Jonathan Hickman surgiu como roteirista no Ultiverso, depois fez um trabalho bastante interessante na revista dos Vingadores, revitalizando o título, recuperando ideias da editora de 30 anos atrás e fundindo universos.
Esses conceitos sempre o acompanharam e quando chegou aos títulos X, para botar ordem na casa, usou e abusou disso.
Assim como Chris Claremont, Louise Simonson e Bob Harras iniciaram esse processo, nos anos 80, de afastar os mutantes do restante do universo Marvel, Scott Lobdell e Fabian Nicieza continuaram – e Peter David fez mais: afastou o X-Factor do universo X, já afastado do universo Marvel – nos anos 90.
Aos poucos, principalmente quando Joe Quesada assumiu como editor-chefe, os mutantes foram voltando para o universo como um todo e nos anos 2010, eles chegaram a ser substituídos pelos Inumanos, numa jogada, para dizer o mínimo, ridícula.
Então, Hickman chegou, guardou suas coisas na gaveta, limpou a mesa, pegou o notebook e tratou de arquitetar o novo universo X.
Os X-Men voltaram a se afastar do resto da humanidade e vivendo em Krakoa, tentam manter a paz, numa piscadela aos Inumanos, sempre reclusos, que tentaram substitui-los uma década atrás.
O fato é que o autor organizou o universo X e aparentemente o público tem gostado do que está lendo.
Mas---
Ele está de saída.
Sim, Jonathan Hickman deixou o posto de arquiteto do universo X para se dedicar a um projeto coletivo e pessoal.
Mas como um projeto pode ser pessoal e coletivo ao mesmo tempo?
Vamos lá.
Segundo o próprio, no início da pandemia, as distribuidoras paralisaram suas atividades, a princípio por tempo indeterminado. Isso fez com que as editoras investissem em quadrinhos digitais - as webcomics.
Hickman, temoroso com o futuro obscuro que teimava em aparecer no horizonte, decidiu escrever o idealizar conceitos paralelos que pudessem ser explorados justamente em plataformas online.
No entanto, a pandemia arrefeceu e com isso o mercado se recuperou.
Mas, as ideias não foram abandonadas, apenas seriam reorganizadas.
Essa experiência de não ter revistas em bancas – no caso, comic shops – e os leitores ficarem órfãos de suas sagas preferidas, fez com que o autor idealizasse algo nesse sentido.
Então, surgiu 3 Mundos, 3 Luas, um universo-conceito, cujo planejamento desembocará em títulos individuais e coletivos. O planejado é entregar uma experiência totalmente diferente de quadrinhos do que vemos hoje.
Hickman entende que as revistas mensais de vinte e poucas páginas estão num formato engessado e se pergunta se não poderia fazer algo diferente.
É aí que entra a Substack, uma plataforma que permite a autores disponibilizar seu material e liberá-lo em caráter de assinatura, tal qual uma plataforma de streaming.
Outros artistas estão tomando a mesma decisão de Hickman e parece que Scott Snyder também já se despediu de Batman, em direção a seus próprios títulos.
Mas, isso é bom? Depende---
Para as editoras, é péssimo, pois elas perdem grandes profissionais. E isso já aconteceu nos anos 90, quando Todd McFarlane, Jim Lee, Marc Silvestri, Rob Liefeld, Jim Valentino, Whilce Portacio e Erik Larsem deixaram a Marvel para fundar a Image. O mais interessante é que alguns deles nem se conheciam tão bem. Liderados pelo criador do Spawn, os artistas abandonaram a Casa das Idéias – com títulos em pleno desenvolvimento – para se dedicarem a seus próprios quadrinhos, e tudo se deu por causa de dinheiro.
Hoje, Jim Lee é um pau-mandado da DC – inclusive vendeu o próprio estúdio à editora; Marc Silvestri se aposentou; Whilce Portacio e Jim Valentino desapareceram da face da Terra; Rob Liefeld ganha a vida dando opiniões a respeito dos filmes do Deadpool no twitter; McFarlane e Larsem são os únicos que continuam na Image. McFarlane inclusive promete um universo expandido do Spawn, com várias revistas e novidades.
Mas, voltando à pergunta: isso é bom?
Para os artistas pode ser ótimo. Mark Millar saiu sem fazer barulho das majors e manteve um certo empreendedorismo enquanto iniciava o MillarWorld. Hoje, sabemos que a Netflix comprou o acervo e destruiu vexaminosamente O Legado de Júpiter.
Agora, para dar certo o negócio é preciso atrais leitores.
Afinal, escrever para DC ou Marvel é uma coisa; escrever para si mesmo e apresentar personagens inéditos nem sempre é sinal de sucesso.
E temos diversos exemplos disso.
De qualquer maneira, é um movimento ousado desses artistas; esses conceitos serão muito bem vindos e as plataformas de streaming, que a cada dia se multiplicam, podem ser o destino dessas HQs.
Torçamos para que dê certo.
Para assinar a Substack e receber as novidades, há planos variados, além de mimos, tal como num Catarse da vida. Além disso, sempre que um título é disponibilizado, o seguidor recebe aviso num esquema de newsletter.
Parece que esse é o futuro do quadrinho.
Aqui no Brasil, as plataformas de financiamento coletivo já fazem isso.
Agora, a Substack recebe esse voto de confiança de autores de alto calibre, o que faz a startup se tornar ainda mais valiosa.
Fique de olho no vagnerverso, assim que surgir mais novidades a respeito, nós traremos para você.
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