seu status de livre acesso ao espaço aéreo estadunidense e operação dentro do país.
Para manter esse status, a equipe, então liderada por um Homem de Ferro que passava por uma fase bastante delicada em sua vida, precisou aceitar tudo o que Gyrich exigisse - e mais um pouco.
Como ele mesmo deixou claro em alguns momentos, nas páginas da revista, escrita por David Michelinie - que também cuidava dos roteiros do Homem de Ferro - Gyrich era o Governo.
Gyrich exigiu uma organização de estatutos, além de limitar de forma oficial número de membros ativos; além de, claro, ele mesmo liderar a escolha dos participantes, negando ao grupo a possibilidade de discutir tal situação.
E, num momento em que não se falava em militância ou minorias, o governo dos EUA decidiu formar a equipe com base em poderes, capacidades e representatividade.
Nesse sentido, chega a ser risível, porém bastante elucidativo, quando a equipe de Gyrich inclui um novo membro que sequer havia participado anteriormente dos Vingadores, simplesmente por causa da cor de sua pele.
Sim, porque havia apenas 1 membro negro nos Vingadores, justamente o Pantera Negra que, como soberano de Wakanda, não poderia atuar de modo ativo com a superequipe. Como não havia outra pessoa negra por ali, Gyrich e seus subordinados, se viu na obrigação de buscar o ex-parcceiro do Capitão América, Falcão para preencher a cota.
Mas, então, a equipe era formada por apenas homens brancos? Não. Havia 1 sintozoide, o Visão; dois mutantes, Feiticeira Escarlate e Fera; e mais 1 mulher, a encantadora Vespa. Complementam a equipe dois homens brancos, Homem de Ferro e Capitão América.
Gavião Arqueiro protestou bastante, mas não poderia fazer parte da equipe, uma vez que também era homem e branco.
Mas a participação de Gyrich não terminou aí. Tudo o que pôde fazer para manter a equipe na rédea curta, o fez. Inclusive, quando a Feiticeira Escarlate fora sequestrada em seu próprio país e o homem-governo proibiu a equipe de ir resgatá-la.
Capitão América se viu na obrigação de telefonar ao próprio Presidente para conseguir a liberação de ir ao resgate da membro ativa da equipe.
Toda e qualquer ação da equipe passou a ter consequências; e não foi uma ou duas vezes em que eles tiveram que enfrentar tribunais.
O Fera, um dos personagens mais inteligentes do Universo Marvel, começou a compreender a mente de Henry Gyrich e inclusive ilustra muito bem como convencê-lo a tratar os Vingadores com o respeito que eles merecem.
Afinal de contas, quem seria capaz de enfrentar a ameaça do Gárgula Cinzento, uma vez que o toque do vilão transforma suas vítimas em pedra? Ou o Homem-Absorvente que, a rigor de seu nome, pode absorver a superfície de tudo o que toca?
Gyrich? Sua equipe de especialistas em montagem de equipe?
A era Henry Peter Gyrich à frente dos Vingadores nos ensina que, poder - aquela determinação que pode impedir ou não as pessoas de irem e virem - por poder causa mais estragos que livra; e esse poder governamental pode inclusive vencer deuses. Mas não consegue livrar a cidade, o país, o mundo, de um tirano que solta raio pelas luvas.
Que é preciso sim, organização, regulamentação e até mesmo acompanhamento.
Mas o poder arbitrário pode botar tudo a perder quando alguém que não entende do assunto começa a dar palpites.
Ou pior, ordens.
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